Por Roberto Malvezzi (Gogó), no site Outras Palavras:
Mergulhados na avalanche de negatividades desse governo, talvez fique difícil imaginar que nossas resistências estão gerando importantíssimas vitórias do povo brasileiro contratempos que poderiam ser ainda piores. Não se trata de falsos consolos, nem de suscitar falsas esperanças, mas de resistências importantes que podem nos animar a continuar nesse processo de resistir para existir. Não se trata de questões eleitorais, mas quem sabe, de uma nova cultura política, social e cultural nesse país.
Primeiro, esse governo tinha um propósito de campanha absolutamente sanguinário. O atual presidente falava em matar pelo menos umas 30 mil pessoas para que o Brasil pudesse entrar nos moldes que ele e seus sequazes imaginam o ideal para o país e nosso povo. Alguns dirão que era uma retórica de campanha, na minha opinião era intenção real. Embora já tenham morrido mais de 120 mil pela Covid-19, não era essa a proposta original. Naquele momento falava em metralhar petralhas, lideranças de esquerda, comunistas, sem falar nos negros, índios, pobres, presidiários e “bandido bom como bandido morto”. O barro foi jogado na parede, não colou, a liberdade de matar concedida aos policiais não foi realizada totalmente, o STF proibiu a entrada da polícia nas favelas em tempos de pandemia e as mortes por policiais nesses espaços caíram 76%. Por outro lado, aumentaram em 11,5% as mortes de negros por homicídio e diminuíram em 12,9% as mortes de brancos nos últimos dez anos. Racismo explícito até nos óbitos.
Não conseguiu implantar a ditadura militar. O elogio a tantos ditadores e torturadores também era barro jogado na parede. Muita gente foi às ruas para pedir a ditadura com Bolsonaro no poder, mas suprimindo o STF e o Congresso. Uma pesquisa do Datafolha mostrou que cerca de 80% dos brasileiros não queriam a ditadura de volta. O STF reagiu – embora só quando a ameaça chegou aos ministros e seus familiares -, a mídia burguesa também recusou, o Congresso também recusou, lideranças da extrema direita foram presas, contas nas mídias sociais desativadas e acampamentos desmontados. Enfim, foi demonstrado a Bolsonaro e aos militares que mais uma de suas ditaduras não teria sustentação popular. Eles, ao menos por agora, silenciaram. Vivemos uma democracia de baixíssima intensidade, sem substância social, econômica e ambiental, mas mantivemos as formalidades das instituições.
Não conseguiu implantar o AI-5. O propósito era claro. Mas foi rejeitado inclusive pelos meios burgueses. Com as exceções jurídicas perigosas desse ato, nem juízes, mídia, empresários, deputados, senadores etc., estariam mais seguros do ponto de vista de seus direitos individuais. Então, parece que o Brasil aprendeu que as exceções jurídicas do AI-5, mesmo apoiado por vários generais, inclusive o General Heleno, seriam nefastas para a sociedade brasileira.
Enfim, ainda conseguimos constitucionalizar o Fundeb, importante para o futuro educativo do Brasil. A pandemia exigiu um auxílio emergencial de R$ 600, importantíssimo para a população sem nenhuma renda. Quem sabe se consiga transformá-lo numa renda mínima permanente, embora aí o mercado já mostre as garras de seus interesses. Não será fácil, mas quem sabe um avanço.
Enfim, perdemos muito na saúde pública, na educação, nos investimentos, em termos ambientais, na economia (o PIB voltou ao patamar de 2012), sobretudo, perdemos e vamos continuar perdendo milhares de vidas para o Covid.
Perdemos muito também em termos de vergonha na cara, tanta hipocrisia religiosa, falsos moralistas da família, pastor@s católicos e evangélicos mercenários, sepulcros caiados na luta contra a corrupção, mas que também estão sendo desmascarados por suas próprias falcatruas, inclusive o que aconteceu na Lava-Jato com os hipócritas da toga. Então, o que era uma perda de dignidade do país, pode se transformar em um enorme ganho com o passar do tempo.
Outro sinal importante é a emergência das vozes pretas e índias nesse momento da história do Brasil, particularmente as femininas. Enfim, essas etnias vão se impondo como parte constitutiva da sociedade brasileira, mesmo em tempos de discriminação sórdida por parte das políticas oficiais.
Outros se lembrarão de vitórias ou sinais importantes que eu não lembrei ou citei. Sim, estamos mal, mas o pior dos piores até agora conseguimos evitar. Nessa tremenda noite escura qualquer fósforo aceso é uma luz.
