Por André Barrocal, na revista CartaCapital:
Quando era ministro da Justiça e estava acuado pela divulgação, em 2019, de conversas secretas do tempo de juiz, Sérgio Moro foi chamado de “herói nacional” pelo general Augusto Heleno, chefe do GSI, o órgão de inteligência da Presidência.
Era uma alusão ao trabalho de Moro contra o PT e a “velha política”, esta simbolizada no “centrão”, sobre quem Heleno cantou no ato que lançou a Jair Bolsonaro a presidente em 2018: “Se gritar pega ‘centrão’, não fica um meu irmão”.
O “herói nacional” agora é traído pelos militares no divórcio litigioso com Bolsonaro, através de depoimentos aparentemente combinados que desmentem o ex-juiz sobre os fatos que levaram à troca do chefe da Polícia Federal (PF) e à demissão de Moro.
E isso acontece ao mesmo tempo em que o presidente abraça o “centrão” em um casamento abençoado pelos fardados do governo.
“Tem que ir em cada um desses partidos, principalmente aqueles de centro, independente da conotação pejorativa de centrão, e trazer para o campo da direita, de centro-direita. Uma coalização [governista] de centro-direita”, disse o general-vice-presidente Hamilton Mourão, em papo com a XP Investimentos, exibido na web nesta terça-feira 12.
“Lógico que, nisso aí, cargos e emendas fazem parte da negociação.”
São negociações conduzidas, comentou Mourão, por Bolsonaro e pelo general-ministro Luiz Eduardo Ramos, chefe da Secretaria de Governo.
Ramos foi um dos três militares que “traíram” Moro, ao desmenti-lo em depoimentos à PF no mesmo dia em que Mourão defendia casar governo e “centrão”.
Os outros dois: Heleno e o chefe da Casa Civil, Walter Souza Braga Netto.
À PF, Moro disse que, em uma reunião ministerial de 22 de abril, Bolsonaro “cobrou” a troca do chefe dos federais no Rio e do diretor-geral da corporação e o recebimento de relatórios de inteligência.
Contou ainda ter falado no dia seguinte com Ramos, Heleno e Braga Netto, logo após conversar com Bolsonaro, e que os três “se comprometeram a tentar demover o presidente” de tirar Mauricio Valeixo do comando da PF.
“Não houve compromisso de demover o presidente”, disse Braga Netto, conforme a versão escrita de seu depoimento. Na reunião ministerial do dia 22 de abril, afirmou ele, Bolsonaro não teria falado em substituir o chefe da PF no Rio.
Teria mencionado “a intenção de trocar a ‘segurança no Rio de Janeiro’”, a “segurança pessoal do presidente, a cargo do GSI, não tendo referência à PF”.
Os seguranças do presidente e seus familiares pertencem ao GSI, órgão comandado por Heleno.
Este disse à PF que “admirava” Moro, o que não o impediu de desmentir o “herói nacional”.
Moro tinha dito que, na reunião com Heleno, Ramos e Braga Netto logo após sua conversa com Bolsonaro, “o ministro Heleno afirmou que o tipo de relatório de inteligência [policial] que o presidente queria não tinha como ser fornecido”.
Versão de Heleno à PF: “Não se recorda se essa fala ‘esse tipo de relatório que o presidente quer, ele não pode receber’ realmente aconteceu”.
Heleno disse que Bolsonaro não precisava ter as mesmas razões de Moro para mudar o chefe da PF, afinal quem nomeia o ocupante do cargo é o presidente.
Que nunca entendeu a “rejeição obstinada” do ex-juiz contra trocar Valeixo.
E que só topou falar com o ex-capitão por “amizade” a Moro, mas sabia que não seria possível demovê-lo. Bolsonaro, declarou, queria alguém “mais ativo”.
“Sangue novo”, disse Ramos, a reforçar uma versão contrária à alegação de Moro de que Bolsonaro fez “interferência política” na PF para proteger parentes e amigos de investigações.
Segundo o general, ao mencionar, na reunião ministerial de 22 de abril, que iria “interferir” nos ministérios, o presidente quis dizer “ajudar ou corrigir rumos para obter melhores resultados”. Só isso.
De acordo com Ramos, houve “interpretação equivocada” dos presentes à reunião, no momento em que Bolsonaro falou em “segurança pessoal” no Rio.
