Por João Paulo Cunha, no jornal Brasil de Fato:
O governador de Minas Gerais Romeu Zema (Novo) é um dos mais inábeis políticos em atuação no país. De certa maneira era de se esperar, já que ele se elegeu com a bandeira da antipolítica e da proposição de um jeito novo de governar, distante do diálogo e da participação popular. Logo mostrou que o discurso não era para valer e que, mais que inimigo da política, ele era na verdade ruim de jogo.
Nesta semana, ele protagonizou uma série de atitudes que colocam em risco a governabilidade. Ao vetar parte de seu próprio projeto de reajuste dos servidores da segurança, deixou claro que não tinha ninguém ao seu lado. Prometeu com medo e vetou com mais medo ainda.
Nos dois casos, não atuou como estadista, mas como um acuado burocrata sem respaldo partidário ou apoio da população. Fugiu como pomba assustada ao bater do pé dos policiais e com o mesmo temor se entregou ao arrulho igualmente ruidoso dos próceres do ajuste fiscal. Acabou por protagonizar um caso raro de veto de seu próprio projeto, como uma espécie de oposição de si mesmo.
A tramitação do projeto foi complicada e impôs a Zema uma série de derrotas. Mostrou-se isolado na Assembleia Legislativa, perdendo voto em sua base, por si só já bem restrita. Junto ao funcionalismo, foi incapaz de dialogar sobre a perspectiva de recomposição salarial de toda a categoria, apostando na divisão e nos acordos de bastidores. E posou de fraco em relação ao governo federal, frente ao qual se curva com promessas de privatizações e austeridade de gastos sociais para merecer a renegociação da dívida garantida pela União.
Atitude de tanta inépcia já havia recebido críticas de políticos de outros partidos de direita, como o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), e do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM). Nos dois casos, Zema ouviu o que não queria: que de novo não tinha nada e que se movia açodado por pressões que cabia a ele equacionar. Em economia, se mostrava contraditório, em política rescendia à fraqueza.
Ainda no âmbito federal, chegou a assinar um manifesto dirigido a Bolsonaro, recuperando um pouco o brio sobre a gestão do estado na área de segurança, para logo depois se mostrar entre ingênuo e arrependido, quando o presidente ameaçou retaliar, como é de seu feitio. O vexame nacional culminou com a censura pública de sua própria sigla, o Novo, que foi ainda mais fundo questionando a proposta do governador na Justiça.
Sem força no legislativo, sem capacidade política de negociação, com a crítica dura de seu próprio partido, sem base popular, sem programa de governo que vá além da conta de armazém, Zema, para seguir seu mestre Bolsonaro, colocou a culpa na imprensa. O que não é novidade no seu caso.
Recentemente, jornalistas denunciaram que reportagens publicadas em sites que faziam crítica ao governador sumiram da internet à velocidade de um telefonema do setor de comunicação e propaganda do estado. Foi assim com a denúncia de uso de veículos oficiais para reuniões particulares, notícias sobre falta de vagas nas escolas públicas amenizadas como mudança de processo, uso de aeronaves por parentes, entre outras.
A campanha de um ano de governo calou parte da imprensa, manietou comentaristas, contaminou o noticiário dos jornais tradicionais e ganhou edições especiais e hotsites na rede. O corte de 80 mil vagas de ensino integral, por exemplo, foi substituído pelo anúncio da “abertura” de pouco mais de 15 mil vagas algumas semanas depois. No entanto, sempre que o governador aparece na mídia é vencido por suas palavras infelizes. Há coisas que o dinheiro não compra.
Para articular seu projeto de recomposição salarial dos servidores da segurança, Zema precisou contar com seu secretário de governo, Bilac Pinto (DEM), que substituiu o tucano Custódio Mattos na função, depois de uma sequência de desgastes. Com o veto do governador ao seu próprio projeto, aprovando apenas o reajuste deste ano e roendo a corda com o acordo para os anos seguintes, o deputado não teve outra atitude que não entregar o boné. Sua palavra não o credenciava a partir de então a sequer abrir um carnê em loja de eletrodomésticos.
