Por Marcelo Zero
Emergindo das brumas higiênicas do quase anonimato, FHC, em seu twitter, afirma que Dória, Huck e Eduardo Leite “expressam o reformismo e a moderação do Centro Progressista. Radicalismos aguçam polarizações e não resolvem os problemas populares do país”.
O recado é claro. Bolsonarismo e petismo seriam “radicalismos” com sinais ideológicos inversos. Ambos comprometeriam, com sua polarização, a democracia e a capacidade do Brasil resolver os “problemas populares”.
A má-fé intelectual da, assim digamos, “tese” é inacreditável, mesmo levando em consideração o padrão extremamente rebaixado do debate político recente.
A distância astronômica entre petismo e bolsonarismo é a mesma distância que separa Lula de Bolsonaro.
O primeiro é um autêntico democrata, uma liderança verdadeiramente popular, construída em décadas de lutas pela redemocratização e pelos direitos dos historicamente excluídos.
O segundo é um fascista assumido, um apoiador expresso de ditaduras e torturadores, um político absolutamente medíocre, que só chegou à presidência graças a uma enxurrada digital de fake news e ao apoio do suposto centro.
O primeiro fez um governo moderado, de conciliação nacional e para todos os brasileiros, que procurava se legitimar pela negociação democrática.
O segundo faz um governo para poucos, que propõe exclusão radical de direitos, e que procura se legitimar pelo confronto permanente e pelo discurso de ódio aos opositores e aos diferentes.
O primeiro deu contribuição substantiva para resolver os “problemas populares” e para aprimorar e aprofundar a democracia brasileira.
Tirou dezenas de milhões de brasileiros da miséria e da pobreza e o Brasil do Mapa da Fome. Aumentou de forma significativa as oportunidades educacionais para os excluídos, especialmente no ensino técnico e superior.
Implantou programas sociais inovadores, como o Bolsa Família, que reduziram substantivamente a mortalidade infantil e a evasão escolar. Pagou a dívida externa e nos livrou da tutela do FMI.
Reduziu substancialmente o desmatamento na Amazônia e assumiu compromissos internacionais corajosos na luta global contra o efeito estufa.
Descobriu o pré-sal e canalizou seus recursos para recompor a cadeia de petróleo e gás e para investimentos em Educação e Saúde.
Praticou uma política externa que afirmou nossa soberania e aumentou nosso protagonismo mundial.
Abriu as portas do Estado para a participação popular, com a criação de muitos conselhos.
O segundo faz o oposto. Dedica-se, como ele próprio afirmou, a destruir todo o legado positivo anterior. Quer voltar ao “Brasil de 50 anos atrás”, ao passado da ditadura. Destrói direitos trabalhistas e previdenciários.
Aumenta o desemprego e a informalidade. Reduz rendimentos e incrementa a desigualdade. Erode os fundamentos do nosso incipiente Estado do Bem-Estar. Ataca o meio ambiente e a cultura. Ataca negros, homossexuais e mulheres. Pratica política externa de total submissão à administração Trump. Estimula a violência do Estado e a política genocida de extermínio de jovens negros.
Enfim, Bolsonaro é um desastre, um governo que constrange o Brasil no exterior. Ao contrário de Lula, faz todo o possível para piorar os “problemas populares” e para comprometer nossa democracia.
Mas quem é responsável por esse fenômeno político constrangedor?
Como pode um político do mais baixo clero, uma nulidade intelectual e política, chegar à presidência?
Ora, a resposta é bastante óbvia. O bolsonarismo, o neofascismo brasileiro, é uma derivação do antipetismo e do antiesquerdismo e uma consequência direta da criminalização da política.
E quais foram as forças que promoveram o antipetismo, o antiesquerdismo e a criminalização da política?
Evidentemente, não foi Bolsonaro, um político obscuro do baixo clero.
Foram as forças que, desde a primeira eleição de Lula, em 2002, dedicaram-se a criminalizar o PT, apontando-o como um inimigo perigoso da democracia e da nação, uma força política autoritária, radical e irresponsável, que iria levar o Brasil ao abismo. Quem não se lembra da campanha do medo contra o PT?
