Por Marcos Hermanson, no jornal Brasil de Fato:
Os ataques do governo Bolsonaro à Cultura como um todo e à produção audiovisual em específico – com o travamento completo dos mecanismos de incentivo e financiamento público – podem levar ao colapso o cinema brasileiro, avalia o crítico e professor Pablo Vilaça em entrevista ao Brasil de Fato. Ainda que em um cenário adverso para o setor, nesta quarta-feira (19) é comemorado o Dia do Cinema Brasileiro.
“Em qualquer lugar do mundo, um governo autoritário, quando assume, tenta podar é a produção cultural. Assim que o Bolsonaro assumiu, primeiro ele acabou com o Ministério da Cultura. Segundo, barrou repasses de fundos para produções que já haviam sido aprovadas. A Petrobras, que é uma das principais patrocinadoras de produções audiovisuais, [teve] repasses barrados ou suspensos definitivamente. O Fundo Setorial [foi] bloqueado. Acabou, o cinema brasileiro não sobrevive, simples assim”, constata Vilaça, também edita o Cinema em Cena, um dos sites mais antigos sobre o tema no Brasil.
A paralisação do financiamento público via Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) ou leis de incentivo, ambas as linhas gerenciadas pela Agência Nacional de Cinema (Ancine), foi abordada por uma série de reportagens publicadas pelo Brasil de Fato nas últimas semanas.
Vilaça aponta o caráter ideológico do bloqueio. “O cinema, a arte de modo geral, tende a incentivar a empatia, você enxergar o mundo através do olhar do outro. É isso que esses caras não querem”, diz. Abaixo, a entrevista.
Como você resume o momento atual do cinema no Brasil?
Um dos mais difíceis do cinema brasileiro de modo geral. Os mecanismos de produção [com os quais] o Brasil conta hoje, como o Fundo Setorial do Audiovisual, estão sendo desmontados pelo atual governo.
Mas o cinema brasileiro vive um bom momento. Bacurau ganhou o Prêmio do Júri de Cannes, outros filmes tem ganhado destaque em festivais internacionais.
Você tem que lembrar que o cinema é uma arte que demora muito. Você não inicia um projeto de filme hoje e ano que vem ele está pronto para ser exibido. Esses projetos que nós estamos vendo agora estão há anos em produção. A minha preocupação não é o ano que vem. Minha preocupação é como o bloqueio hoje vai resultar nos filmes que nós não vamos ter daqui a quatro ou cinco anos.
O que os últimos dez ou quinze anos significam para o cinema brasileiro?
O cinema brasileiro, e eu falo isso sem medo de soar ufanista, é um dos mais ricos do mundo. Do ponto de vista estético, temático, de linguagem. Tem três cinematografias que nos últimos anos encantaram o mundo inteiro: a brasileira, a romena e a sul-coreana.
Dentro do Brasil, o cinema brasileiro é desprezado. Lá fora eu canso de ver as sessões de filmes brasileiros abarrotadas. Acho que tinham seis ou sete filmes brasileiros no Festival de Tribeca, há três anos. Todas as sessões virando fila, lotadérrimas. [No Festival de] Berlim, no ano passado, todas as sessões lotadas.
No Brasil a gente tem produção no Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No mesmo ano você vê produções do mesmo país, mas como elas são feitas em locais completamente diferentes, se você não conhece a língua, a impressão que você tem é que os países são muito diferentes.
Eu acho que isso é um fator importantíssimo, que acaba resultando em uma qualidade e versatilidade do cinema brasileiro que pouquíssimos países têm.
O que explica essa desvalorização do nosso cinema aqui dentro, enquanto ele é valorizado lá fora?
Vira-latismo. Vira-latismo puro e simples. Uma insistência em enxergar o que é nosso como inferior ao que é dos outros.
Quais são seus filmes brasileiros favoritos dos últimos dez ou quinze anos?
Engraçado você falar isso. Eu estava comentando em uma rede social o quanto o cinema brasileiro é rico. O cara virou e falou assim: ‘ah é? então me lista dez filmes produzidos nos últimos anos que valem a pena no Brasil’. Aí eu resolvi fazer uma lista de 2001 para cá. Ela tem 220 filmes.
