terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Mais um vitorioso, o antipetismo

Por Tereza Cruvinel, no site Brasil-247:


A direita tradicional, agora alcunhada de centro, hegemonizou o Brasil, pela força colossal conferida principalmente a cinco partidos: MDB, PSDB, DEM, PP e PSD.

A mídia corporativa destaca também, com indisfarçada satisfação, a inegável derrota do PT, bem como o mau desempenho de toda a esquerda. Deixa, entretanto, de apontar mais um vitorioso, o antipetismo, que mostrou-se vivo e forte.

Não devíamos relegar a terceiro plano a derrota, esta sim, acachapante, da extrema direita e do bolsonarismo. Ai de nós se Bolsonaro estivesse hoje colhendo vitórias Brasil afora.

Começa agora a caminhada para 2022 e daqui a pouco veremos que os resultados deste domingo não serão assim tão determinantes para a eleição presidencial.

Partidos e pretendentes turbinaram suas potencialidades mas ainda falta muito caminho a andar.

Não dou como certo nem mesmo que Bolsonaro será candidato ou que será competitivo, tamanho terá sido o desastre de seu governo quando 2022 chegar, fora o já acumulado.

O olhar mais criterioso diz que o PT fracassou porque, ao invés de começar a recuperar-se, encolheu mais ainda - embora continue administrando seis milhões de brasileiros e tenha tido o mesmo total de votos de 2016.

Faz sentido falar que o partido estacionou, mas a hora não é de buscar eufemismos para a derrota.

No balanço de suas perdas, o PT precisa admitir que errou ao subestimar a força do ódio ao PT, insidiosamente injetado no eleitorado em nome do combate à corrupção.

Afinal, em 2018, Haddad obteve um resultado admirável para quem era desconhecido nacionalmente e fez duas semanas de campanha. Mas eram outros os quinhentos. Para ele convergiu a resistência a Bolsonaro e a tudo que era previsível e que está acontecendo ao Brasil.

O antipetismo é como um fármaco de efeito retardado, daqueles que vai liberando o principio ativo lentamente no organismo, para que o efeito perdure.

A injeção começou em 2014, com a Lava Jato e a cobertura alinhada da imprensa, mas perdura até hoje. Da mesma forma não desbotou ainda a pecha de partido corrupto que lhe foi pespegada pela Lava Jato - com todos os crimes de seus procuradores, com toda a parcialidade de Moro, que acaba de revelar sua indecente sociedade com uma consultoria que administrará a falência da construtora que ele ajudou a falir. Não é preciso ir longe. Qualquer passeio fora da bolha progressista leva ao encontro da ojeriza ao PT. Das promessas de não votar mais no partido.

Na busca de causas para a derrota, fala-se em falta de renovação, fala-se no lulocentrismo, na estreiteza de alianças e em outros fatores que teriam pesado.

Pode ter havido um pouco de tudo isso, mas foi o antipetismo que drenou votos ex-petistas em duas direções. Majoritariamente, para os partidos da direita. Secundariamente, para outras vertentes de centro-esquerda, como PDT e PSB, que avançaram sobre a mancha lulista no Nordeste, conquistando quatro capitais.

É o antipetismo o tigre que o PT precisa enfrentar e derrotar, e não em tempo de eleições. Para retocar a imagem e livrar-se da pecha, será preciso trabalhar nas bases, como nos primeiros tempos, para compreender a alma contemporânea dos brasileiros, suas necessidades e demandas.

Será importante apresentar novas propostas de políticas públicas, que atendam às novas pautas. Nas prefeituras que conquistou, entre elas as de quatro grandes cidades, o PT terá que fazer administrações admiráveis, que lembrem ao eleitorado as inovações do velho "modo petista de governar". Mas com outros modos, que os tempos são outros.

E urge, sobretudo, combater os discursos e narrativas que alimentam o antipetismo. A Lava Jato começou em 2014 e até hoje o PT não conseguiu construir a sua contra-narrativa, embora tenha os argumentos.

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