Foto: Elineudo Meira (Choquito) |
Do que a mídia periférica fala? De tudo! O recado é da Laís Diogo, que atua há seis anos no Periferia em Movimento, produtora de “jornalismo de quebrada”. “Falamos desde o Grajaú [zona sul de São Paulo], mas falamos do mundo inteiro a partir do Grajaú”, afirma a estudante de Serviço Social.
A ideia é endossada por Gisele Alexandre, jornalista, fundadora do podcast Manda Notícias e editora-chefe do jornal independente Espaço do Povo, localizado na favela do Paraisópolis, também na capital paulista.
Laís e Gisele participaram de debate sobre mídia periférica neste sábado (6), durante o 4º Encontro Estadual de Blogueir@s e Ativistas Digitais de São Paulo. Com mediação de Anderson Moraes, fundador do Jornal Empoderado e coordenador do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, a discussão produziu uma instigante reflexão sobre o papel e o espaço dos sujeitos periféricos no campo das mídias independentes.
“Não falamos só sobre os buracos nas ruas e a violência. Periferia também circula a cidade, também fala de política, de Internet, de luta e tudo o que envolve as nossas vidas”, argumenta Laís Diogo. “Produzimos noticias e conteúdos sobre economia, cultura, sociedade. Mas também sobre nossa história, nossa ancestralidade, sobre a história de onde viemos e vivemos. Vamos nos apropriando do jornalismo para fazer ativismo e vice-versa”.
Segundo a representante da Periferia em Movimento, a comunicação produzida por iniciatiavas de mídias periféricas preenche uma lacuna de extrema importância: a construção da memória nos territórios. “Quando escrevemos o que aconteceu e o que está acontecendo, ajudamos a construir essa memória. Produzimos uma série chamada Matriarcas, que conta a história de mulheres que chegaram no Grajaú há 40, 50 anos e construíram essa história. Há muitas histórias a serem contadas”, sublinha.
“Falamos sobre tudo. De governo e política a temáticas que nos são importantes, sempre com a transversalidade de questões como gênero e raça”, explica Gisele Alexandre. A jornalista dirige o Espaço do Povo, veículo que existe há 16 anos com circulação impressa em Paraisópolis. Para Gisele, o direito à comunicação tem de ser garantido nos territórios e essa é uma das marcas da iniciativa.
Fundadora do Manda Notícias, Gisele explica que trata-se de um projeto de comunicação que envolve a produção de notícias sobre cultura, mas que se debruça sobre o tema da educomunicação, “para que os sujeitos periféricos sejam educados midiaticamente, inclusive para se entenderem enquanto sujeitos periféricos”.
“A importância de participarmos de eventos como esse”, destaca Gisele, “é mostrar que comunicação independente também tem a ver com a gente, que está nas quebradas produzindo mídia”.
Mediador e anfitrião do papo, Anderson Moraes argumenta: “Nós, das mídias pretas e periféricas, não estamos aqui só para contar histórias tristes de onde viemos. Estamos aqui para contar histórias de todos os lugares e exigimos respeito e recursos”.
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