Só para falar dos mais recentes, por exemplo, do ano passado: Tinta Bruta, Inholo, O Bicho Travesti, Dedo na Ferida, Organismo, Saudade, Açúcar, Gabriel e a Montanha, que foi exibido na semana da crítica em Cannes, no ano passado. Foram dez minutos de aplauso ininterruptos quando o filme terminou.
Se você voltar em 1928, um dos filmes mais importantes do cinema mundial é nosso, que é O Limite, do Mário Peixoto. Eu tive o privilégio de ter um encontro com o [cineasta Martin] Scorcese, no escritório dele. Eu perguntei sobre o cinema brasileiro, o que ele sabia sobre. Estava esperando que ele fosse citar Glauber Rocha, que é o cara que todo mundo conhece. Ele citou Glauber Rocha, Cacá Diegues, Mário Peixoto, citou Humberto Mauro, que é um cineasta mineiro da década de 30.
Imagina isso. A importância histórica do cinema brasileiro. Scorcese sabia muito mais do cinema brasileiro do que a maior parte dos brasileiros sabe.
São filmes desconhecidos aqui no Brasil, que não ganham notoriedade.
Vocês publicaram o texto do Antônio Biondi sobre o audiovisual. Ele comentou um negócio importantíssimo: qualquer país no mundo tem políticas de ocupação de telas. Se não tiver isso, os filmes hollywoodianos dominam tudo.
O último Vingadores foi lançado no Brasil e ocupou nada menos que 80% dos cinemas do país. Nos Estados Unidos eles ocuparam cerca de 10% e isso gerou uma revolta lá. Eram artigos e artigos falando do absurdo que era.
Pressionado, o Osmar Terra [ministro da Cidadania] assinou o decreto de regulamentação de telas, e falou que aquilo seria publicado [no Diário Oficial] naquela semana. Isso foi no início de maio, nós estamos no meio de junho. Por quê? Porque parou na Casa Civil. E por que parou? Isso é uma pergunta a se fazer.
Agora [o cinema brasileiro] está sendo desmontado pela classe política por um preconceito ideológico. E por que isso? O cinema, a arte de modo geral, tende a incentivar a empatia, você enxergar o mundo através do olhar do outro. É isso que esses caras não querem.
Ao comentar a exibição de Bacurau (Kléber Mendonça Filho, 2019) no Festival de Cannes deste ano você diz o seguinte: ‘a diferença de o Som ao Redor e Aquarius para Bacurau é a diferença entre um Brasil guiado pela inclusão social e o Brasil de Bolsonaro’. Explique essa afirmação.
No Som ao Redor tem uma cena divertidíssima, em que está havendo uma reunião de condomínio e uma pessoa reclama que a Revista Veja dela chegou fora do plástico. É um filme que gira muito em torno da insatisfação da classe média com a inclusão. Outra cena fantástica é um pesadelo, em que a gente vê meninos de rua saltando os muros do condomínio e invadindo as casas. É o pesadelo da classe média, dos pobres chegando e ocupando o seu lugar.
O Bacurau é um filme sobre raiva, sobre viver sob a opressão violenta e se levantar para lutar contra isso. Então não é um filme sobre insatisfação, é um filme sobre luta. Isso tem muito a ver com a percepção do Kleber em relação a tudo que está acontecendo.
Quais são os principais fatos que te dizem que a estrutura de financiamento do cinema brasileiro está sendo desmontada? Por que isso está acontecendo?
Em qualquer lugar do mundo, um governo autoritário, quando assume, tenta podar é a produção cultural.
Assim que o Bolsonaro assumiu, primeiro ele acabou com o Ministério da Cultura. Segundo, barrou repasses de fundos para produções que já haviam sido aprovadas. A Petrobras, que é uma das principais patrocinadoras de produções audiovisuais, [teve] repasses barrados ou suspensos definitivamente. O Fundo Setorial [do Audiovisual], bloqueado. Acabou, o cinema brasileiro não sobrevive, simples assim.
Existe algum projeto específico para acabar com as leis de incentivo fiscal?
O tempo inteiro. Você vê vários congressistas do PSL (Partido Social Liberal, legenda de Bolsonaro], constantemente usando essa expressão: “a Lei Rouanet tem que acabar”. Agora, é um governo tão ruim, tão incompetente, que eles não conseguem aprovar nada. É a nossa sorte.
