A luta de classes segue movendo o mundo. Na geopolítica internacional, há importantes mudanças em curso. Os EUA já não mandam e desmandam como antes. A potência imperialista está enfiada em uma crise econômica sem precedentes, perdendo o papel de liderança no planeta. A sua hegemonia nas armas, no front militar, também sofre abalos, como ficou evidenciado após 20 anos de ocupação criminosa no Afeganistão.
A degradação acelerada do império explica, inclusive, o trágico governo do fascista Donald Trump – um ser patético e grotesco –, o que só aumentou o isolamento dos EUA no mundo. A tentativa frustrada de manter o poder, com a violenta invasão em janeiro passado do Capitólio – o congresso ianque – confirmou o grau de degradação dessa nação apodrecida.
O declínio relativo do imperialismo ianque tem relação direta com a ascensão de outras potências, em especial da China, no terreno econômico, e da Rússia, no campo militar. Esses e outros países erguem projetos próprios de desenvolvimento nacional, alguns até com ingredientes socialistas, mas não se apresentam hoje como alternativa mundial ao capitalismo. Eles exploram as contradições e se desenvolvem no âmbito da própria economia capitalista.
Essa profunda mudança na geopolítica mundial tende a aumentar as tensões em todos os terrenos – na briga econômica-comercial por mercados, nas interferências políticas em nações dependentes, nas aventuras militares e até na guerra tecnológica em torno do 5G. Essa alteração, com a crise sistêmica do capitalismo e o declínio relativo do império, gera turbulências e incertezas, mas, ao mesmo tempo, favorece a luta dos trabalhadores.
A resistência crescente dos trabalhadores
Apesar das dificuldades estruturais, decorrentes das profundas mutações no mundo do trabalho e da brutal ofensiva neoliberal contra os direitos trabalhistas, os explorados resistem. No mundo inteiro, os trabalhadores estão em luta. Ela se expressa de diferentes formas e com distintas intensidades.
Na Europa, as greves e mobilizações sindicais têm conseguido conter, minimamente, a retirada de direitos trabalhistas e previdenciários. Há ricas experiências de lutas dos escravos dos aplicativos, dos “uberizados”, inclusive com a conquista de alguns avanços na regulamentação desse trabalho. Essas lutas também têm sido decisivas para barrar a eleição de novos expoentes da extrema-direita europeia – como em Portugal, na Espanha, na Itália e nos países escandinavos.
Já nos EUA, houve uma explosão de protestos contra o racismo e a miséria. O assassinato em maio de 2020, na cidade de Minneápolis, do trabalhador negro George Floyd – que fora infectado pela Covid-19, demitido da sua empresa e morreu sob o joelho de um policial branco – foi o estopim de uma onda de revolta só vista nos anos 1960. A frase “não consigo respirar” virou o lema dos que lutam por uma vida digna, sem opressão e exploração.
Essa massiva e radicalizada mobilização nas ruas foi decisiva para a derrota, nas urnas, do racista e negacionista Donald Trump. Ela ainda forçou o novo presidente dos EUA, Joe Biden, a abrir um debate na sociedade sobre o papel do Estado no enfrentamento da barbárie do “deus-mercado” e sobre a necessidade de novas normas contra o trabalho precário.
Das trevas às luzes no continente
Na nossa América Latina, esse processo de luta também tem produzido resultados alvissareiros. Eles ainda são incertos e instáveis, mas apontam para uma tendência positiva no próximo período. No Chile, os constantes protestos – inclusive durante a pandemia – enfraqueceram o governo neoliberal de Sebastian Piñera e resultaram no enterro da Constituição herdada do ditador Augusto Pinochet. Em dezembro de 2021, a rebeldia nas ruas resultou em uma histórica vitória nas urnas – com o rechaço do neofascista José Antonio Kast e a eleição do líder de esquerda Gabriel Boric.
Pouco antes, em novembro, Xiomara Castro foi eleita a primeira presidenta de Honduras, derrotando os fascistoides que depuseram seu marido, Manuel Zelaya, no golpe de Estado de 2009. Já em julho, no Peru, a onda de insatisfação contra o desmonte neoliberal resultou na vitória do sindicalista e professor Pedro Castillo no pleito presidencial.
Também na Nicarágua e na Venezuela, as forças direitistas, ligadas aos EUA, perderam nas urnas no ano passado. Já no final de 2020, em um feito heroico, os povos indígenas da Bolívia derrotaram a oligarquia racista e o império ianque, que haviam dado um golpe em novembro de 2019, e mandaram para a cadeia a fantoche Jeanine Áñez e os generais golpistas.
Já na Colômbia, o clima insurrecional dura mais de dois anos. Os trabalhadores e a juventude erguem trincheiras em Bogotá e outros centros urbanos, enfrentam a brutal violência policial e já derrotaram o plano de austeridade fiscal do facínora Iván Duque. Gustavo Petro, candidato de uma ampla aliança progressista, é o favorito para as eleições de maio próximo.
Dos massivos protestos de rua às urnas, os explorados do nosso sofrido continente têm derrotado as forças da ultradireita neoliberal. Com todas suas contradições e limitações, os novos governos procuram saídas para a grave crise econômica, social e política na região. Das trevas às luzes, a América Latina – que tem o Brasil como uma importante força – se levanta e volta a ter esperanças!
* Terceira e última parte do primeiro bloco. Texto elaborado como contribuição para o 10º Congresso do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema).
** Continua... No próximo bloco, uma análise da complexa conjuntura nacional.
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