Por Luis Felipe Miguel
João Doria é uma figura banal da política. Aquele que foi pinçado da obscuridade por um padrinho político que viu nele alguém que se encaixaria na estratégia de marketing do momento - e viu também uma qualidade principal, a ausência de luz própria, que impediria que depois ele se convertesse num rival.
O problema é que não carece luz própria. Basta a luz que o cargo dá. E, como costuma acontecer nesses casos, o projeto de fantoche virou, sim, rival.
Mas Doria - e isso também faz parte do script - acreditou que chegou aonde chegou por seus méritos próprios, sua esperteza, tirocínio político e carisma avassalador. E começou a tentar dar passos maiores que as pernas.
Sua desastrada tentativa de tomar conta do PSDB mostra isso. Doria não entende seu partido, que sempre funcionou como uma oligarquia clássica. Ele não fez nenhum esforço para se integrar ao grupo de oligarcas e achou que seria capaz de tratorá-los.
E o que é pior: tentou dar um golpe de força no momento em que estava exposta sua fraqueza.
Afinal, a derrota de Maia e Baleia na Câmara foi também a derrota da ideia de uma frente de direita de oposição a Bolsonaro, com PSDB, DEM e MDB, da qual Doria seria o nome mais forte para a disputa presidencial.
Doria é uma figura tão desagradável, é tão vulgar e inescrupuloso, que é impossível reprimir a satisfação por ver seus planos fracassando. Mas quem sai fortalecida do embate interno é a ala tucana mais aberta à composição com Bolsonaro.
Doria é um democrata de ocasião.
Seus interesses fazem com que, nesse momento, ele julgue que vale a pena de distanciar de Bolsonaro fantasiando-se de "centro", assim como no passado recente ele julgou que o caminho era amalgamar-se com a extrema-direita.
Seus adversários internos são iguais, só que acham que a ocasião ainda não chegou. Preferem manter o lugar na fila do toma-lá-dá-cá do governo federal.
Triste fim de uma legenda que nasceu com nome socialdemocrata e coração liberal. Hoje é só um balaio de oportunistas.
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