Na sua análise do filme 7 dias em Entebbe (José Padilha, 2018) você diz que não gosta de José Padilha, classificando a atuação política dele como problemática, mas que como diretor você mantém sua admiração por ele.
José Padilha é um diretor excelente, só que, a partir do momento em que ele ganha destaque internacional, ele acaba sendo um representante do país lá fora. Ele é o cara que dirigiu Tropa de Elite 1 (2007) e Tropa de Elite 2 (2012), dois dos filmes mais bem-sucedidos comercialmente da história do Brasil.
E todas as vezes que abre a boca, a posição política dele não só é extremamente conservadora, mas desinformada. Você tem o Zé Padilha funcionando quase como um porta-voz da Lava Jato. Aliás, tanto foi, que ele produziu uma série absolutamente desonesta [O Mecanismo], que pinta como herói inquestionável o Sérgio Moro.
O Intercept não precisava ter vazado conversas dele [Moro] para eu saber isso. Todo mundo com o mínimo de inteligência e honestidade já sabia disso. O que você tem agora é comprovação. E o José Padilha é um cara que tem acesso à informação. Então é basicamente uma escolha que ele fez.
Em vários momentos, uma escolha profundamente desonesta, de pegar frases ditas por figuras reprováveis, com fonte conhecida, e colocar na boca do Lula.
O fato de o José Padilha ser tão talentoso como cineasta torna o discurso dele como ator político ainda mais perigoso. Ele passa essas mentiras, e passa de maneira que convence o público que não sabia daquilo.
Quem não sabia da autoria da frase do ministro Jucá [Romero, que em 2016 falou em fazer "um acordo com o Supremo e com tudo", para impedir a presidente Dilma Rousseff, vai acreditar que foi o Lula quem disse aquilo.
Você acha que a direita vai invadir as telas do cinema?
Não. Eles podem crescer em número de produções, como Polícia Federal - A Lei é Para Todos e 1964 - Entre Armas e Livros, mas invadir não tem como. Eles não tem voz nesse meio. Com exceção de José Padilha e alguns outros, é muito difícil você encontrar um artista realmente talentoso no meio audiovisual que seja de direita.
Então, não, invadir as telas, não, mas eles podem fazer o contrário, que é impedir que qualquer outro tipo de produção seja realizada.
Os ataques do governo Bolsonaro à Cultura como um todo e à produção audiovisual em específico – com o travamento completo dos mecanismos de incentivo e financiamento público – podem levar ao colapso o cinema brasileiro, avalia o crítico e professor Pablo Vilaça em entrevista ao Brasil de Fato. Ainda que em um cenário adverso para o setor, nesta quarta-feira (19) é comemorado o Dia do Cinema Brasileiro.
“Em qualquer lugar do mundo, um governo autoritário, quando assume, tenta podar é a produção cultural. Assim que o Bolsonaro assumiu, primeiro ele acabou com o Ministério da Cultura. Segundo, barrou repasses de fundos para produções que já haviam sido aprovadas. A Petrobras, que é uma das principais patrocinadoras de produções audiovisuais, [teve] repasses barrados ou suspensos definitivamente. O Fundo Setorial [foi] bloqueado. Acabou, o cinema brasileiro não sobrevive, simples assim”, constata Vilaça, também edita o Cinema em Cena, um dos sites mais antigos sobre o tema no Brasil.
A paralisação do financiamento público via Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) ou leis de incentivo, ambas as linhas gerenciadas pela Agência Nacional de Cinema (Ancine), foi abordada por uma série de reportagens publicadas pelo Brasil de Fato nas últimas semanas.
Vilaça aponta o caráter ideológico do bloqueio. “O cinema, a arte de modo geral, tende a incentivar a empatia, você enxergar o mundo através do olhar do outro. É isso que esses caras não querem”, diz. Abaixo, a entrevista.
Como você resume o momento atual do cinema no Brasil?
Um dos mais difíceis do cinema brasileiro de modo geral. Os mecanismos de produção [com os quais] o Brasil conta hoje, como o Fundo Setorial do Audiovisual, estão sendo desmontados pelo atual governo.
Mas o cinema brasileiro vive um bom momento. Bacurau ganhou o Prêmio do Júri de Cannes, outros filmes tem ganhado destaque em festivais internacionais.
