O processo eleitoral de 2020 ainda está em curso, tendo em vista que o segundo turno está prestes a ocorrer no próximo domingo (29), no entanto, já é possível extrair algumas lições a partir de uma análise preliminar do resultado no primeiro turno.
Já vem sendo afirmado em diversas análises a derrota do bolsonarismo nas urnas, considerando o desempenho aquém do esperado depois da dura derrota que sofremos após o golpe de 2016 e da vitória de Bolsonaro em 2018. Assim como já temos a constatação de que o chamado “centrão” e a direita tradicional saem fortalecidos dessa eleição, enquanto o campo progressista reage e ganha um fôlego importante se comparado à 2016. Dito isto, quais lições podemos aprender com esse processo?
A primeira lição é a importância da unidade dos setores progressistas para combater o avanço das forças conservadoras, destaco o caso de Porto Alegre, no qual a unidade da esquerda foi fundamental para levar a candidatura de Manuella D’ávila (PCdoB) ao segundo turno, e o caso do Rio de Janeiro, no qual a fragmentação das forças progressistas inviabilizou um segundo turno com a presença de uma candidatura que fizesse frente ao projeto de direita.
A segunda lição diz respeito ao processo de reorganização da esquerda que está em curso, e exige generosidade do conjunto das forças políticas para que a esquerda dispute a hegemonia na sociedade. Ficou explícito que há uma pluralidade da esquerda/centro esquerda se consolidando na sociedade, num processo de reequilíbrio de forças, no qual nenhum partido hegemoniza esse campo progressista (PT, PSOL, PDT, PSB, PCdoB e Rede) como no momento anterior.
Há uma multipolaridade em curso, onde em cada região deverá predominar uma força política, com diferentes níveis do ponto de vista da força nacional de cada organização. Para aprofundar esse tema recomendo o artigo de Lucio Centeno “Implosão do sistema partidário no Brasil: da bipolaridade à multipolaridade”.
A terceira lição decorre da votação expressiva nas candidaturas que expressam a renovação e a diversidade do povo brasileiro, com as fortes candidaturas das mulheres e jovens, e destaque para as votações recordes em pessoas negras e LGBT, em especial de transexuais.
Nas capitais brasileiras as pessoas negras ocuparão 44% das cadeiras nas câmaras de vereadores, enquanto as candidaturas trans saíram da marca de 8 eleitas em 2016 para 25 eleitas este ano, sendo 16 de partidos de esquerda, 7 de partidos de centro e 2 de partidos de direita. Em alguns lugares essas candidaturas estiveram entre as mais votadas, a exemplo de Erika Hilton em São Paulo e Linda Brasil em Aracaju (SE).
Esses dados evidenciam um fato da realidade, expressam o movimento da sociedade fruto da luta coletiva contra o machismo, o racismo e a LGBTfobia, que está incidindo na escolha dos eleitores que não aceitam mais que o poder político seja ocupado exclusivamente por homens, brancos e ricos. Cabe à esquerda brasileira um olhar atento sobre esse movimento, caso contrário estaremos descolados e mais atrasados que o avanço da consciência média da sociedade.
A consequência disso pode ser, por um lado, o descolamento das lutas contra o racismo e o patriarcado - bandeiras historicamente construídas pela esquerda - da luta anticapitalista e, por outro lado, reforço de abordagens liberais facilmente cooptadas pelas elites que não tem interesse em enfrentar as desigualdades que assolam o povo brasileiro.
Entendemos que as lutas antirracistas e antipatriarcais no Brasil são inseparáveis das lutas anticapitalistas. Vale sublinhar que o aumento do número de mulheres, pessoas negras e LGBT nos espaços de poder é uma importante conquista simbólica, mas ainda muito aquém do que queremos alcançar para, de fato, refletir a sociedade brasileira.
A sub-representação ainda é um grave problema na política nacional, quando se trata de cargos executivos como as prefeituras. Nessa eleição o abismo é ainda maior. De acordo com o TSE, em 2016 tivemos 29% das prefeituras eleitas no primeiro turno ocupadas por pessoas negras, e esse ano subimos para 32%, um aumento pequeno considerando que as pessoas negras são maioria, representando 56% da população brasileira.
É importante destacar que os desafios para a esquerda - para além das eleições - são imensos, do ponto de vista da organização e luta da classe trabalhadora. De acordo com o boletim do Dieese “de olho nas negociações”, até outubro quase metade das negociações salariais de 2020 não conseguiram repor a inflação. Portanto, é possível e necessário acumular forças a partir desse processo eleitoral, que sem dúvidas, assegura melhores condições de luta para a esquerda através da conquista de prefeituras e espaços nas câmaras municipais Brasil afora.
Por fim, as eleições demonstraram mais uma vez que são um importante terreno da luta de classes. Que seria desse processo de combate ao enraizamento do bolsonarismo se a esquerda não tivesse jogado energias nesse processo eleitoral? Na batalha das ideias nas ruas foi possível perceber uma maior receptividade do nosso projeto, um terreno com mais possibilidade de diálogo que a eleição de 2018.
Em São Paulo, tivemos a grata surpresa de um segundo turno com Guilherme Boulos (PSOL), no centro do capitalismo no Brasil temos uma candidatura de esquerda que pulsa nas ruas, que anima a militância e alimenta a esperança da construção de força em torno de um projeto popular para nosso país.
