Foto: Ricardo Stuckert |
Interceptado por uma pequena cirurgia nas cordas vocais, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva deverá vir a Brasília, amanhã, para consolidar a formação dos grupos de Inteligência e da Defesa, últimos tijolos do edifício da transição sobre os quais se pretendem erguer uma nova organização capaz de expulsar dois anátemas do serviço público nacional: o militar golpista e o espião de anedota.
O primeiro grupo vai se aprofundar no mundo de sombras e pântanos que se transformou, no governo Bolsonaro, o setor de inteligência do Estado, uma anarquia de bolsões de arapongas que deixaram de se comunicar pelas vias institucionais para atender às demandas pessoais do presidente e de seus filhos delinquentes.
Em 2020, descobriu-se que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) produziu relatórios para ajudar a defender o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) no esquema de “rachadinhas” da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quando o 01 era deputado estadual.
O chefe do grupo será o general da reserva Marcos Edson Gonçalves Dias, ex-chefe da segurança presidencial de Lula e colaborador da campanha do PT.
Dias deverá ser, por isso mesmo, o próximo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), uma jabuticaba inventada no governo Fernando Henrique Cardoso que acabou se tornando um escritório de atividades difusas que encerrou, para o bem e para o mal, a comunicação direta entre o presidente da República e a Abin, herdeira do nefasto Serviço Nacional de Informações (SNI), da ditadura militar.
Essa interdição, ao mesmo tempo que livrou o presidente da responsabilidade direta pela ação dos arapongas, afrouxou os sistemas de controle da instituição.
O grupo de Dias vai estar em sintonia com os da Defesa e Segurança, porque o protagonismo da Polícia Federal será de fundamental importância na criação dos novos fundamentos da relação entre os setores de inteligência e as forças de segurança.
Embora maciçamente lavajatista, a migração dos admiradores de Sérgio Moro, na PF, para o universo bolsonarista foi limitado.
A decepção dos policiais com as falsas promessas de aumento salarial e valorização da corporação feitas por Bolsonaro, aliada à perseguição e afastamento de delegados envolvidos nas investigações sobre a família do presidente, deslocou parte considerável da tropa para a oposição.
O diretor-geral da PF do próximo governo do PT será, não obstante mudanças de última hora, o delegado Andrei Rodrigues, que chefiou a segurança pessoal de Lula, durante a campanha eleitoral.
Rodrigues não foi parar ao lado do candidato petista à toa. A escolha dele para a campanha, referendada pela atual direção da instituição, foi feita a partir de um filtro ideológico manipulado por muitas mãos, inclusive a partir de consultas prévias feitas junto a delegados, tanto os declaradamente de esquerda como os lavajatistas com sede de vingança contra Bolsonaro.
O GSI precisa dessa interface com a PF e, por extensão, com o Grupo de Segurança da transição para fazer parte do processo de organização legal de desarmamento do País, a ser tocado pelo futuro ministro da Justiça, ao que tudo indica, o ex-governador do Maranhão e senador eleito do PSB Flávio Dino.
É da fusão desses interesses e interessados que virá uma proposta geral de revogação dos decretos de armas baixados por Bolsonaro, com regras para devolução de armamentos via indenização, e a desconstrução dos chamados clubes de tiro, as fabriquetas de fascistas espalhadas pelo Brasil.
Os frequentadores desses bordéis de psicopatas não terão mais autorização, por exemplo, de levar armamento para casa, todo equipamento terá que ficar nas dependências do clube, sob supervisão da Polícia Federal.
Além disso, o cerco vai se fechar em torno da bandidagem bolsonarista escondida atrás dos grupos de colecionadores, atiradores esportivos e caçadores, os famosos CACs.
Praticamente todas as permissões serão retiradas e o número de armas e munição de cada CAC será drasticamente reduzido.
Ou seja, será um tiro no coração do bolsonarismo.
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