Essa ladainha antipetista que apresentava o Partido dos Trabalhadores como um inimigo a ser destruído, o responsável por todos os males do universo, persistiu por mais de uma década e, com a oportunidade criada pela crise e pela Lava Jato, tais forças reacionárias submergiram a frágil democracia brasileira no lodaçal de um golpe bananeiro, disfarçado de impeachment sem crime de responsabilidade.
Insuflaram as forças mais retrógradas do Brasil para dar um golpe contra a presidenta honesta e colocar no poder a “turma da sangria”.
Saíram às ruas junto com Bolsonaro, MBL e outros grupos protofascistas, que pediam intervenção militar e condenavam a democracia e a política de um modo geral.
Chocaram o ovo da serpente que injetaria veneno mortal em nossas instituições democráticas.
Em sua obsessão irracional de tirar o PT do poder a qualquer custo, abriram a caixa de Pandora do nosso fascismo tupiniquim, que agora floresce e os engole.
Na sua sanha em derrubar a presidenta eleita, destruíram a democracia e jogaram na lama o voto popular.
Em sua tentativa de limar a credibilidade do PT, destruíram a legitimidade de todo o sistema de representação política.
Em sua lawfare ensandecida contra Lula, que ainda persiste, acabaram por comprometer até mesmo o devido processo legal e os direitos e garantias individuais, baluartes do Estado democrático de direito.
Foram essas forças que, de maneira cínica e oportunista, trataram Bolsonaro como um candidato respeitável e o apoiaram contra a candidatura Haddad, quando todos sabiam muito bem que Bolsonaro era tudo, menos respeitável e democrático.
Agora, no entanto, parte dessas forças está arrependida e tenta “lavar as mãos”, fingindo que não tem nada a ver com o desastre político e democrático que ajudaram a gestar.
Perderam a hegemonia política para a ultradireita e procuram recuperá-la, apresentando-se como uma suposta terceira via racional e democrática entre duas forças populistas irracionais e autoritárias.
Esse é o “Centro Progressista” de que fala FHC.
Não passam, no entanto, de bolsonaristas envergonhados, que compartilham, com os bolsonaristas assumidos, o mesmo programa básico de retorno a um ultraneoliberalismo que fracassou no mundo inteiro e que vem provocando crises políticas agudas em países como Chile, que era apresentado até ontem como modelo de modernidade e racionalidade econômica.
Querem promover o mesmo programa, o mesmo modelo, sem o estorvo primitivo, miliciano e constrangedor de Bolsonaro, sua cria bastarda.
Querem a volta da “massa cheirosa”.
O problema é que o grande inimigo das democracias é hoje justamente o modelo neoliberal que une bolsonaristas assumidos e envergonhados.
Com efeito, a crise das democracias e dos sistemas de representação política, generalizada, tem como causa fundamental a desigualdade e ausência de perspectivas de um modelo econômico que privilegia apenas os interesses do grande capital, em detrimento dos interesses da maior parte da população, mas que se apresenta como uma escolha “técnica” inevitável e imutável.
Assim, para voltar a fortalecer, de fato, a democracia brasileira, precisaremos superar a “pinguela para o passado”, apresentada pomposamente como a ponte para o futuro.
Se isso não for feito, caminharemos inevitavelmente para regimes cada vez mais repressivos e restritivos de direitos, pois um programa econômico desse tipo, num país tão desigual quanto o Brasil, só poderá se manter com repressão e intimidação. Daí as falas reiteradas em prol do AI-5 e da proposta de GLO com licença para matar.
As perspectivas do “Centro Progressista”, do bolsonarismo envergonhado, não são, portanto, boas.
As últimas pesquisas de opinião mostram que a polarização que eles mesmos criaram com seu antipetismo e seu golpismo permanece forte e os excluem como alternativa.
A não ser que o centro volte a ser centro, parece que, em 2022, o Brasil terá de escolher, de novo, entre Lula e fascismo.