Zema vai queimando um secretário de governo depois do outro, enquanto inviabiliza sua sobrevivência política. Na ALMG, ninguém deve mais acreditar em sua palavra, seu programa de governo e seu fio de bigode. O governador não veta apenas projetos vindos da casa, como a ampliação do reajuste para outras categorias, como a educação e a saúde, mas rói a corda até de suas propostas. A cada jogada, vai perdendo o apoio de uma força política. Agora, não tem nem mesmo um partido para chamar de seu.
Sinal de mal-estar com o Novo ficou ainda mais patente com o desligamento do vice-governador Paulo Brant do partido. Cheio de zelo pelo que considera sua função principal – o governo do estado – Brant deixou o partido queimando mais uma ponte. Na verdade, uma pinguela restrita a três deputados estaduais que, estranhamente, votam mais contra do que a favor do governo. Como bom empresário, Zema não se compromete e terceiriza até sua birra.
Para além da economia
Os sinais de inabilidade política do governador vão além das decisões econômicas e administrativas. Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, durante o lançamento de um aplicativo, Zema resolveu fazer uma análise sócio-antropológica da submissão feminina e da tendência natural, segundo ele, à violência dos homens contra as mulheres. Usou, para tanto, de má ciência, preconceito e pura ignorância. Quando tentou explicar, destacou ainda mais sua singeleza intelectual e comprometimento com valores éticos rejeitados pela civilização.
As reações às derrotas do governador seriam até naturais numa democracia, desde que partissem de um jogo político racional e consequente. No entanto, como têm origem na antipolítica e na negação da negociação feita a partir de argumentos, diálogos e mobilização da sociedade, instauram uma atmosfera de instabilidade perigosa. Sobretudo num governo reconhecidamente fraco e inexperiente, que já abandonou suas bandeiras ideológicas (Estado mínimo, privatização radical, conservadorismo moral e meritocracia) e agora deixa de lado suas convicções éticas.
Sem a política, denegada pela ânsia voluntarista do entreguismo como se não houvesse amanhã, o que sobra - e este é o caso de Minas Gerais - são ameaças no lugar da negociação responsável com as forças sociais; medo em vez de argumentação racional fundada em dados de realidade; e autoritarismo como única saída para crises de governabilidade. O que, infelizmente, não parece ser nada de novo em nosso tempo.
Nesta semana, ele protagonizou uma série de atitudes que colocam em risco a governabilidade. Ao vetar parte de seu próprio projeto de reajuste dos servidores da segurança, deixou claro que não tinha ninguém ao seu lado. Prometeu com medo e vetou com mais medo ainda.
Nos dois casos, não atuou como estadista, mas como um acuado burocrata sem respaldo partidário ou apoio da população. Fugiu como pomba assustada ao bater do pé dos policiais e com o mesmo temor se entregou ao arrulho igualmente ruidoso dos próceres do ajuste fiscal. Acabou por protagonizar um caso raro de veto de seu próprio projeto, como uma espécie de oposição de si mesmo.
A tramitação do projeto foi complicada e impôs a Zema uma série de derrotas. Mostrou-se isolado na Assembleia Legislativa, perdendo voto em sua base, por si só já bem restrita. Junto ao funcionalismo, foi incapaz de dialogar sobre a perspectiva de recomposição salarial de toda a categoria, apostando na divisão e nos acordos de bastidores. E posou de fraco em relação ao governo federal, frente ao qual se curva com promessas de privatizações e austeridade de gastos sociais para merecer a renegociação da dívida garantida pela União.
Atitude de tanta inépcia já havia recebido críticas de políticos de outros partidos de direita, como o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), e do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM). Nos dois casos, Zema ouviu o que não queria: que de novo não tinha nada e que se movia açodado por pressões que cabia a ele equacionar. Em economia, se mostrava contraditório, em política rescendia à fraqueza.
Ainda no âmbito federal, chegou a assinar um manifesto dirigido a Bolsonaro, recuperando um pouco o brio sobre a gestão do estado na área de segurança, para logo depois se mostrar entre ingênuo e arrependido, quando o presidente ameaçou retaliar, como é de seu feitio. O vexame nacional culminou com a censura pública de sua própria sigla, o Novo, que foi ainda mais fundo questionando a proposta do governador na Justiça.