Você tem que lembrar que o cinema é uma arte que demora muito. Você não inicia um projeto de filme hoje e ano que vem ele está pronto para ser exibido. Esses projetos que nós estamos vendo agora estão há anos em produção. A minha preocupação não é o ano que vem. Minha preocupação é como o bloqueio hoje vai resultar nos filmes que nós não vamos ter daqui a quatro ou cinco anos.
O que os últimos dez ou quinze anos significam para o cinema brasileiro?
O cinema brasileiro, e eu falo isso sem medo de soar ufanista, é um dos mais ricos do mundo. Do ponto de vista estético, temático, de linguagem. Tem três cinematografias que nos últimos anos encantaram o mundo inteiro: a brasileira, a romena e a sul-coreana.
Dentro do Brasil, o cinema brasileiro é desprezado. Lá fora eu canso de ver as sessões de filmes brasileiros abarrotadas. Acho que tinham seis ou sete filmes brasileiros no Festival de Tribeca, há três anos. Todas as sessões virando fila, lotadérrimas. [No Festival de] Berlim, no ano passado, todas as sessões lotadas.
No Brasil a gente tem produção no Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No mesmo ano você vê produções do mesmo país, mas como elas são feitas em locais completamente diferentes, se você não conhece a língua, a impressão que você tem é que os países são muito diferentes.
Eu acho que isso é um fator importantíssimo, que acaba resultando em uma qualidade e versatilidade do cinema brasileiro que pouquíssimos países têm.
O que explica essa desvalorização do nosso cinema aqui dentro, enquanto ele é valorizado lá fora?
Vira-latismo. Vira-latismo puro e simples. Uma insistência em enxergar o que é nosso como inferior ao que é dos outros.
Quais são seus filmes brasileiros favoritos dos últimos dez ou quinze anos?
Engraçado você falar isso. Eu estava comentando em uma rede social o quanto o cinema brasileiro é rico. O cara virou e falou assim: ‘ah é? então me lista dez filmes produzidos nos últimos anos que valem a pena no Brasil’. Aí eu resolvi fazer uma lista de 2001 para cá. Ela tem 220 filmes.
Só para falar dos mais recentes, por exemplo, do ano passado: Tinta Bruta, Inholo, O Bicho Travesti, Dedo na Ferida, Organismo, Saudade, Açúcar, Gabriel e a Montanha, que foi exibido na semana da crítica em Cannes, no ano passado. Foram dez minutos de aplauso ininterruptos quando o filme terminou.
Se você voltar em 1928, um dos filmes mais importantes do cinema mundial é nosso, que é O Limite, do Mário Peixoto. Eu tive o privilégio de ter um encontro com o [cineasta Martin] Scorcese, no escritório dele. Eu perguntei sobre o cinema brasileiro, o que ele sabia sobre. Estava esperando que ele fosse citar Glauber Rocha, que é o cara que todo mundo conhece. Ele citou Glauber Rocha, Cacá Diegues, Mário Peixoto, citou Humberto Mauro, que é um cineasta mineiro da década de 30.
Imagina isso. A importância histórica do cinema brasileiro. Scorcese sabia muito mais do cinema brasileiro do que a maior parte dos brasileiros sabe.
São filmes desconhecidos aqui no Brasil, que não ganham notoriedade.
Vocês publicaram o texto do Antônio Biondi sobre o audiovisual. Ele comentou um negócio importantíssimo: qualquer país no mundo tem políticas de ocupação de telas. Se não tiver isso, os filmes hollywoodianos dominam tudo.
O último Vingadores foi lançado no Brasil e ocupou nada menos que 80% dos cinemas do país. Nos Estados Unidos eles ocuparam cerca de 10% e isso gerou uma revolta lá. Eram artigos e artigos falando do absurdo que era.
Pressionado, o Osmar Terra [ministro da Cidadania] assinou o decreto de regulamentação de telas, e falou que aquilo seria publicado [no Diário Oficial] naquela semana. Isso foi no início de maio, nós estamos no meio de junho. Por quê? Porque parou na Casa Civil. E por que parou? Isso é uma pergunta a se fazer.
Agora [o cinema brasileiro] está sendo desmontado pela classe política por um preconceito ideológico. E por que isso? O cinema, a arte de modo geral, tende a incentivar a empatia, você enxergar o mundo através do olhar do outro. É isso que esses caras não querem.
