Bolsonaro nunca foi equilibrado, mas está perdendo a noção. O chilique recente durante uma entrevista a uma jornalista não chega a espantar: o presidente foi autoritário, machista e grosseiro, como sempre. Mas o que parece ter ficado claro é que, desta vez, o comportamento era defensivo, covarde, amedrontado. Jair acusou o golpe. Anda com medo. E tem motivo para isso.
A presença da corrupção de seu governo está escancarada: na saúde e no meio ambiente, para ficar apenas nos exemplos mais recentes.
Ao demitir Ricardo Salles, depois de elogiá-lo na véspera, o presidente assina embaixo das acusações contra o ex-ministro, que vão do favorecimento de madeireiras e garimpeiros a enriquecimento ilícito, colocando até mesmo a mãe no meio.
O passador de boiada não caiu por sua política contra o meio ambiente – reconhecida internacionalmente como a pior do mundo –, mas porque é suspeito de agir a favor de interesses privados e do próprio bolso. Vendeu madeira ilegal e enriqueceu em seguida. A Polícia Federal estava ligando os pontos e o delegado responsável pelo inquérito foi afastado. Em matéria de política ambiental, no entanto, o antiministro fez o que o governo esperava e que seu substituto deve seguir fazendo.
É também a suspeita de roubo que agora ronda a saúde. Mais uma vez, não se trata apenas da mais criticada política sanitária do mundo, responsável pela marca de mais de meio milhão de mortes – 400 mil delas evitáveis de acordo com estudos de especialistas.
Além de matar brasileiros, o governo é acusado de conduzir a compra de vacinas de laboratório indiano a preços superfaturados, passando por cima de controles e pagando intermediários. Manteve ainda ações diretas com o governo indiano para acelerar o processo. Virou as costas para a Pfizer, dezenas de vezes, para correr atrás de um imunizante sem registro e mais caro.
De acordo com denúncia do deputado, até então, bolsonarista, Luis Miranda (DEM-DF), o presidente foi alertado da falcatrua e da pressão sobre funcionários do Ministério da Saúde, inclusive com provas e cópias de documentos. E não fez nada. Depois que a história vazou, culpou o denunciante em vez de investigar a denúncia.
De novo, o método foi seguido: tudo começa com uma política pública questionável e devastadora (seja contra a natureza e seja contra a vida), mesmo que explicitamente presente no projeto bolsonarista, para acabar numa deslavada corrupção. O caso da Covaxin, já chamado de Covaxingate, deve dominar os trabalhos da CPI do Senado, que atirou no que viu e acertou no que estava nas sombras.
É preciso ficar atento à repercussão desses casos pela imprensa comercial. Hoje aparentemente crítica, ela sempre aceitou o primeiro estágio do programa de governo e só agora se apressa em condenar o segundo patamar. Em outras palavras, a mídia familiar sempre defendeu a pauta apresentada pelo presidente desde a campanha, inclusive na sua falácia de combate à corrupção. Aceitou sua agenda reacionária, violenta e antidemocrática, desde que garantisse a base do projeto econômico, tendo o limitado e confiável Paulo Guedes à frente.
Ou seja, se o mercado fosse preservado, o ajuste fiscal limitasse investimentos sociais para garantir o pagamento de juros, os direitos trabalhistas dizimados e a participação popular contida, o resto era o resto. Tratava-se de um projeto de sociedade autoritário, antipopular e canalha. Nada que um candidato autoritário, antipopular e canalha não fosse capaz de realizar.
O fato de ele defender torturadores, ser próximo das milícias, não ter feito nada em quase 30 anos de parlamento, ser contra a preservação do meio ambiente, desprezar a cultura, incentivar a militarização da máquina pública, querer armar a população e defender valores discriminatórios era apenas um detalhe ou expressão de despreparo e bizarria.
O que não se esperava era que o lado obscuro da força passasse a dominar a cena. Esperava-se um governo conservador apesar de Bolsonaro e ganharam um governo Bolsonaro, apesar de conservador.
Agora a imprensa burguesa acordou para o monstro que inventou, cevou, apoiou e ajudou a eleger.
O presidente não está segurando a onda
O difícil equilíbrio ou suprema desfaçatez está em preservar o que sempre defendeu, e que hoje tem a cara de Jair Messias no que ele tem de pior (e não é pouco), e manter-se distante de sua carranca. Para isso, o discurso da corrupção deve servir como uma luva. Não é o governo que é ruim, mas o presidente e seus seguidores. Não é um acaso que se comece a destacar as qualidades de integrantes orgânicos do mesmo bando, como vice Hamilton Mourão, que parece que está gostando do papel.
O presidente não está segurando a onda. Solta impropérios e perdigotos a todo momento, sem máscara e sem educação. Está sendo seguido de perto por trânsfugas como Onyx Lorenzoni e outros menos cotados, capazes de atitudes de subserviência vergonhosas. Enquanto isso, passam boiadas em outras áreas, como a educação, a cultura e a cidadania.