Sem força no legislativo, sem capacidade política de negociação, com a crítica dura de seu próprio partido, sem base popular, sem programa de governo que vá além da conta de armazém, Zema, para seguir seu mestre Bolsonaro, colocou a culpa na imprensa. O que não é novidade no seu caso.
Recentemente, jornalistas denunciaram que reportagens publicadas em sites que faziam crítica ao governador sumiram da internet à velocidade de um telefonema do setor de comunicação e propaganda do estado. Foi assim com a denúncia de uso de veículos oficiais para reuniões particulares, notícias sobre falta de vagas nas escolas públicas amenizadas como mudança de processo, uso de aeronaves por parentes, entre outras.
A campanha de um ano de governo calou parte da imprensa, manietou comentaristas, contaminou o noticiário dos jornais tradicionais e ganhou edições especiais e hotsites na rede. O corte de 80 mil vagas de ensino integral, por exemplo, foi substituído pelo anúncio da “abertura” de pouco mais de 15 mil vagas algumas semanas depois. No entanto, sempre que o governador aparece na mídia é vencido por suas palavras infelizes. Há coisas que o dinheiro não compra.
Para articular seu projeto de recomposição salarial dos servidores da segurança, Zema precisou contar com seu secretário de governo, Bilac Pinto (DEM), que substituiu o tucano Custódio Mattos na função, depois de uma sequência de desgastes. Com o veto do governador ao seu próprio projeto, aprovando apenas o reajuste deste ano e roendo a corda com o acordo para os anos seguintes, o deputado não teve outra atitude que não entregar o boné. Sua palavra não o credenciava a partir de então a sequer abrir um carnê em loja de eletrodomésticos.
Zema vai queimando um secretário de governo depois do outro, enquanto inviabiliza sua sobrevivência política. Na ALMG, ninguém deve mais acreditar em sua palavra, seu programa de governo e seu fio de bigode. O governador não veta apenas projetos vindos da casa, como a ampliação do reajuste para outras categorias, como a educação e a saúde, mas rói a corda até de suas propostas. A cada jogada, vai perdendo o apoio de uma força política. Agora, não tem nem mesmo um partido para chamar de seu.
Sinal de mal-estar com o Novo ficou ainda mais patente com o desligamento do vice-governador Paulo Brant do partido. Cheio de zelo pelo que considera sua função principal – o governo do estado – Brant deixou o partido queimando mais uma ponte. Na verdade, uma pinguela restrita a três deputados estaduais que, estranhamente, votam mais contra do que a favor do governo. Como bom empresário, Zema não se compromete e terceiriza até sua birra.
Para além da economia
Os sinais de inabilidade política do governador vão além das decisões econômicas e administrativas. Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, durante o lançamento de um aplicativo, Zema resolveu fazer uma análise sócio-antropológica da submissão feminina e da tendência natural, segundo ele, à violência dos homens contra as mulheres. Usou, para tanto, de má ciência, preconceito e pura ignorância. Quando tentou explicar, destacou ainda mais sua singeleza intelectual e comprometimento com valores éticos rejeitados pela civilização.
As reações às derrotas do governador seriam até naturais numa democracia, desde que partissem de um jogo político racional e consequente. No entanto, como têm origem na antipolítica e na negação da negociação feita a partir de argumentos, diálogos e mobilização da sociedade, instauram uma atmosfera de instabilidade perigosa. Sobretudo num governo reconhecidamente fraco e inexperiente, que já abandonou suas bandeiras ideológicas (Estado mínimo, privatização radical, conservadorismo moral e meritocracia) e agora deixa de lado suas convicções éticas.
Sem a política, denegada pela ânsia voluntarista do entreguismo como se não houvesse amanhã, o que sobra - e este é o caso de Minas Gerais - são ameaças no lugar da negociação responsável com as forças sociais; medo em vez de argumentação racional fundada em dados de realidade; e autoritarismo como única saída para crises de governabilidade. O que, infelizmente, não parece ser nada de novo em nosso tempo.
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