Charge: Bacellar |
1 – Bolsonaro não esconde mais que já aposta com firmeza na possibilidade de impedir a eleição, ao perceber que será derrotado no primeiro turno. O plano de evitar o fiasco de uma derrota desmoralizadora se sustenta no projeto de disseminação de caos e violência, com ações isoladas que podem funcionar como faíscas e se multiplicar. As ações criminosas, que ele estimulou nessa sexta-feira em Umuarama, ao avisar que irá à guerra contra os inimigos e incentivar de novo o uso de armas, seriam contidas mais adiante pelas Forças Armadas (chamadas a intervir de acordo com o tal artigo 142 da Constituição), e a eleição seria suspensa.
2 – Se não conseguir evitar a eleição, Bolsonaro aplicará o plano B. Caos total durante a votação no primeiro turno, no dia 2 de outubro, para que os eleitores sejam desestimulados a sair de casa e o país seja inundado de mentiras sobre fraudes. Qualquer estrategista de confusão investiria no Nordeste, onde Lula vencerá de goleada. Bolsonaro pode tentar impedir o eleitor de ir às urnas onde a extrema direita está mais ameaçada de derrota. Já se sabe que o medo foi espalhado. O Datafolha mostrou em pesquisa em maio que 30% dos mesários temem ataques durante a votação. E 36% desses 30% temem agressões com armas nas sessões eleitorais.
3 – Se houver segundo turno, no dia 30 de outubro, considerando-se que a democracia teria resistido aos ataques, a extrema direita poderá estar abatida e fragilizada. Se o processo eleitoral sobreviver às agressões no primeiro turno e as instituições estiverem íntegras, a tática do caos e da simulação de fraudes nas urnas pode ser pelo menos parcialmente contida no segundo turno. Se, ao contrário, a violência se repetir ou for ampliada, mas a eleição chegar a um desfecho, mesmo que precário, a próxima etapa será a mais traumática. É a etapa final da apuração.
4 – Na apuração, sem poder infiltrar os militares em um puxado paralelo de contagem de votos, Bolsonaro tentará empastelar o processo, como Trump fez nos Estados Unidos e como aconteceu na Bolívia e no Peru. Mas como isso será possível, se não temos o imbróglio do voto impresso? A apuração será agredida pela disseminação de fake news sobre fraudes e erros, ao lado de contagens pretensamente paralelas e todo tipo de ‘notícia’ que confunda a população. E poderemos ter pressões sobre o TSE, o Supremo e o Congresso, com ações violentas em Brasília. Veremos a nossa versão da Síndrome do Capitólio, com a possível participação de barbudos com par de guampas.
5 – Na hipótese de não acontecer nada parecido com os cenários descritos antes, imagina-se então que a votação e a apuração terão sobrevivido, mesmo que com algumas sequelas. Lula é dado como eleito, antes mesmo do anúncio oficial do TSE. Bolsonaro apertará então o último botão e chamará seu povo às ruas, para que, antes dos militares, suas milícias armadas façam o serviço de espalhar o terror. E nesse caso, como está previsto em todas as hipóteses, os generais serão convocados para que atuem em nome do poder moderador.
6 – No dia 31 de outubro, uma segunda-feira, o Brasil acordará de novo sob ditadura. O Centrão estará desolado por ter embarcado numa fria. Banqueiros, latifundiários, grileiros, pastores, milicianos, garimpeiros, assassinos de índios, racistas, homófobos e todo tipo de bandido convocarão reuniões remotas. Em algum momento eles se darão conta de que o chefe do golpe ainda é um miliciano e de que não há ninguém por perto, mas ninguém mesmo, que se pareça com um Castello Branco, um Médici, um Geisel, um Figueiredo, ou até mesmo um Costa e Silva ou um Sylvio Frota. Não enxergarão como aliados nem imitações grosseiras de um Magalhães Pinto, um Sobral Pinto, um Severo Gomes, um Daniel Krieger, um Teotônio Vilela, um Paulo Brossard. Não verão um americano por perto, nem um arremedo do embaixador Lincoln Gordon, o avalista do 1964. A falta de um grupo assemelhado a toda essa gente com e sem farda será o problema e o fracasso do golpe.
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