Projetos como homeschooling, corte de verbas para pesquisa e universidades públicas, destruição de estruturas das artes e conhecimento e retrocessos nas ações em torno dos direitos humanos vão conquistando espaço no vazio das políticas públicas. Para esses descaminhos, a chamada grande imprensa mantém seu pequeno interesse.
A presença da corrupção de seu governo está escancarada: na saúde e no meio ambiente, para ficar apenas nos exemplos mais recentes.
Ao demitir Ricardo Salles, depois de elogiá-lo na véspera, o presidente assina embaixo das acusações contra o ex-ministro, que vão do favorecimento de madeireiras e garimpeiros a enriquecimento ilícito, colocando até mesmo a mãe no meio.
O passador de boiada não caiu por sua política contra o meio ambiente – reconhecida internacionalmente como a pior do mundo –, mas porque é suspeito de agir a favor de interesses privados e do próprio bolso. Vendeu madeira ilegal e enriqueceu em seguida. A Polícia Federal estava ligando os pontos e o delegado responsável pelo inquérito foi afastado. Em matéria de política ambiental, no entanto, o antiministro fez o que o governo esperava e que seu substituto deve seguir fazendo.
É também a suspeita de roubo que agora ronda a saúde. Mais uma vez, não se trata apenas da mais criticada política sanitária do mundo, responsável pela marca de mais de meio milhão de mortes – 400 mil delas evitáveis de acordo com estudos de especialistas.
Além de matar brasileiros, o governo é acusado de conduzir a compra de vacinas de laboratório indiano a preços superfaturados, passando por cima de controles e pagando intermediários. Manteve ainda ações diretas com o governo indiano para acelerar o processo. Virou as costas para a Pfizer, dezenas de vezes, para correr atrás de um imunizante sem registro e mais caro.
De acordo com denúncia do deputado, até então, bolsonarista, Luis Miranda (DEM-DF), o presidente foi alertado da falcatrua e da pressão sobre funcionários do Ministério da Saúde, inclusive com provas e cópias de documentos. E não fez nada. Depois que a história vazou, culpou o denunciante em vez de investigar a denúncia.
De novo, o método foi seguido: tudo começa com uma política pública questionável e devastadora (seja contra a natureza e seja contra a vida), mesmo que explicitamente presente no projeto bolsonarista, para acabar numa deslavada corrupção. O caso da Covaxin, já chamado de Covaxingate, deve dominar os trabalhos da CPI do Senado, que atirou no que viu e acertou no que estava nas sombras.
É preciso ficar atento à repercussão desses casos pela imprensa comercial. Hoje aparentemente crítica, ela sempre aceitou o primeiro estágio do programa de governo e só agora se apressa em condenar o segundo patamar. Em outras palavras, a mídia familiar sempre defendeu a pauta apresentada pelo presidente desde a campanha, inclusive na sua falácia de combate à corrupção. Aceitou sua agenda reacionária, violenta e antidemocrática, desde que garantisse a base do projeto econômico, tendo o limitado e confiável Paulo Guedes à frente.
Ou seja, se o mercado fosse preservado, o ajuste fiscal limitasse investimentos sociais para garantir o pagamento de juros, os direitos trabalhistas dizimados e a participação popular contida, o resto era o resto. Tratava-se de um projeto de sociedade autoritário, antipopular e canalha. Nada que um candidato autoritário, antipopular e canalha não fosse capaz de realizar.
O fato de ele defender torturadores, ser próximo das milícias, não ter feito nada em quase 30 anos de parlamento, ser contra a preservação do meio ambiente, desprezar a cultura, incentivar a militarização da máquina pública, querer armar a população e defender valores discriminatórios era apenas um detalhe ou expressão de despreparo e bizarria.
O que não se esperava era que o lado obscuro da força passasse a dominar a cena. Esperava-se um governo conservador apesar de Bolsonaro e ganharam um governo Bolsonaro, apesar de conservador.
Agora a imprensa burguesa acordou para o monstro que inventou, cevou, apoiou e ajudou a eleger.
O presidente não está segurando a onda
O difícil equilíbrio ou suprema desfaçatez está em preservar o que sempre defendeu, e que hoje tem a cara de Jair Messias no que ele tem de pior (e não é pouco), e manter-se distante de sua carranca. Para isso, o discurso da corrupção deve servir como uma luva. Não é o governo que é ruim, mas o presidente e seus seguidores. Não é um acaso que se comece a destacar as qualidades de integrantes orgânicos do mesmo bando, como vice Hamilton Mourão, que parece que está gostando do papel.
O presidente não está segurando a onda. Solta impropérios e perdigotos a todo momento, sem máscara e sem educação. Está sendo seguido de perto por trânsfugas como Onyx Lorenzoni e outros menos cotados, capazes de atitudes de subserviência vergonhosas. Enquanto isso, passam boiadas em outras áreas, como a educação, a cultura e a cidadania.