Nessa reta final, temos a tarefa de fortalecer especialmente as candidaturas progressistas que estão no segundo turno em São Paulo, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Vitória e Belém, que em caso de vitória terão um papel fundamental para a luta popular!
Já vem sendo afirmado em diversas análises a derrota do bolsonarismo nas urnas, considerando o desempenho aquém do esperado depois da dura derrota que sofremos após o golpe de 2016 e da vitória de Bolsonaro em 2018. Assim como já temos a constatação de que o chamado “centrão” e a direita tradicional saem fortalecidos dessa eleição, enquanto o campo progressista reage e ganha um fôlego importante se comparado à 2016. Dito isto, quais lições podemos aprender com esse processo?
A primeira lição é a importância da unidade dos setores progressistas para combater o avanço das forças conservadoras, destaco o caso de Porto Alegre, no qual a unidade da esquerda foi fundamental para levar a candidatura de Manuella D’ávila (PCdoB) ao segundo turno, e o caso do Rio de Janeiro, no qual a fragmentação das forças progressistas inviabilizou um segundo turno com a presença de uma candidatura que fizesse frente ao projeto de direita.
A segunda lição diz respeito ao processo de reorganização da esquerda que está em curso, e exige generosidade do conjunto das forças políticas para que a esquerda dispute a hegemonia na sociedade. Ficou explícito que há uma pluralidade da esquerda/centro esquerda se consolidando na sociedade, num processo de reequilíbrio de forças, no qual nenhum partido hegemoniza esse campo progressista (PT, PSOL, PDT, PSB, PCdoB e Rede) como no momento anterior.
Há uma multipolaridade em curso, onde em cada região deverá predominar uma força política, com diferentes níveis do ponto de vista da força nacional de cada organização. Para aprofundar esse tema recomendo o artigo de Lucio Centeno “Implosão do sistema partidário no Brasil: da bipolaridade à multipolaridade”.
A terceira lição decorre da votação expressiva nas candidaturas que expressam a renovação e a diversidade do povo brasileiro, com as fortes candidaturas das mulheres e jovens, e destaque para as votações recordes em pessoas negras e LGBT, em especial de transexuais.
Nas capitais brasileiras as pessoas negras ocuparão 44% das cadeiras nas câmaras de vereadores, enquanto as candidaturas trans saíram da marca de 8 eleitas em 2016 para 25 eleitas este ano, sendo 16 de partidos de esquerda, 7 de partidos de centro e 2 de partidos de direita. Em alguns lugares essas candidaturas estiveram entre as mais votadas, a exemplo de Erika Hilton em São Paulo e Linda Brasil em Aracaju (SE).
Esses dados evidenciam um fato da realidade, expressam o movimento da sociedade fruto da luta coletiva contra o machismo, o racismo e a LGBTfobia, que está incidindo na escolha dos eleitores que não aceitam mais que o poder político seja ocupado exclusivamente por homens, brancos e ricos. Cabe à esquerda brasileira um olhar atento sobre esse movimento, caso contrário estaremos descolados e mais atrasados que o avanço da consciência média da sociedade.
A consequência disso pode ser, por um lado, o descolamento das lutas contra o racismo e o patriarcado - bandeiras historicamente construídas pela esquerda - da luta anticapitalista e, por outro lado, reforço de abordagens liberais facilmente cooptadas pelas elites que não tem interesse em enfrentar as desigualdades que assolam o povo brasileiro.
Entendemos que as lutas antirracistas e antipatriarcais no Brasil são inseparáveis das lutas anticapitalistas. Vale sublinhar que o aumento do número de mulheres, pessoas negras e LGBT nos espaços de poder é uma importante conquista simbólica, mas ainda muito aquém do que queremos alcançar para, de fato, refletir a sociedade brasileira.
A sub-representação ainda é um grave problema na política nacional, quando se trata de cargos executivos como as prefeituras. Nessa eleição o abismo é ainda maior. De acordo com o TSE, em 2016 tivemos 29% das prefeituras eleitas no primeiro turno ocupadas por pessoas negras, e esse ano subimos para 32%, um aumento pequeno considerando que as pessoas negras são maioria, representando 56% da população brasileira.
É importante destacar que os desafios para a esquerda - para além das eleições - são imensos, do ponto de vista da organização e luta da classe trabalhadora. De acordo com o boletim do Dieese “de olho nas negociações”, até outubro quase metade das negociações salariais de 2020 não conseguiram repor a inflação. Portanto, é possível e necessário acumular forças a partir desse processo eleitoral, que sem dúvidas, assegura melhores condições de luta para a esquerda através da conquista de prefeituras e espaços nas câmaras municipais Brasil afora.
Por fim, as eleições demonstraram mais uma vez que são um importante terreno da luta de classes. Que seria desse processo de combate ao enraizamento do bolsonarismo se a esquerda não tivesse jogado energias nesse processo eleitoral? Na batalha das ideias nas ruas foi possível perceber uma maior receptividade do nosso projeto, um terreno com mais possibilidade de diálogo que a eleição de 2018.
Em São Paulo, tivemos a grata surpresa de um segundo turno com Guilherme Boulos (PSOL), no centro do capitalismo no Brasil temos uma candidatura de esquerda que pulsa nas ruas, que anima a militância e alimenta a esperança da construção de força em torno de um projeto popular para nosso país.
Nessa reta final, temos a tarefa de fortalecer especialmente as candidaturas progressistas que estão no segundo turno em São Paulo, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Vitória e Belém, que em caso de vitória terão um papel fundamental para a luta popular!
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