Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Lula não é para amadores, que o digam seus carcereiros lavajatistas de Curitiba.
Toda a discussão desencadeada esta semana sobre a libertação ou não de Lula serve para provar um fato incontestável, goste-se dele ou não: em qualquer condição, a vida política do país continua girando em torno do ex-presidente.
Está fazendo agora 30 anos, desde a sua primeira campanha presidencial, em que não passa um dia sequer sem que a imprensa fale dele e especule sobre o que Lula fez ou deixou de fazer, e o que está pensando sobre os próximos passos, o mundo e a vida.
Quem tiver dúvidas, vá ao doutor Google.
Na manhã desta terça-feira, 1º de outubro de 2019, a palavra Lula tinha 121.000.000 de citações. É isto mesmo: 121 milhões, mais do que a metade da população brasileira.
Para se ter uma ideia, o rei Pelé, o brasileiro mais conhecido no mundo, tem 32,8 milhões.
Como velho amigo dele e de toda a família há mais de 40 anos, e seu assessor de imprensa nas campanhas e no governo, já deveria ter aprendido esta lição: não tente lhe dar conselhos e dizer o que deve fazer.
“E o que você entende de política? Quantos votos você teve na última eleição?”, ele me peguntava no governo, e cortava o papo, quando eu queria dar algum palpite fora da minha área, que era cuidar das relações com a mídia.
Desde o tempo de presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, quando irrompeu na cena nacional, Lula sempre se moveu pela intuição e na fé cega naquilo que lhe ensinou dona Lindu, sua mãe.
Como Pelé, Lula enxerga na frente e vê o que os outros não conseguem enxergar para vislumbrar o próximo lance, mesmo cercado de adversários.
Até quando erra, encontra sempre um jeito de consertar na jogada seguinte, e segue em frente, sem olhar para trás.
Nunca dá para saber o que se passa na cabeça dele antes de tomar uma decisão importante como foi aquela de se entregar ou não à Polícia Federal, nas condições e no horário determinado pelo ex-juiz Sergio Moro, o seu carrasco juramentado.
Ouviu um a um as centenas de amigos e parentes acotovelados nos corredores do sindicato, cercado por uma multidão de seguidores, no dia 6 de abril do ano passado, mas sua decisão já estava tomada desde cedo.
Muitos achavam que ele deveria resistir ou pedir asilo político em alguma embaixada, mas isso nunca passou pela cabeça dele. Não tem a palavra fugir ou se esconder no seu dicionário.
Só se entregou no dia seguinte, no horário que ele determinou e com as condições que impôs.
A mesma coisa acontece agora.
Preso há mais de 500 dias numa cela em Curitiba, posso imaginar o martírio que é para ele ficar encarcerado numa solitária de 15 metros quadrados, longe dos filhos, dos netos e da bisneta, ainda mais agora que está com namorada nova.
Lula sempre viveu cercado de gente, muita gente, arrastou milhões de pessoas em todo o país nas suas cinco campanhas presidenciais e nas muitas caravanas que fez, várias vezes, pelo país inteiro, de ponta a ponta.
Qualquer um de nós, simples mortais, correria para a liberdade, na primeira chance dada pelos carcereiros e justiceiros lavajatistas, quaisquer que fossem as circunstâncias.
Mas, ao contrário de jornalistas como eu, metidos a dizer o que os outros devem fazer e o que é melhor para eles, Lula tem seu próprio jeito de tomar decisões, e dele nunca abriu mão.
Não é frescura. Isso não quer dizer que ele está sempre certo, pois já tomou muitas decisões erradas das quais se arrependeu, mas nunca admitiu isso publicamente.
Como os matutos do sertão pernambucano de onde veio, embora hoje seja um homem do mundo, Lula traça uma linha imaginária e toca a boiada por caminhos que a gente só descobre depois.
Mais do que a liberdade, o que Lula perseguirá até a morte é provar a sua inocência, ainda que esse seja o caminho mais difícil, cheio de pedras e armadilhas togadas e fardadas.
Qualquer que seja, é preciso, no mínimo, respeitar a decisão a ser tomada por Lula e seus advogados.
Fico abismado ao ler e ouvir tantas sandices sobre Lula na imprensa e nas redes sociais, mas hoje fiquei com a alma lavada ao ler o artigo “Lula livre?”, do meu colega e amigo Juca Kfouri, na Folha, que já visitou Lula na cela em Curitiba.
