segunda-feira, 14 de julho de 2025

Porque o Brasil entrou na mira de Trump

Charge: Fred Ozanan
Por Luís Nassif, no Jornal GGN:

Steve Bannon está de volta. O grande ideólogo inicial de Donald Trump foi provisoriamente ofuscado por Elon Musk e, agora, volta à cena.

Todo o esquema Trump move-se apenas por dinheiro. Não interessava a Elon Musk envolver-se em quizilas com países, para não prejudicar seus negócios com parceiros comerciais. Trump o manteve como conselheiro devido aos polpudos financiamentos de campanha recebidos. E, provavelmente, à sua capacidade de trabalhar os grandes bancos de dados públicos e montar modelos de negócios em cima deles.

Como já descrevi em artigos anteriores, o modelo de projeção de poder dos Estados Unidos foi remodelado. Antes, era pelo poder das armas e do dólar. Depois, trocaram as alianças militares por pactos com o sistema Judicial. Surgem daí a Operação Lava Jato Brasil, Coréia, França, a operação contra a FIFA, na qual agentes norte-americanos prenderam dirigentes da FIFA em pleno território suiço.

Esse modelo veio acompanhado pelas primeiras incursões das big techs, com os algoritmos ajudando a criar o apoio na opinião pública, convalidando os movimentos políticos da Justiça e ajudando a expandir a ultradireita norte-americana, que forneceu a base ideológica das sucessivas primaveras.

E, no centro dela, Steve Bannon e sua frase célebre: “A maior ameaça ao avanço da direita é Lula”.

Vamos entender melhor o fenômeno Steve Bannon e as ideias por trás da ofensiva de Donald Trump contra o Brasil, com a ajuda de pesquisas feitas em sistemas de Inteligência Artificial.

Peça 1 – o início de Bannon

Steve Bannon nasceu em 1953, de família católica de classe trabalhadora. O pai era operador de telefonia e veterano da guerra da Coreia. Bannon serviu por sete anos na Marinha dos Estados Unidos e tornou-se assistente do Chefe de “Operações Navais do Pentágono”. Depois de deixar a Marinha, obteve MBA pela Harvard Business School e mestrado em estudos de segurança nacional na Georgetown University.

Terminou no mercado financeiro, primeiro como banqueiro de investimentos no Goldman Sach e, depois, em sua própria firma de investimentos, a Bannon & CO focado na mídia. Acabou investindo na indústria cinematográfica, como produtor de filmes. Todos seus filmes já tinham componentes ideológicos:

In the Face of Evil: Reagan’s War in Word and Deed (2004)

Documentário de exaltação à Ronald Reagan e à guerra fria contra o comunismo. A repercussão do documentário abriu-lhe os olhos para o mercado da ultradireita, que começava a se formar.

Generation Zero (2010)

Documentário sobre a crise financeira de 2008 sob a ótica da “teoria dos ciclos históricos” (Fourth Turning). Nele, afirma que os baby boomers corromperam os valores norte-americanos, levando a um colapso inevitável. O documentário teve forte influência retórica nos discursos da campanha de Trump.

Occupy Unmasked (2012)

Documentário (produtor executivo) crítico ao movimento Occupy Wall Street, apresentado como movimento violento e manipulado por interesses marxistas. O apresentador era Andrew Breitbart.

The Undefeated (2011)

Documentário e, homenagem a Sarah Palin, ex-governadora do Alasca e ícone da direita populista. A intenção foi prepará-la para uma possível candidatura à presidência.

Orchbearer (2016)

Documentário com Phil Robertson (Duck Dynasty), em defesa da moral cristã contra o que Bannon vê como a decadência ocidental.

Peça 2 – o início da militância e o alt-right

Em 2012, Bannon tornou-se presidente executivo do site Breitbart News, de extrema-direita, fundado por Andrew Breitbart, adotando postura ultranacionalista, anti-imigração e conspiracionista, ligado ao movimento alt-right.

Esse movimento surgiu nos Estados Unidos em 2010, com posições nacionalistas, identitárias, anti-imigração, antiglobalistas e racistas e xenofóbicas. Nasceu combatendo tanto a esquerda como a direita tradicional. Projetou-se na campanha de Donald Trump em 2015-2016.

Em 2017, promoveu a Marcha em Charlottesville (“Unite the Right”), episódio que associou definitivamente o movimento ao supremacismo branco e violência.

A partir daí, a ultradireita ganha dimensões internacionais, com algumas diferenças entre si.

Alt-right é mais abertamente racializada e radicalizada, com laços com milícias e supremacismo.

Nova Direita Europeia articula sua agenda de forma mais “culta”, usando filosofia e teoria social, apesar de também flertar com o autoritarismo.

Direita populista brasileira mistura liberalismo econômico (Paulo Guedes, MBL) com conservadorismo religioso e teorias conspiratórias; é mais reativa e polarizada do que elaborada conceitualmente.

