Por Ayrton Centeno, no jornal Brasil de Fato:
Chegou a hora. É o momento daquele reencontro. Natal, Ano Novo, festas. A família reunida e vem aquela figura, braços abertos para o abraço. Aquele tio, aquele irmão, aquele cunhado.
Aquele tio mesmo que, quando Moa do Katendê foi assassinado com 12 facadas, postou que faltara mais uma para fechar o 13. Aí então seria perfeito. Aquele irmão que, quando Marielle foi assassinada com três tiros na cabeça e um no pescoço, curtiu todas as postagens onde ela foi chamada de “vagabunda”. Aquele cunhado que postou selfie com Bozo ambos sorrindo e fazendo arminha.
Aquela prima bolsonazi que ficou indignada ao saber que a cela de Lula era dotada de vaso sanitário. Aquela tia que trocou a conversa sobre decoração pela defesa da ditadura militar, época, segundo ela, em que os cidadãos de bem eram respeitados. Aquele velho compadre da sua mãe que acha que o grande problema do Brasil foi não ter um general Custer para exterminar os índios.
“Monstro. Esta pessoa é um monstro”, disse sua companheira ou companheiro. Falou isso quando você descreveu a postura de um dos seus parentes acima. Qualquer um ou uma. E agora o monstro vem na sua direção, braços abertos para o abraço. Mas podemos congelar seus passos, paralisar sua caminhada como faz o cinema, dando tempo para você pensar. Faltar ao encontro não é uma opção disponível. Você já está nele. Foi um erro? Talvez, mas isso de nada adianta agora. É preciso ser objetivo. O que fazer?
Contra sua repulsa, existe a conspiração da data, seja Natal ou Ano Novo. A primeira celebra o congraçamento e o acolhimento. A outra é de bons augúrios, de desejar “Feliz 2020”. Trombar com o cretino ou cretina pode colocá-lo como o sujeito rude que você não é. O intolerante pode parecer você.
“Seria melhor se eu estivesse bêbado”, você pode pensar. A questão é que você não se precaveu e não encheu a cara antes. É mais um lamento improdutivo e inútil. Está absolutamente sóbrio e a criatura se aproxima.
Sair correndo dali está fora de cogitação. Seria ridículo demais. Excluindo-se o suicídio – talvez quebrar a champanhe e cravar a garrafa no pescoço o que, cá pra nós, além de ridículo seria uma estupidez – só sobram duas respostas. Ou repele ou aceita o abraço.
Não há uma receita geral. Cada caso é um caso. Você acha que existe chance de reabilitação? Aquela abominação esconde alguma generosidade? Já testemunhou algum gesto do tamanho da abjeção cometida, algo para contrabalançar o horror, alguma espécie de empatia submersa em ódio? Há chance de reabilitação, de retorno à humanidade? Você decide. Talvez valha um abraço para perguntar, no ouvido do personagem: “Você está fazendo cocô um dia sim e outro não para salvar a natureza?”
Aquele tio mesmo que, quando Moa do Katendê foi assassinado com 12 facadas, postou que faltara mais uma para fechar o 13. Aí então seria perfeito. Aquele irmão que, quando Marielle foi assassinada com três tiros na cabeça e um no pescoço, curtiu todas as postagens onde ela foi chamada de “vagabunda”. Aquele cunhado que postou selfie com Bozo ambos sorrindo e fazendo arminha.
Aquela prima bolsonazi que ficou indignada ao saber que a cela de Lula era dotada de vaso sanitário. Aquela tia que trocou a conversa sobre decoração pela defesa da ditadura militar, época, segundo ela, em que os cidadãos de bem eram respeitados. Aquele velho compadre da sua mãe que acha que o grande problema do Brasil foi não ter um general Custer para exterminar os índios.
“Monstro. Esta pessoa é um monstro”, disse sua companheira ou companheiro. Falou isso quando você descreveu a postura de um dos seus parentes acima. Qualquer um ou uma. E agora o monstro vem na sua direção, braços abertos para o abraço. Mas podemos congelar seus passos, paralisar sua caminhada como faz o cinema, dando tempo para você pensar. Faltar ao encontro não é uma opção disponível. Você já está nele. Foi um erro? Talvez, mas isso de nada adianta agora. É preciso ser objetivo. O que fazer?
Contra sua repulsa, existe a conspiração da data, seja Natal ou Ano Novo. A primeira celebra o congraçamento e o acolhimento. A outra é de bons augúrios, de desejar “Feliz 2020”. Trombar com o cretino ou cretina pode colocá-lo como o sujeito rude que você não é. O intolerante pode parecer você.
“Seria melhor se eu estivesse bêbado”, você pode pensar. A questão é que você não se precaveu e não encheu a cara antes. É mais um lamento improdutivo e inútil. Está absolutamente sóbrio e a criatura se aproxima.
Sair correndo dali está fora de cogitação. Seria ridículo demais. Excluindo-se o suicídio – talvez quebrar a champanhe e cravar a garrafa no pescoço o que, cá pra nós, além de ridículo seria uma estupidez – só sobram duas respostas. Ou repele ou aceita o abraço.
Não há uma receita geral. Cada caso é um caso. Você acha que existe chance de reabilitação? Aquela abominação esconde alguma generosidade? Já testemunhou algum gesto do tamanho da abjeção cometida, algo para contrabalançar o horror, alguma espécie de empatia submersa em ódio? Há chance de reabilitação, de retorno à humanidade? Você decide. Talvez valha um abraço para perguntar, no ouvido do personagem: “Você está fazendo cocô um dia sim e outro não para salvar a natureza?”
1 comentários:
Fala amigo, Feliz Natal pra ti e toda sua família
Belo Horizonte precisa de mais pessoas como você
Sou leitor do seu blog.
Actus
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