Com a clareza de costume, Juca escreve:
“Há, na imprensa, quem chame de sala Vip o cubículo em que ele está preso há um ano e meio (…) Lula estaria apenas jogando para a torcida, segundo dizem crer. Incapazes de reconhecer a grandeza do gesto de alguém que, por indignação, por se considerar injustiçado, diz que não é pombo correio para usar tornozeleira eletrônica e se recusa a ser solto a não ser inocentado”.
Em poucas palavras, Juca resumiu o que também penso e sinto:
“Neste país de Silvérios e Paloccis, a cafajestagem tem espaço na mídia para gente tão pequena, incapaz de aceitar o tamanho do adversário. A história será inclemente com tais formadores de opinião”.
Até hoje tem “formadores de opinião” que simplesmente não aceitam Lula ter sido eleito duas vezes presidente da República e saído do governo com mais de 80% de aprovação, respeitado como um dos grandes líderes mundiais do seu tempo.
Bolsonaros, Moros e Dallagnois passam, somem na poeira da insignificância, mas este tal de Lula, como dizem seus detratores, ficará para sempre na memória dos brasileiros como o melhor presidente que este país já teve, assim comprovam todas as pesquisas.
Ao contrário de outros ex-presidentes, Lula nunca mudou de lado e, aos 74 anos, tudo que lhe resta é lutar para salvar sua biografia que a Lava Jato tentou destruir.
Agora, seus algozes tentam se safar de qualquer jeito, porque uma hora a Justiça, em que Lula nunca deixou de acreditar, será implacável com eles.
Lula faz seu próprio tempo e isso eles nunca conseguirão entender. Como cantava Vandré, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
E está chegando a hora da volta do “cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”.
Não existe meia verdade, meia liberdade, meia democracia, meia justiça, meia inocência.
Mais uma vez, acho que o nego véio está certo, rendo-me.
Aconteça o que acontecer, tudo continuará girando em torno de Lula - e é por isso que seus adversários morrem de medo.
Lula mudou a História do Brasil, mas ninguém será capaz de mudar a história de Lula.
Vida que segue.
Toda a discussão desencadeada esta semana sobre a libertação ou não de Lula serve para provar um fato incontestável, goste-se dele ou não: em qualquer condição, a vida política do país continua girando em torno do ex-presidente.
Está fazendo agora 30 anos, desde a sua primeira campanha presidencial, em que não passa um dia sequer sem que a imprensa fale dele e especule sobre o que Lula fez ou deixou de fazer, e o que está pensando sobre os próximos passos, o mundo e a vida.
Quem tiver dúvidas, vá ao doutor Google.
Na manhã desta terça-feira, 1º de outubro de 2019, a palavra Lula tinha 121.000.000 de citações. É isto mesmo: 121 milhões, mais do que a metade da população brasileira.
Para se ter uma ideia, o rei Pelé, o brasileiro mais conhecido no mundo, tem 32,8 milhões.
Como velho amigo dele e de toda a família há mais de 40 anos, e seu assessor de imprensa nas campanhas e no governo, já deveria ter aprendido esta lição: não tente lhe dar conselhos e dizer o que deve fazer.
“E o que você entende de política? Quantos votos você teve na última eleição?”, ele me peguntava no governo, e cortava o papo, quando eu queria dar algum palpite fora da minha área, que era cuidar das relações com a mídia.
Desde o tempo de presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, quando irrompeu na cena nacional, Lula sempre se moveu pela intuição e na fé cega naquilo que lhe ensinou dona Lindu, sua mãe.
Como Pelé, Lula enxerga na frente e vê o que os outros não conseguem enxergar para vislumbrar o próximo lance, mesmo cercado de adversários.
Até quando erra, encontra sempre um jeito de consertar na jogada seguinte, e segue em frente, sem olhar para trás.
Nunca dá para saber o que se passa na cabeça dele antes de tomar uma decisão importante como foi aquela de se entregar ou não à Polícia Federal, nas condições e no horário determinado pelo ex-juiz Sergio Moro, o seu carrasco juramentado.
Ouviu um a um as centenas de amigos e parentes acotovelados nos corredores do sindicato, cercado por uma multidão de seguidores, no dia 6 de abril do ano passado, mas sua decisão já estava tomada desde cedo.
