Por Rodrigo Vianna, no site Brasil-247:
Num dia, a Globo abre largo espaço para "reportagem" baseada em estudos do Instituto Millenium: o material defende sem meias palavras a redução do peso do Estado e do funcionalismo público no Brasil.
Trata-se de evidente reforço à agenda ultraliberal de Paulo Guedes (que, por sinal, foi um dos fundadores do Instituto mantido pelas organizações Globo e por outros empresários de direita).
No dia seguinte, dois dos principais assessores de Guedes (Sallim Mattar e Paulo Uebel) pedem o boné e vão embora.
São dois extremistas, dois ideólogos do Estado mínimo.
De forma surpreendente, Guedes em pessoa vai à TV e confirma o que chamou de "debandada".
Não se trata de coincidência, mas de um rearranjo de forças na direita brasileira.
Jair Bolsonaro prepara - com o auxílio do Centrão, dos ministros pragmáticos Tarcísio de Freitas e Rogerio Marinho, além do núcleo militar - um giro que pode enterrar a agenda liberal de Guedes: investimento público pesado e Renda Básica para os mais pobres parecem as únicas saídas para estabelecer uma ponte que permita ao governo chegar vivo a 2022.
Paulo Guedes sentiu cheiro de fritura e quer sair por cima: quase sorriu ao falar na "debandada" dos fanáticos neoliberais Mattar/Uebel. Era um misto de chantagem e alívio: "Bolsonaro, o próximo a debandar serei eu, você quer mesmo experimentar mais essa instabilidade em meio à pandemia?"
A Globo lançou a bóia para Guedes, um dia antes, com a matéria millenarista no JN: na pior das hipóteses, mantem um aliado fiel à frente da Economia, ainda sob Bolsonaro; na melhor hipótese, no caso da saída do postopiranga, os Marinho e seus asseclas selam a aliança com Guedes e levam a "agenda liberal" para o bloco alternativo de centro-direita, que tentam construir para enfrentar Bolsonaro nas urnas.
Estamos muito perto de ver nascer um neobolsonarismo. O presidente é tosco, mas não é burro: precisa acabar com o teto de gastos e fazer programa de renda mínima permanente, para segurar 30% a 35% de apoio.
Isso os liberais não topam.
A direita fanática liberal aceita tranquilamente 100 mil mortos.
Mas não topa furar o teto pra salvar vidas e empregos.
Guedes chegou a dizer que furar o teto é o caminho para Bolsonaro transitar para o impeachment.
É caso raro de subordinado que ameaça o chefe. Nada como ter o apoio da Globo.
O governo tinha três pernas em janeiro de 2019: conservadorismo neofascista / lavajatismo hipócrita e antipolítica / neoliberalismo antiEstado.
A segunda perna foi amputada, com a saída de Moro e a incorporação do Centrão.
A perna neoliberal está necrosada, e cloroquina não vai resolver.
O compromisso de tolerar os abusos extremistas de carluxos e olavos, em nome da agenda liberal, parece estar com os dias contados.
Restará a Bolsonaro um conservadorismo (quase) estatizante, com Centrão/Militares...
Será um governo em debandada, em meio a mais de 100 mil mortes, sem ministro de Saúde e com a economia em frangalhos.
Mandetta, Moro e agora Guedes: o trio de ferro do liberalismo/lavajatismo rompe com o chefe fascista e se aninha sob o partido da direita, organizado pela família Marinho.
A equação parece ser essa.
Bolsonaro não recua nunca. Seguirá a avançar, deixando os feridos pelo caminho.
Caberá à Globo usar a padiola do JN para recolher os corpos do neoliberalismo no campo de batalha.
Sim, para tristeza de Miriam Leitão, o projeto fracassa pela terceira vez (Collor/Zelia, FHC/Armínio e Bolsonaro/Guedes).
As contradições entre os dois blocos de direita se acentuam e abrem mais possibilidades para a centro-esquerda, que poderá incorporar talvez setores menos radicalizados da centro-direita (no que restou do mundo partidário conservador, na academia, no mundo empresarial e Jurídico há quem tope conversar com o lulismo; mas são setores minoritários).
Não devemos ter ilusões. Um governo em debandada, mas com 30% de apoio, é capaz ainda de causar muito estrago.
A caneta na mão sempre vale muito. A caneta somada a soldados armados ou não e aos grupos de whatsapp valem muito mais.
Talvez deixem o JN e o Instituto MIllenium no chinelo.
