Ilustração: Dino Alves |
Neste 25 de novembro iniciou-se a campanha internacional 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres. A importante mobilização começa e termina em datas muitos emblemáticas: 25 de novembro foi Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres e 10 de dezembro, data do encerramento, é o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Portanto, é um momento para indivíduos e organizações levantarem a voz contra a brutalidade, para combater o silêncio conivente que maltrata e mata.
Entre as tantas formas de violências cometidas contra as mulheres, começa a receber mais atenção a violência política, resultado direto do machismo e da desigualdade de gênero ainda marcantes no Brasil. A exemplo da violência doméstica, esse tipo de agressão pode se manifestar desde uma forma mais discreta (ou simbólica), como dificultar o acesso das mulheres aos espaços de poder político, sonegando recursos para o financiamento de suas campanhas, até chegar às vias de fato, com agressões verbais, sexuais e até feminicídio. Infelizmente, temos exemplos para todos esses tipos de casos no Brasil.
Independentemente da orientação ideológica, nenhuma mulher na política está imune a agressões. Se, para os homens, não faz diferença ser magro ou gordo, feio ou bonito, para as mulheres o corpo pode se tornar um instrumento de suplício. Quem não lembra da deputada Joice Hasselmann (PSL), sendo chamada de “Peppa pig” em alusão ao seu sobrepeso? Ou dos comentários desairosos, comparando a ex-presidenta Dilma a Marcela Temer, bem mais jovem? Aliás, se tem uma mulher que sabe o que é sofrer violência política é Dilma Rousseff. Desde meios de comunicação até torcidas em estádio, atacando sua honra, nunca se tinha visto um presidente da República ser tão desrespeitado. Se ela fosse homem, o tratamento teria sido o mesmo?
Muitas vezes, além de agredirem a mulher, ameaçam sua família, como aconteceu com a ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PC do B). A filha dela, de apenas cinco anos, foi ameaçada de estupro, depois que a foto da menina foi postada em grupos que espalham mensagens de ódio nas redes sociais.
A impunidade ante a violência política é tanta que homens que agridem mulheres às vezes até viram presidente. Em 2014, quando era deputado, Jair Bolsonaro (PP) disse, no Plenário, que só não estuprava a deputada Maria do Rosário (PT) porque “ela não merecia.” Foi processado por danos morais, mas não perdeu o cargo por falta de decoro, como deveria ter acontecido. Ano passado, mais uma agressão ocorreu em plena Assembleia Legislativa de São Paulo. O deputado Fernando Cury (Cidadania) passou a mão nos seios da deputada Isa Penna (PSOL). Esta semana, ele foi expulso do partido. Uma vitória de todas nós.
Mas nenhum caso de violência política contra as mulheres é tão emblemático quanto o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, crime que traduz todo o ranço acumulado pela sociedade brasileira. Marielle era uma mulher negra, da favela, defensora dos direitos humanos e homossexual. Sua presença num espaço de poder como a Câmara Municipal do Rio de Janeiro era um acinte para preconceituosos de toda sorte. Não só incomodava, ofendia. A brutalidade da qual foi alvo, ao lado do motorista Anderson Ferreira, se perpetua na falta de solução do crime e na impunidade dos responsáveis.
Nestes 16 dias de ativismo, reafirmamos que não vamos aceitar o uso da violência como instrumento de exclusão da política. Lugar de mulher é onde ela quiser e não há possibilidade de justiça social nem de fortalecimento da democracia sem igualdade de gênero. Na esfera da política, ainda temos uma longa luta pela frente. Mas vamos começar desnaturalizando, enfrentando e debatendo o problema em cada tribuna que conseguirmos conquistar.
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