Projetos como homeschooling, corte de verbas para pesquisa e universidades públicas, destruição de estruturas das artes e conhecimento e retrocessos nas ações em torno dos direitos humanos vão conquistando espaço no vazio das políticas públicas. Para esses descaminhos, a chamada grande imprensa mantém seu pequeno interesse.
O governo vai se definindo assim, rumo ao seu possível ocaso antecipado, por um misto de bajuladores, incompetentes e mal-intencionados. Livrou-se, ou foi livrado pela pressão, de alguns dos mais vistosos espécimes do desvario, como Weintraub, Araújo e Pazuello. O caso de Moro é sintomático: cacifou o presidente com sua trajetória de juiz que condenou e tirou Lula da eleição e depois foi jogado fora, abrindo a porta para os desejos incontidos de intervenção na Polícia Federal para proteger filhos e amigos.
Hoje, o ex-magistrado paranaense goza do universal desprezo, sendo talvez o único consenso num país dividido: como juiz foi dado como suspeito pela Suprema Corte; em matéria de política, se mostrou infantil e hoje é carta fora do baralho da direita que se autodefine como centro; como jurista, tem as portas fechadas em todas as academias e entidades de classe sérios do Brasil e do mundo. Resta a ele ganhar dinheiro atuando no bastidor de empresas que socorrem organizações que ele ajudou a quebrar.
Messias não fechou a porta do inferno
Mas Messias não fechou a porta do inferno. O governo mantém uma reserva importante de retrocesso em franca atividade. São arrivistas que devem ficar no cargo em razão de ambição desmedida e de interesses inconfessos, até que se tornem empecilhos ou sejam a carne fresca ideal para as seguidas cortinas de fumaça vomitadas por Bolsonaro sempre que confrontado. Estão lá para isso: fazer terra-arrasada na democracia, nas políticas públicas e nos direitos consagrados pela Constituição Federal, até onde for possível, e serem jogados na fritura quando conveniente.
Quanto à imprensa hegemônica, tem a oportunidade de ocupar um espaço que não merece pelo seu histórico recente de apoio ao golpe e perseguição das esquerdas e dos movimentos populares. Vai seguir seu padrão e fechar os olhos à realidade para depois se congratular pelo que fez questão de esconder. Foi assim durante a ditadura militar, nas Diretas-já, nas jornadas de 2013, no golpe de 2016, no julgamento de Lula, na entronização da Lava-jato. E, recentemente, nas manifestações contra Bolsonaro, que foram escondidas em maio e exibidas em junho.
O presidente, pelo visto, será guiado por chiliques e retaliações. No primeiro caso, é uma confissão de culpa e fraqueza; no segundo, um exercício de seu mau caráter e desprezo pelas instituições.
Manter a pressão, em todos os momentos, nas mais distintas instâncias e a partir de todas as regiões da cidadania, é por isso uma atitude fundamental. Até mesmo para fazer frente à reação golpista que certamente vem sendo tramada no esgoto.
Hoje, o ex-magistrado paranaense goza do universal desprezo, sendo talvez o único consenso num país dividido: como juiz foi dado como suspeito pela Suprema Corte; em matéria de política, se mostrou infantil e hoje é carta fora do baralho da direita que se autodefine como centro; como jurista, tem as portas fechadas em todas as academias e entidades de classe sérios do Brasil e do mundo. Resta a ele ganhar dinheiro atuando no bastidor de empresas que socorrem organizações que ele ajudou a quebrar.
Messias não fechou a porta do inferno
Mas Messias não fechou a porta do inferno. O governo mantém uma reserva importante de retrocesso em franca atividade. São arrivistas que devem ficar no cargo em razão de ambição desmedida e de interesses inconfessos, até que se tornem empecilhos ou sejam a carne fresca ideal para as seguidas cortinas de fumaça vomitadas por Bolsonaro sempre que confrontado. Estão lá para isso: fazer terra-arrasada na democracia, nas políticas públicas e nos direitos consagrados pela Constituição Federal, até onde for possível, e serem jogados na fritura quando conveniente.
Quanto à imprensa hegemônica, tem a oportunidade de ocupar um espaço que não merece pelo seu histórico recente de apoio ao golpe e perseguição das esquerdas e dos movimentos populares. Vai seguir seu padrão e fechar os olhos à realidade para depois se congratular pelo que fez questão de esconder. Foi assim durante a ditadura militar, nas Diretas-já, nas jornadas de 2013, no golpe de 2016, no julgamento de Lula, na entronização da Lava-jato. E, recentemente, nas manifestações contra Bolsonaro, que foram escondidas em maio e exibidas em junho.
O presidente, pelo visto, será guiado por chiliques e retaliações. No primeiro caso, é uma confissão de culpa e fraqueza; no segundo, um exercício de seu mau caráter e desprezo pelas instituições.
Manter a pressão, em todos os momentos, nas mais distintas instâncias e a partir de todas as regiões da cidadania, é por isso uma atitude fundamental. Até mesmo para fazer frente à reação golpista que certamente vem sendo tramada no esgoto.
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