Charge: Thiago |
Um resumo rápido dos primeiros debates com os pré-candidatos a prefeito nas grandes capitais, promovidos pela Band, é terrível para Bolsonaro. Ninguém, com exceção de Alexandre Ramagem no Rio, quer expor vínculos com o sujeito.
Não chegam a esconder, como Ricardo Nunes não escondeu, mas o bom mesmo, se possível, é evitar seu nome. Como evitaram citar Bolsonaro os bolsonaristas Sebastião Melo (Porto Alegre), Bruno Engler (Belo Horizonte), Pablo Marçal (São Paulo), Bruno Reis (Salvador).
Em Curitiba, os jornais informam que três candidatos da direita, Eduardo Pimentel, Maria Victoria e Ney Leprevost, lembraram suas proximidades com o governador Ratinho Júnior e mantiveram distância de Bolsonaro.
Enquanto isso, Maria do Rosário (Porto Alegre), Guilherme Boulos (São Paulo), Geraldo Júnior (Salvador), Tarcísio Motta (Rio) e Rogério Correia (Belo Horizonte) reconheciam seus vínculos com Lula.
Citaram o presidente, mesmo que alguns sem muita ênfase, para não correr riscos e nacionalizar uma eleição local, mas com uma naturalidade que a direita não tem mais para se grudar a Bolsonaro de forma intensa e quase incondicional.
A velha direita que embarcou na onda bolsonarista em 2018, com adesões fervorosas de Eduardo Leite e João Doria, para citar apenas dois exemplos, foi menos entusiástica nas eleições municipais de 2020 e encabulada e camuflada em 2022. E agora pode estar abandonando Bolsonaro, sem abandonar suas bandeiras.
As explicações não são complexas. A polarização hoje interessa menos ao bolsonarismo do que ao lulismo, mesmo o ocasional e eleitoral, representado por candidatos que não são do PT, como o emededista Geraldo Júnior em Salvador.
Por que Maria do Rosário, Correia, Motta, Boulos, Eduardo Paes e até Geraldo citam Lula, e a direita e até a extrema direita têm dificuldade para citar Bolsonaro?
Porque a direita sugada pela extrema direita está mais cautelosa e porque até os candidatos do fascismo não sabem quantos cadáveres ainda há no armário.
Até para a extrema direita alugada, a polarização hoje talvez mais atrapalhe do que ajude em eleições paroquiais com suas particularidades. Mesmo nas grandes capitais, Bolsonaro pode funcionar mais como espantalho.
Alexandre Ramagem é um pregador bolsonarista único, pela fidelidade pessoal ao líder que ele mesmo grampeou. O resto tem muitos engajamentos eventuais que podem desfazer compromissos com uma figura no purgatório, mas já com uma perna no inferno.
O que não quer dizer que bandeiras erguidas por Bolsonaro não serão mais carregadas nas capitais, em cidades médias e vilarejos, e não só pelo PL e semelhantes. O antigo conservadorismo está viciado de bolsonarismo.
A mensagem é outra. Direita e extrema direita estão avisando hoje a Bolsonaro que podem seguir em frente, com a mesma pegada e com Deus acima de tudo, mas sem andar de mãos dadas com ele.
Ah, dirão alguns, mas tem a eleição de 2026, e aí pode mudar tudo, se grandes cidades continuarem sob controle de bolsonaristas verdadeiros ou intermitentes. Claro que pode, principalmente se o sistema de Justiça continuar travado.
Mas hoje, nas fotos dos candidatos a prefeito, fica claro que Bolsonaro só apareceria de forma protocolar e como pagamento de dívidas políticas pesadas, a maioria assumida há seis anos.
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