Numa ação inusitada, o delegado Bruno Calandrini, responsável pela investigação sobre o balcão de negócios no Ministério da Educação que levou à cadeia o pastor Milton Ribeiro, pediu nesta semana ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prisão de integrantes da cúpula da Polícia Federal. O pedido está nas mãos da ministra Cármen Lúcia, encarregada do inquérito sobre a “santa” corrupção no MEC.
Segundo o site Metrópoles, “Calandrini alega ter havido interferência do alto comando da corporação nas apurações sobre o caso. É a primeira vez, na história recente, que um delegado pede a prisão da cúpula da PF. Pouco depois da prisão de Milton Ribeiro, Bruno Calandrini chegou a afirmar, em mensagem enviada a um grupo de policiais federais, que seus superiores estariam impondo obstáculos ao bom andamento da investigação. Ele escreveu que não tinha ‘autonomia investigativa para conduzir o inquérito deste caso com independência e segurança institucional’”.
O delegado amotinado afirmou ainda que houve uma “decisão superior” para que o ex-ministro-pastor não fosse transferido de São Paulo para Brasília quando da deflagração da ação policial. “Calandrini apontou, com base em telefonemas interceptados com autorização judicial, indícios de que o presidente Jair Bolsonaro teria alertado Milton Ribeiro do risco iminente de deflagração da operação”, descreve o site.
Surpresa, bronca e retaliações
O pedido de prisão da cúpula bolsonarista da Polícia Federal caiu como uma bomba em Brasília. “Dentro da PF, já havia certa expectativa de que Calandrini, que virou alvo de uma sindicância interna após acusar seus superiores de interferir na investigação, poderia recorrer a uma medida extrema. O temor da direção aumentou dias atrás, com a constatação de que ele havia pedido ao Supremo uma medida cautelar. Os autos tramitam em segredo de Justiça”.
O delegado acumula atitudes inusitadas, surpreendentes. Em maio passado, ele solicitou ao ministro Luís Roberto Barroso, do STF, que expedisse ordens de busca e apreensão em endereços do abutre da Economia, Paulo Guedes, e do engavetador-geral da República, Augusto Aras. Alegou que ambos cometeram crimes de prevaricação, advocacia administrativa e embaraço a investigações em curso na PF. O pedido, porém, foi negado pelo ministro do STF. “Os fatos descritos pela autoridade policial são insuficientes para que se possa concluir, ao menos neste momento, pela probabilidade da ocorrência das condutas”, justificou Luís Roberto Barroso.
"Quem vai cumprir a ordem de prisão"?
O caso atual é mais ruidoso e Bruno Calandrini virou alvo da ira da direção do órgão. Segundo matéria do Metrópoles desta segunda-feira (15), “a notícia de que o delegado responsável pela investigação do escândalo que levou à cadeia o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro pediu a prisão da cúpula da PF por interferência no caso repercutiu muito mal dentro da corporação... Em privado, delegados que ocupam cargos de direção na PF se disseram surpresos com iniciativa de Calandrini e criticaram duramente a postura do colega”.
“Poucos acreditam que a ministra acolherá o pedido. Ao mesmo tempo, há um certo clima de apreensão porque ninguém sabe ao certo quais elementos embasam a petição apresentada ao STF. Por razões óbvias, o delegado não submeteu o pedido a seus superiores antes de enviá-lo à Corte. ‘Se ela (Cármen Lúcia) deferir, quero ver quem vai cumprir a ordem de prisão’, diz um delegado que ocupa uma importante posição na hierarquia da Polícia Federal”.
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