Emergindo das brumas higiênicas do quase anonimato, FHC, em seu twitter, afirma que Dória, Huck e Eduardo Leite “expressam o reformismo e a moderação do Centro Progressista. Radicalismos aguçam polarizações e não resolvem os problemas populares do país”.
O recado é claro. Bolsonarismo e petismo seriam “radicalismos” com sinais ideológicos inversos. Ambos comprometeriam, com sua polarização, a democracia e a capacidade do Brasil resolver os “problemas populares”.
A má-fé intelectual da, assim digamos, “tese” é inacreditável, mesmo levando em consideração o padrão extremamente rebaixado do debate político recente.
A distância astronômica entre petismo e bolsonarismo é a mesma distância que separa Lula de Bolsonaro.
O primeiro é um autêntico democrata, uma liderança verdadeiramente popular, construída em décadas de lutas pela redemocratização e pelos direitos dos historicamente excluídos.
O segundo é um fascista assumido, um apoiador expresso de ditaduras e torturadores, um político absolutamente medíocre, que só chegou à presidência graças a uma enxurrada digital de fake news e ao apoio do suposto centro.
O primeiro fez um governo moderado, de conciliação nacional e para todos os brasileiros, que procurava se legitimar pela negociação democrática.
O segundo faz um governo para poucos, que propõe exclusão radical de direitos, e que procura se legitimar pelo confronto permanente e pelo discurso de ódio aos opositores e aos diferentes.
O primeiro deu contribuição substantiva para resolver os “problemas populares” e para aprimorar e aprofundar a democracia brasileira.
Tirou dezenas de milhões de brasileiros da miséria e da pobreza e o Brasil do Mapa da Fome. Aumentou de forma significativa as oportunidades educacionais para os excluídos, especialmente no ensino técnico e superior.
Implantou programas sociais inovadores, como o Bolsa Família, que reduziram substantivamente a mortalidade infantil e a evasão escolar. Pagou a dívida externa e nos livrou da tutela do FMI.
Reduziu substancialmente o desmatamento na Amazônia e assumiu compromissos internacionais corajosos na luta global contra o efeito estufa.
Descobriu o pré-sal e canalizou seus recursos para recompor a cadeia de petróleo e gás e para investimentos em Educação e Saúde.
Praticou uma política externa que afirmou nossa soberania e aumentou nosso protagonismo mundial.
Abriu as portas do Estado para a participação popular, com a criação de muitos conselhos.
O segundo faz o oposto. Dedica-se, como ele próprio afirmou, a destruir todo o legado positivo anterior. Quer voltar ao “Brasil de 50 anos atrás”, ao passado da ditadura. Destrói direitos trabalhistas e previdenciários.
Aumenta o desemprego e a informalidade. Reduz rendimentos e incrementa a desigualdade. Erode os fundamentos do nosso incipiente Estado do Bem-Estar. Ataca o meio ambiente e a cultura. Ataca negros, homossexuais e mulheres. Pratica política externa de total submissão à administração Trump. Estimula a violência do Estado e a política genocida de extermínio de jovens negros.
Enfim, Bolsonaro é um desastre, um governo que constrange o Brasil no exterior. Ao contrário de Lula, faz todo o possível para piorar os “problemas populares” e para comprometer nossa democracia.
Mas quem é responsável por esse fenômeno político constrangedor?
Como pode um político do mais baixo clero, uma nulidade intelectual e política, chegar à presidência?
Ora, a resposta é bastante óbvia. O bolsonarismo, o neofascismo brasileiro, é uma derivação do antipetismo e do antiesquerdismo e uma consequência direta da criminalização da política.
E quais foram as forças que promoveram o antipetismo, o antiesquerdismo e a criminalização da política?
Evidentemente, não foi Bolsonaro, um político obscuro do baixo clero.
Foram as forças que, desde a primeira eleição de Lula, em 2002, dedicaram-se a criminalizar o PT, apontando-o como um inimigo perigoso da democracia e da nação, uma força política autoritária, radical e irresponsável, que iria levar o Brasil ao abismo. Quem não se lembra da campanha do medo contra o PT?