Peça 3 – a Quarta Reviravolta

A ultradireita passa a assumir as mesmas posições, mesmo em países tão díspares como Rússia, Estados Unidos e Brasil – aqui, com as tentativas do ex-deputado, ex-comunista e ex-ministro Aldo Rebelo.

A teoria de Bannon é batizada de Quarta Reviravolta, a de Aleksandr Dugin, de Quarta Teoria, e a de Aldo, o Quinto Movimento.

No final da linha, os quintos do inferno.

Dugin busca uma ordem tradicional antimoderna, em que a Rússia lidera uma civilização eurasiana contra o Ocidente liberal.

Bannon quer salvar o Ocidente rejeitando o liberalismo e restaurando a moral cristã tradicional, em conflito com China e globalismo.

Aldo Rebelo propõe um nacionalismo soberanista e produtivista, com raízes no trabalhismo e crítica ao imperialismo e com a ordem mantida por militares.

Convergências

Todos defendem Estados fortes, rejeição à ordem liberal global e valorização das tradições culturais nacionais.

Todos atacam o que chamam de “globalismo”, ainda que com sentidos distintos (financeiro, cultural ou imperialista).

Todos valorizam a identidade nacional como núcleo de resistência frente a pressões externas.

A Quarta Reviravolta de Bannon baseia-se em uma teoria da história proposta pelos autores norte-americanos William Strauss e Neil Howe no livro The Fourth Turning: An American Prophecy (1997).

Ela descreve a história como uma sequência cíclica de quatro “turnings” (reviravoltas) que se repetem aproximadamente a cada 80 a 100 anos - o tempo de uma vida humana.

(...)

A teoria prevê que os EUA (e o mundo ocidental) estão atualmente na Quarta Reviravolta (desde 2008, com a crise financeira).

Eventos catalisadores: Crise de 2008, ascensão do populismo, pandemia de Covid-19, guerra na Ucrânia, ataques à democracia, instabilidade global.

Segundo Bannon e outros entusiastas da teoria, o clímax ocorrerá por volta de 2030, e pode resultar em:

- Revolução política

- Guerra civil ou internacional

- Colapso de instituições

- Reforma do sistema econômico

A teoria influenciou Steve Bannon, que passou a ver Trump como o líder capaz de conduzir os EUA por essa “crise regeneradora”. Também influenciou discursos sobre colapso do “establishment” e o nascimento de uma nova ordem (nacionalista, religiosa e anti-globalista).

Peça 4 – a influência no Brasil

A influência no Brasil deu-se no campo ideológico, em estratégias de comunicação, mobilização de massas e construção de narrativa de “crise sistêmica”.

Eduardo Bolsonaro tornou-se o principal elo com a política brasileira. Participou de eventos organizados por Bannon. Tambémn sofreu influência de Olavo de Carvalho, que semeou os primeiros conceitos, abrindo espaço para as ideias de Bannon.

(...)

O Brasil entrou na mira de Steve Bannon a partir da eleição de Bolsonaro em 2018. Bannon declarou apoio direto à campanha de Bolsonaro e ofereceu consultoria informal. Defendeu que o Brasil era essencial para a revolução populista mundial e declarou que Lula era a maior ameaça à expansão da ultradireita.

A influência da Quarta Reviravolta no Brasil levou à construção de uma narrativa de “crise terminal” que justificaria uma ruptura autoritária travestida de regeneração patriótica.

Peça 5 – a influência de Lula

Desde 2018, Bannon passou a ver Lula como a maior ameaça à direita mundial, por vários motivos:

Influência em redes globais de esquerda: Lula é apontado por Bannon como um articulador da esquerda internacional, que pode moldar narrativas e alianças progressistas.

Impacto ideológico estratégico: Vencer o Brasil representa vencer um marco decisivo contra o avanço populista de direita.

Capacidade de mobilização: Lula possui base sindical e popular forte, e mantém relações positivas com atores globais (BRICS, Europa, ONU) — o que dá escala à sua influência.

Após a prisão e posterior libertação de Lula (2018–2021):

Bannon passou a citar Lula como um símbolo da “volta da esquerda globalista”.

Ele o descrevia como uma figura com forte apelo popular, que poderia rearticular a esquerda latino-americana.

5. Durante a campanha de 2022:

Em podcasts e entrevistas (como no “War Room”), Bannon chamou Lula de “criminoso comunista” e “fantoche do globalismo”.

Afirmou que Lula, ao voltar ao poder, seria “mais perigoso que nunca”, pois teria apoio internacional (especialmente da Europa, China e setores da ONU) e representaria uma coalizão anti-Bolsonaro e anti-Trump.

Essa é a razão do Brasil ter se tornado o centro da disputa da civilização contra a destruição proposta pela ultra-direita. E a razão das eleições de 2026 seram essenciais nessa guerra.

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