Ao comentar a exibição de Bacurau (Kléber Mendonça Filho, 2019) no Festival de Cannes deste ano você diz o seguinte: ‘a diferença de o Som ao Redor e Aquarius para Bacurau é a diferença entre um Brasil guiado pela inclusão social e o Brasil de Bolsonaro’. Explique essa afirmação.
No Som ao Redor tem uma cena divertidíssima, em que está havendo uma reunião de condomínio e uma pessoa reclama que a Revista Veja dela chegou fora do plástico. É um filme que gira muito em torno da insatisfação da classe média com a inclusão. Outra cena fantástica é um pesadelo, em que a gente vê meninos de rua saltando os muros do condomínio e invadindo as casas. É o pesadelo da classe média, dos pobres chegando e ocupando o seu lugar.
O Bacurau é um filme sobre raiva, sobre viver sob a opressão violenta e se levantar para lutar contra isso. Então não é um filme sobre insatisfação, é um filme sobre luta. Isso tem muito a ver com a percepção do Kleber em relação a tudo que está acontecendo.
Quais são os principais fatos que te dizem que a estrutura de financiamento do cinema brasileiro está sendo desmontada? Por que isso está acontecendo?
Em qualquer lugar do mundo, um governo autoritário, quando assume, tenta podar é a produção cultural.
Assim que o Bolsonaro assumiu, primeiro ele acabou com o Ministério da Cultura. Segundo, barrou repasses de fundos para produções que já haviam sido aprovadas. A Petrobras, que é uma das principais patrocinadoras de produções audiovisuais, [teve] repasses barrados ou suspensos definitivamente. O Fundo Setorial [do Audiovisual], bloqueado. Acabou, o cinema brasileiro não sobrevive, simples assim.
Existe algum projeto específico para acabar com as leis de incentivo fiscal?
O tempo inteiro. Você vê vários congressistas do PSL (Partido Social Liberal, legenda de Bolsonaro], constantemente usando essa expressão: “a Lei Rouanet tem que acabar”. Agora, é um governo tão ruim, tão incompetente, que eles não conseguem aprovar nada. É a nossa sorte.
Na sua análise do filme 7 dias em Entebbe (José Padilha, 2018) você diz que não gosta de José Padilha, classificando a atuação política dele como problemática, mas que como diretor você mantém sua admiração por ele.
José Padilha é um diretor excelente, só que, a partir do momento em que ele ganha destaque internacional, ele acaba sendo um representante do país lá fora. Ele é o cara que dirigiu Tropa de Elite 1 (2007) e Tropa de Elite 2 (2012), dois dos filmes mais bem-sucedidos comercialmente da história do Brasil.
E todas as vezes que abre a boca, a posição política dele não só é extremamente conservadora, mas desinformada. Você tem o Zé Padilha funcionando quase como um porta-voz da Lava Jato. Aliás, tanto foi, que ele produziu uma série absolutamente desonesta [O Mecanismo], que pinta como herói inquestionável o Sérgio Moro.
O Intercept não precisava ter vazado conversas dele [Moro] para eu saber isso. Todo mundo com o mínimo de inteligência e honestidade já sabia disso. O que você tem agora é comprovação. E o José Padilha é um cara que tem acesso à informação. Então é basicamente uma escolha que ele fez.
Em vários momentos, uma escolha profundamente desonesta, de pegar frases ditas por figuras reprováveis, com fonte conhecida, e colocar na boca do Lula.
O fato de o José Padilha ser tão talentoso como cineasta torna o discurso dele como ator político ainda mais perigoso. Ele passa essas mentiras, e passa de maneira que convence o público que não sabia daquilo.
Quem não sabia da autoria da frase do ministro Jucá [Romero, que em 2016 falou em fazer "um acordo com o Supremo e com tudo", para impedir a presidente Dilma Rousseff, vai acreditar que foi o Lula quem disse aquilo.
Você acha que a direita vai invadir as telas do cinema?
Não. Eles podem crescer em número de produções, como Polícia Federal - A Lei é Para Todos e 1964 - Entre Armas e Livros, mas invadir não tem como. Eles não tem voz nesse meio. Com exceção de José Padilha e alguns outros, é muito difícil você encontrar um artista realmente talentoso no meio audiovisual que seja de direita.
Então, não, invadir as telas, não, mas eles podem fazer o contrário, que é impedir que qualquer outro tipo de produção seja realizada.
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