A debandada será longa, triste, sangrenta e dolorida.
Num dia, a Globo abre largo espaço para "reportagem" baseada em estudos do Instituto Millenium: o material defende sem meias palavras a redução do peso do Estado e do funcionalismo público no Brasil.
Trata-se de evidente reforço à agenda ultraliberal de Paulo Guedes (que, por sinal, foi um dos fundadores do Instituto mantido pelas organizações Globo e por outros empresários de direita).
No dia seguinte, dois dos principais assessores de Guedes (Sallim Mattar e Paulo Uebel) pedem o boné e vão embora.
São dois extremistas, dois ideólogos do Estado mínimo.
De forma surpreendente, Guedes em pessoa vai à TV e confirma o que chamou de "debandada".
Não se trata de coincidência, mas de um rearranjo de forças na direita brasileira.
Jair Bolsonaro prepara - com o auxílio do Centrão, dos ministros pragmáticos Tarcísio de Freitas e Rogerio Marinho, além do núcleo militar - um giro que pode enterrar a agenda liberal de Guedes: investimento público pesado e Renda Básica para os mais pobres parecem as únicas saídas para estabelecer uma ponte que permita ao governo chegar vivo a 2022.
Paulo Guedes sentiu cheiro de fritura e quer sair por cima: quase sorriu ao falar na "debandada" dos fanáticos neoliberais Mattar/Uebel. Era um misto de chantagem e alívio: "Bolsonaro, o próximo a debandar serei eu, você quer mesmo experimentar mais essa instabilidade em meio à pandemia?"
A Globo lançou a bóia para Guedes, um dia antes, com a matéria millenarista no JN: na pior das hipóteses, mantem um aliado fiel à frente da Economia, ainda sob Bolsonaro; na melhor hipótese, no caso da saída do postopiranga, os Marinho e seus asseclas selam a aliança com Guedes e levam a "agenda liberal" para o bloco alternativo de centro-direita, que tentam construir para enfrentar Bolsonaro nas urnas.
Estamos muito perto de ver nascer um neobolsonarismo. O presidente é tosco, mas não é burro: precisa acabar com o teto de gastos e fazer programa de renda mínima permanente, para segurar 30% a 35% de apoio.
Isso os liberais não topam.
A direita fanática liberal aceita tranquilamente 100 mil mortos.
Mas não topa furar o teto pra salvar vidas e empregos.
Guedes chegou a dizer que furar o teto é o caminho para Bolsonaro transitar para o impeachment.
É caso raro de subordinado que ameaça o chefe. Nada como ter o apoio da Globo.
O governo tinha três pernas em janeiro de 2019: conservadorismo neofascista / lavajatismo hipócrita e antipolítica / neoliberalismo antiEstado.
A segunda perna foi amputada, com a saída de Moro e a incorporação do Centrão.
A perna neoliberal está necrosada, e cloroquina não vai resolver.
O compromisso de tolerar os abusos extremistas de carluxos e olavos, em nome da agenda liberal, parece estar com os dias contados.
Restará a Bolsonaro um conservadorismo (quase) estatizante, com Centrão/Militares...
Será um governo em debandada, em meio a mais de 100 mil mortes, sem ministro de Saúde e com a economia em frangalhos.
Mandetta, Moro e agora Guedes: o trio de ferro do liberalismo/lavajatismo rompe com o chefe fascista e se aninha sob o partido da direita, organizado pela família Marinho.
A equação parece ser essa.
Bolsonaro não recua nunca. Seguirá a avançar, deixando os feridos pelo caminho.
Caberá à Globo usar a padiola do JN para recolher os corpos do neoliberalismo no campo de batalha.
Sim, para tristeza de Miriam Leitão, o projeto fracassa pela terceira vez (Collor/Zelia, FHC/Armínio e Bolsonaro/Guedes).
As contradições entre os dois blocos de direita se acentuam e abrem mais possibilidades para a centro-esquerda, que poderá incorporar talvez setores menos radicalizados da centro-direita (no que restou do mundo partidário conservador, na academia, no mundo empresarial e Jurídico há quem tope conversar com o lulismo; mas são setores minoritários).
Não devemos ter ilusões. Um governo em debandada, mas com 30% de apoio, é capaz ainda de causar muito estrago.
A caneta na mão sempre vale muito. A caneta somada a soldados armados ou não e aos grupos de whatsapp valem muito mais.
Talvez deixem o JN e o Instituto MIllenium no chinelo.
A debandada será longa, triste, sangrenta e dolorida.
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