Muitos achavam que ele deveria resistir ou pedir asilo político em alguma embaixada, mas isso nunca passou pela cabeça dele. Não tem a palavra fugir ou se esconder no seu dicionário.
Só se entregou no dia seguinte, no horário que ele determinou e com as condições que impôs.
A mesma coisa acontece agora.
Preso há mais de 500 dias numa cela em Curitiba, posso imaginar o martírio que é para ele ficar encarcerado numa solitária de 15 metros quadrados, longe dos filhos, dos netos e da bisneta, ainda mais agora que está com namorada nova.
Lula sempre viveu cercado de gente, muita gente, arrastou milhões de pessoas em todo o país nas suas cinco campanhas presidenciais e nas muitas caravanas que fez, várias vezes, pelo país inteiro, de ponta a ponta.
Qualquer um de nós, simples mortais, correria para a liberdade, na primeira chance dada pelos carcereiros e justiceiros lavajatistas, quaisquer que fossem as circunstâncias.
Mas, ao contrário de jornalistas como eu, metidos a dizer o que os outros devem fazer e o que é melhor para eles, Lula tem seu próprio jeito de tomar decisões, e dele nunca abriu mão.
Não é frescura. Isso não quer dizer que ele está sempre certo, pois já tomou muitas decisões erradas das quais se arrependeu, mas nunca admitiu isso publicamente.
Como os matutos do sertão pernambucano de onde veio, embora hoje seja um homem do mundo, Lula traça uma linha imaginária e toca a boiada por caminhos que a gente só descobre depois.
Mais do que a liberdade, o que Lula perseguirá até a morte é provar a sua inocência, ainda que esse seja o caminho mais difícil, cheio de pedras e armadilhas togadas e fardadas.
Qualquer que seja, é preciso, no mínimo, respeitar a decisão a ser tomada por Lula e seus advogados.
Fico abismado ao ler e ouvir tantas sandices sobre Lula na imprensa e nas redes sociais, mas hoje fiquei com a alma lavada ao ler o artigo “Lula livre?”, do meu colega e amigo Juca Kfouri, na Folha, que já visitou Lula na cela em Curitiba.
Com a clareza de costume, Juca escreve:
“Há, na imprensa, quem chame de sala Vip o cubículo em que ele está preso há um ano e meio (…) Lula estaria apenas jogando para a torcida, segundo dizem crer. Incapazes de reconhecer a grandeza do gesto de alguém que, por indignação, por se considerar injustiçado, diz que não é pombo correio para usar tornozeleira eletrônica e se recusa a ser solto a não ser inocentado”.
Em poucas palavras, Juca resumiu o que também penso e sinto:
“Neste país de Silvérios e Paloccis, a cafajestagem tem espaço na mídia para gente tão pequena, incapaz de aceitar o tamanho do adversário. A história será inclemente com tais formadores de opinião”.
Até hoje tem “formadores de opinião” que simplesmente não aceitam Lula ter sido eleito duas vezes presidente da República e saído do governo com mais de 80% de aprovação, respeitado como um dos grandes líderes mundiais do seu tempo.
Bolsonaros, Moros e Dallagnois passam, somem na poeira da insignificância, mas este tal de Lula, como dizem seus detratores, ficará para sempre na memória dos brasileiros como o melhor presidente que este país já teve, assim comprovam todas as pesquisas.
Ao contrário de outros ex-presidentes, Lula nunca mudou de lado e, aos 74 anos, tudo que lhe resta é lutar para salvar sua biografia que a Lava Jato tentou destruir.
Agora, seus algozes tentam se safar de qualquer jeito, porque uma hora a Justiça, em que Lula nunca deixou de acreditar, será implacável com eles.
Lula faz seu próprio tempo e isso eles nunca conseguirão entender. Como cantava Vandré, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
E está chegando a hora da volta do “cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”.
Não existe meia verdade, meia liberdade, meia democracia, meia justiça, meia inocência.
Mais uma vez, acho que o nego véio está certo, rendo-me.
Aconteça o que acontecer, tudo continuará girando em torno de Lula - e é por isso que seus adversários morrem de medo.
Lula mudou a História do Brasil, mas ninguém será capaz de mudar a história de Lula.
Vida que segue.
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