Todos acharam que era uma referência a Moro e à PF, mas na verdade era a Heleno e ao GSI.
E aí, quem diz a verdade? Moro? Ou os generais?
Era uma alusão ao trabalho de Moro contra o PT e a “velha política”, esta simbolizada no “centrão”, sobre quem Heleno cantou no ato que lançou a Jair Bolsonaro a presidente em 2018: “Se gritar pega ‘centrão’, não fica um meu irmão”.
O “herói nacional” agora é traído pelos militares no divórcio litigioso com Bolsonaro, através de depoimentos aparentemente combinados que desmentem o ex-juiz sobre os fatos que levaram à troca do chefe da Polícia Federal (PF) e à demissão de Moro.
E isso acontece ao mesmo tempo em que o presidente abraça o “centrão” em um casamento abençoado pelos fardados do governo.
“Tem que ir em cada um desses partidos, principalmente aqueles de centro, independente da conotação pejorativa de centrão, e trazer para o campo da direita, de centro-direita. Uma coalização [governista] de centro-direita”, disse o general-vice-presidente Hamilton Mourão, em papo com a XP Investimentos, exibido na web nesta terça-feira 12.
“Lógico que, nisso aí, cargos e emendas fazem parte da negociação.”
São negociações conduzidas, comentou Mourão, por Bolsonaro e pelo general-ministro Luiz Eduardo Ramos, chefe da Secretaria de Governo.
Ramos foi um dos três militares que “traíram” Moro, ao desmenti-lo em depoimentos à PF no mesmo dia em que Mourão defendia casar governo e “centrão”.
Os outros dois: Heleno e o chefe da Casa Civil, Walter Souza Braga Netto.
À PF, Moro disse que, em uma reunião ministerial de 22 de abril, Bolsonaro “cobrou” a troca do chefe dos federais no Rio e do diretor-geral da corporação e o recebimento de relatórios de inteligência.
Contou ainda ter falado no dia seguinte com Ramos, Heleno e Braga Netto, logo após conversar com Bolsonaro, e que os três “se comprometeram a tentar demover o presidente” de tirar Mauricio Valeixo do comando da PF.
“Não houve compromisso de demover o presidente”, disse Braga Netto, conforme a versão escrita de seu depoimento. Na reunião ministerial do dia 22 de abril, afirmou ele, Bolsonaro não teria falado em substituir o chefe da PF no Rio.
Teria mencionado “a intenção de trocar a ‘segurança no Rio de Janeiro’”, a “segurança pessoal do presidente, a cargo do GSI, não tendo referência à PF”.
Os seguranças do presidente e seus familiares pertencem ao GSI, órgão comandado por Heleno.
Este disse à PF que “admirava” Moro, o que não o impediu de desmentir o “herói nacional”.
Moro tinha dito que, na reunião com Heleno, Ramos e Braga Netto logo após sua conversa com Bolsonaro, “o ministro Heleno afirmou que o tipo de relatório de inteligência [policial] que o presidente queria não tinha como ser fornecido”.
Versão de Heleno à PF: “Não se recorda se essa fala ‘esse tipo de relatório que o presidente quer, ele não pode receber’ realmente aconteceu”.
Heleno disse que Bolsonaro não precisava ter as mesmas razões de Moro para mudar o chefe da PF, afinal quem nomeia o ocupante do cargo é o presidente.
Que nunca entendeu a “rejeição obstinada” do ex-juiz contra trocar Valeixo.
E que só topou falar com o ex-capitão por “amizade” a Moro, mas sabia que não seria possível demovê-lo. Bolsonaro, declarou, queria alguém “mais ativo”.
“Sangue novo”, disse Ramos, a reforçar uma versão contrária à alegação de Moro de que Bolsonaro fez “interferência política” na PF para proteger parentes e amigos de investigações.
Segundo o general, ao mencionar, na reunião ministerial de 22 de abril, que iria “interferir” nos ministérios, o presidente quis dizer “ajudar ou corrigir rumos para obter melhores resultados”. Só isso.
De acordo com Ramos, houve “interpretação equivocada” dos presentes à reunião, no momento em que Bolsonaro falou em “segurança pessoal” no Rio.
Todos acharam que era uma referência a Moro e à PF, mas na verdade era a Heleno e ao GSI.
E aí, quem diz a verdade? Moro? Ou os generais?
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