Essa ladainha antipetista que apresentava o Partido dos Trabalhadores como um inimigo a ser destruído, o responsável por todos os males do universo, persistiu por mais de uma década e, com a oportunidade criada pela crise e pela Lava Jato, tais forças reacionárias submergiram a frágil democracia brasileira no lodaçal de um golpe bananeiro, disfarçado de impeachment sem crime de responsabilidade.
Insuflaram as forças mais retrógradas do Brasil para dar um golpe contra a presidenta honesta e colocar no poder a “turma da sangria”.
Saíram às ruas junto com Bolsonaro, MBL e outros grupos protofascistas, que pediam intervenção militar e condenavam a democracia e a política de um modo geral.
Chocaram o ovo da serpente que injetaria veneno mortal em nossas instituições democráticas.
Em sua obsessão irracional de tirar o PT do poder a qualquer custo, abriram a caixa de Pandora do nosso fascismo tupiniquim, que agora floresce e os engole.
Na sua sanha em derrubar a presidenta eleita, destruíram a democracia e jogaram na lama o voto popular.
Em sua tentativa de limar a credibilidade do PT, destruíram a legitimidade de todo o sistema de representação política.
Em sua lawfare ensandecida contra Lula, que ainda persiste, acabaram por comprometer até mesmo o devido processo legal e os direitos e garantias individuais, baluartes do Estado democrático de direito.
Foram essas forças que, de maneira cínica e oportunista, trataram Bolsonaro como um candidato respeitável e o apoiaram contra a candidatura Haddad, quando todos sabiam muito bem que Bolsonaro era tudo, menos respeitável e democrático.
Agora, no entanto, parte dessas forças está arrependida e tenta “lavar as mãos”, fingindo que não tem nada a ver com o desastre político e democrático que ajudaram a gestar.
Perderam a hegemonia política para a ultradireita e procuram recuperá-la, apresentando-se como uma suposta terceira via racional e democrática entre duas forças populistas irracionais e autoritárias.
Esse é o “Centro Progressista” de que fala FHC.
Não passam, no entanto, de bolsonaristas envergonhados, que compartilham, com os bolsonaristas assumidos, o mesmo programa básico de retorno a um ultraneoliberalismo que fracassou no mundo inteiro e que vem provocando crises políticas agudas em países como Chile, que era apresentado até ontem como modelo de modernidade e racionalidade econômica.
Querem promover o mesmo programa, o mesmo modelo, sem o estorvo primitivo, miliciano e constrangedor de Bolsonaro, sua cria bastarda.
Querem a volta da “massa cheirosa”.
O problema é que o grande inimigo das democracias é hoje justamente o modelo neoliberal que une bolsonaristas assumidos e envergonhados.
Com efeito, a crise das democracias e dos sistemas de representação política, generalizada, tem como causa fundamental a desigualdade e ausência de perspectivas de um modelo econômico que privilegia apenas os interesses do grande capital, em detrimento dos interesses da maior parte da população, mas que se apresenta como uma escolha “técnica” inevitável e imutável.
Assim, para voltar a fortalecer, de fato, a democracia brasileira, precisaremos superar a “pinguela para o passado”, apresentada pomposamente como a ponte para o futuro.
Se isso não for feito, caminharemos inevitavelmente para regimes cada vez mais repressivos e restritivos de direitos, pois um programa econômico desse tipo, num país tão desigual quanto o Brasil, só poderá se manter com repressão e intimidação. Daí as falas reiteradas em prol do AI-5 e da proposta de GLO com licença para matar.
As perspectivas do “Centro Progressista”, do bolsonarismo envergonhado, não são, portanto, boas.
As últimas pesquisas de opinião mostram que a polarização que eles mesmos criaram com seu antipetismo e seu golpismo permanece forte e os excluem como alternativa.
A não ser que o centro volte a ser centro, parece que, em 2022, o Brasil terá de escolher, de novo, entre Lula e fascismo.
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