domingo, 19 de março de 2023

Lula supera Bolsonaro, mas inspira cuidados

Foto: Ricardo Stuckert
Por Altamiro Borges


Pesquisa Ipec (ex-Ibope) divulgada pelo jornal O Globo neste domingo (19) mostra que o presidente Lula começou o seu terceiro mandato com uma avaliação de governo melhor do que a do fascista Jair Bolsonaro no mesmo mês de março, mas inspirando menos apoio e empolgação do que em suas duas outras gestões. O quadro é positivo, mas preocupante.

Segundo a sondagem, 41% dos brasileiros classificam a gestão do petista como boa ou ótima; 24% dizem que ela é ruim ou péssima e 30% consideram que é regular. Em março de 2019, a avaliação positiva do covil bolsonarista era de 34% (24% de ruim e péssimo e 34% de regular). Mas apesar de superar o adversário, Lula está aquém de seus dois mandatos anteriores.

Lula chegou a ter 51% de ótimo e bom em março de 2003, quando comandou o país pela primeira vez. Naquele momento, a reprovação era de apenas 7%. No mesmo mês de 2007, logo após sua reeleição, o seu governo teve a aprovação de 49% da população, contra 16% que o achavam ruim ou péssimo.

Polarização política e expectativas

Na avaliação de Márcia Cavallari, diretora do Ipec, “a pesquisa mostra que a polarização política continua. Considerando esse cenário, que é distinto do que o Lula encontrou nos outros mandatos, ele começa num bom patamar”. A tendência, porém, é que os resultados piorem rapidamente caso o novo governo não cumpra seus compromissos de campanha.

Por segmentos dos entrevistados, a sondagem mostra que o Nordeste, única região onde Lula foi o mais votado na eleição, é o lugar em que ele tem seu maior percentual de aprovação (53% de ótimo ou bom). Foi também onde o PT conseguiu eleger governadores: Jerônimo Rodrigues (BA), Elmano de Freitas (CE), Fátima Bezerra (RN) e Rafael Fonteles (PI). A maior rejeição ao governo está no Centro-Oeste e no Norte: são 31% os que reprovam a atual gestão. No Sudeste, onde vivem quatro em cada dez brasileiros, 36% têm percepções positivas, contra 26% que pensam o oposto.

O início do governo Lula também confirma a dificuldade de aceitação entre os evangélicos. “Nesse grupo, que corresponde a mais de um quarto da população, são 31% os que avaliam a gestão petista como boa ou ótima, 32% os que a veem como regular, e 32% os que a classificam como ruim ou péssima. Na comparação com os católicos, a diferença é ainda maior: 45% dos seguidores dessa religião aprovam o governo, e 21% desaprovam”, detalha o jornal O Globo.

Pesquisa Ipec faz soar o alerta

A decisão de Lula de “cuidar dos mais pobres”, enfatizada em todos seus discursos e nas principais iniciativas concretas da nova administração, mostra-se totalmente acertada na sondagem do Ipec e evidencia a polarização na sociedade. “Metade dos brasileiros que ganham até um salário mínimo classifica o governo Lula como bom ou ótimo. Já na parcela mais rica da população, com ganhos mensais acima de cinco salários mínimos, a taxa de aprovação cai para 38%”.

A primeira grande pesquisa sobre o novo governo serve de estímulo às futuras ações, mas também faz soar o alerta. Não será nada fácil governar em um contexto tão adverso. No cenário internacional, o clima é de guerra nada fria entre EUA, Rússia e China e de muitas turbulências financeiras e até quebradeiras no capitalismo.

No terreno minado da economia, o Brasil segue empacado com juros pornográficos, austericídio fiscal e o terrorismo do “deus-mercado” – vide a recente suspensão do crédito consignado aos aposentados. Já no campo político, a correlação de força é extremamente desfavorável no Congresso Nacional, que a esquerda é minoritária e o Centrão aumentou seu poder.

Flexibilidade tática e firmeza estratégica

Além disso, a extrema-direita continua bem ativa, envenenando setores da sociedade nas redes digitais e nos templos. As derrotas do bolsonarismo na eleição presidencial e na tentativa de golpe do 8 de janeiro não devem gerar acomodações ou ilusões. A batalha de ideias continua sendo decisiva e ainda estamos perdendo feio na guerra comunicacional.

Com muita habilidade tática e firmeza estratégica, o governo Lula precisa acelerar as mudanças concretas que mexem na vida do povão, destravar a economia e intensificar o debate na sociedade, num grande esforço pedagógico de politização, mobilização e organização. Já aos movimentos sociais, cabe manter a pressão e apostar toda a energia e a criatividade para ocupar as ruas e as redes. O próprio Lula tem insistindo que não há tempo a perder. Ele sabe dos enormes obstáculos no caminho do seu governo, que pode nem chegar ao fim!

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