Mergulhados na avalanche de negatividades desse governo, talvez fique difícil imaginar que nossas resistências estão gerando importantíssimas vitórias do povo brasileiro contratempos que poderiam ser ainda piores. Não se trata de falsos consolos, nem de suscitar falsas esperanças, mas de resistências importantes que podem nos animar a continuar nesse processo de resistir para existir. Não se trata de questões eleitorais, mas quem sabe, de uma nova cultura política, social e cultural nesse país.
Primeiro, esse governo tinha um propósito de campanha absolutamente sanguinário. O atual presidente falava em matar pelo menos umas 30 mil pessoas para que o Brasil pudesse entrar nos moldes que ele e seus sequazes imaginam o ideal para o país e nosso povo. Alguns dirão que era uma retórica de campanha, na minha opinião era intenção real. Embora já tenham morrido mais de 120 mil pela Covid-19, não era essa a proposta original. Naquele momento falava em metralhar petralhas, lideranças de esquerda, comunistas, sem falar nos negros, índios, pobres, presidiários e “bandido bom como bandido morto”. O barro foi jogado na parede, não colou, a liberdade de matar concedida aos policiais não foi realizada totalmente, o STF proibiu a entrada da polícia nas favelas em tempos de pandemia e as mortes por policiais nesses espaços caíram 76%. Por outro lado, aumentaram em 11,5% as mortes de negros por homicídio e diminuíram em 12,9% as mortes de brancos nos últimos dez anos. Racismo explícito até nos óbitos.
Não conseguiu implantar a ditadura militar. O elogio a tantos ditadores e torturadores também era barro jogado na parede. Muita gente foi às ruas para pedir a ditadura com Bolsonaro no poder, mas suprimindo o STF e o Congresso. Uma pesquisa do Datafolha mostrou que cerca de 80% dos brasileiros não queriam a ditadura de volta. O STF reagiu – embora só quando a ameaça chegou aos ministros e seus familiares -, a mídia burguesa também recusou, o Congresso também recusou, lideranças da extrema direita foram presas, contas nas mídias sociais desativadas e acampamentos desmontados. Enfim, foi demonstrado a Bolsonaro e aos militares que mais uma de suas ditaduras não teria sustentação popular. Eles, ao menos por agora, silenciaram. Vivemos uma democracia de baixíssima intensidade, sem substância social, econômica e ambiental, mas mantivemos as formalidades das instituições.
Não conseguiu implantar o AI-5. O propósito era claro. Mas foi rejeitado inclusive pelos meios burgueses. Com as exceções jurídicas perigosas desse ato, nem juízes, mídia, empresários, deputados, senadores etc., estariam mais seguros do ponto de vista de seus direitos individuais. Então, parece que o Brasil aprendeu que as exceções jurídicas do AI-5, mesmo apoiado por vários generais, inclusive o General Heleno, seriam nefastas para a sociedade brasileira.
Enfim, ainda conseguimos constitucionalizar o Fundeb, importante para o futuro educativo do Brasil. A pandemia exigiu um auxílio emergencial de R$ 600, importantíssimo para a população sem nenhuma renda. Quem sabe se consiga transformá-lo numa renda mínima permanente, embora aí o mercado já mostre as garras de seus interesses. Não será fácil, mas quem sabe um avanço.
Enfim, perdemos muito na saúde pública, na educação, nos investimentos, em termos ambientais, na economia (o PIB voltou ao patamar de 2012), sobretudo, perdemos e vamos continuar perdendo milhares de vidas para o Covid.
Perdemos muito também em termos de vergonha na cara, tanta hipocrisia religiosa, falsos moralistas da família, pastor@s católicos e evangélicos mercenários, sepulcros caiados na luta contra a corrupção, mas que também estão sendo desmascarados por suas próprias falcatruas, inclusive o que aconteceu na Lava-Jato com os hipócritas da toga. Então, o que era uma perda de dignidade do país, pode se transformar em um enorme ganho com o passar do tempo.
Outro sinal importante é a emergência das vozes pretas e índias nesse momento da história do Brasil, particularmente as femininas. Enfim, essas etnias vão se impondo como parte constitutiva da sociedade brasileira, mesmo em tempos de discriminação sórdida por parte das políticas oficiais.
Outros se lembrarão de vitórias ou sinais importantes que eu não lembrei ou citei. Sim, estamos mal, mas o pior dos piores até agora conseguimos evitar. Nessa tremenda noite escura qualquer fósforo aceso é uma luz.
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