quarta-feira, 10 de março de 2010

Hélio Costa e Palocci no Café Millenium

Dois “intrusos” participaram na semana passada do fórum do Instituto Millenium, que reuniu os barões da mídia e notórios inimigos do governo Lula: o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e o deputado petista Antonio Palocci. É certo que os dois têm familiaridades com as elites. Antes de virar ministro, Costa foi homem de confiança da TV Globo, responsável por sua sucursal nos EUA. Já o ex-ministro da Fazenda se converteu ao credo neoliberal, aplicando de forma canina a política macroeconômica ortodoxa, o que angariou a simpatia dos banqueiros e donos da mídia.

Mesmo assim, é estranho que tenham participado de um convescote da oposição mais raivosa ao presidente Lula, dando-lhe uma aura de “pluralidade e legitimidade”. Ambos ouviram os ataques histéricos ao atual governo, mas se fingiram de mortos e nem ficaram constrangidos. O ministro Costa, que tentou evitar a convocação da Conferência Nacional de Comunicação, até reforçou as criticas aos seus colegas de governo, segundo relato do Portal IG, opondo-se ao Plano Nacional de Direitos Humanos e à resolução da Confecom que prevê a participação popular no setor.

Alegria da “seleta platéia”

Já o deputado petista tentou agradar seus chegados. “Vira e mexe surge uma vontade no governo de controlar a mídia. O Brasil caminha num sistema democrático, embora apareçam fatos como o PHDH... Não vejo necessidade da ação governamental para ver se um jornal está desrespeitando os direitos humanos”, afirmou Palocci para a alegria da “seleta platéia”. Ele ainda tentou livrar a cara dos oligarcas da mídia. “Há concentração na comunicação, mas há em várias atividades no país. Considero normal e uma característica do amadurecimento da economia a concentração”.

A presença dos dois no antro da Millenium irritou os que não têm sangue de barata. O blogueiro Glauco Farias escreveu: “Se Palocci tivesse saído do PT no prazo regulamentar, talvez Serra não tivesse hoje tantos problemas para contar com um vice de peso”. Para Eduardo Guimarães, as presenças do “mais tucano dos petistas” e do atual ministro indicam que o governo não regulará o setor. Tanto que o pitbul Reinaldo Azevedo chamou Palocci de “garantidor”. “Palocci e Costa foram ao evento do PIG ‘garantir’ que não haverá controle social dos meios de comunicação”.

“Sua noite de primeiro mundo”

Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista sempre bem-humorado e irreverente, comparou o Instituto Millenium ao Café Millenium – “estabelecimento classe A, onde gente de primeira ia buscar diversões, digamos, adultas até julho de 2007, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. O Café Millenium não escondia o seu negócio. O slogan era ‘sua noite de primeiro mundo’. Com belíssimas garotas a excitar a imaginação e a ação de senhores de fino trato, ele vendia o que anunciava”. Hélio Costa e Antonio Palocci devem explicações sobre a visita ao Café Millenium!

.

4 comentários:

Mirabeau Bainy Leal disse...

Os únicos reacionários ao governo de Lula e à sua candidata, Dilma Rousseff, foram os donos da grande mídia, reunidos em SP sob o patrocínio do Instituto Millenium.
Isto foi um incidente extremamente grave para a Democracia.
E não o foi pelo fato da mídia se organizar contra o governo e sua candidata. Isso ocorre em qualquer outro país capitalista, tanto nas mídias de direita quanto de esquerda, tanto a favor como contra o governo.
A gravidade está no fato de que absolutamente todos os grupos de mídia do país e tão-somente esses grupos
reagiram à ação de uma candidata de um determinado partido político que está no governo.
A grande mídia está reagindo como se partido político fosse. E partido de extrema-direita.
Para quem assistiu ao evento do Instituto Millenium ou leu o conteúdo das manifestações dos representantes da Editora Abril/Veja, Rede Globo, Estadão e Folha de São Paulo, dentre outros, ficou evidente que, sob o manto do tema "liberdade de expressão", foi ali elaborado um plano articulado entre todas as mídias, com o objetivo exclusivo de combater o governo Lula e destruir sua candidata, nos moldes das piores tramas militares golpistas.
A Veja tomou a iniciativa, até porque é uma revista da Editora Abril para quem tanto faz se está mentindo ou falando a verdade, se possui assinantes ou não, pois é sustentada pelo capital estrangeiro, só para atacar a esquerda.
E outros ataques virão para causar insegurança institucional.
É preciso estar em alerta!

Cristiana Castro disse...

Olha Miro, eu vou ser bem franca, no quesito explicações, o Governo não fica atrás do Hélio Costa e do Palocci, não. Onde qq um estava com a cabeça, na hora de nomear Hélio, o _OSTA, para Min. das Comunicações? Se colocar a TV Globo sentada no governo, era pré-requisito para gorvernar em paz, não funcionou. Acho uma sacanagem, a militância ralando na rede e o Ministro das Comunicações confraternizando com o que há de pior nesse país. É claro que Hélio _OSTA, faria esse papel, mas isso todo mundo já sabia. A presença dos dois foi um desrespeito a sociedade que tem apoiado, de forma, incondicional, o Governo de Lula, todas as vezes em que essa turma do Millenium avacalha com ele, seu governo, seu partido e militância. Hélio -OSTA, tinha que ter sido "degolado", a saída do evento e Palocci, idem. Se vamos continuar reféns da TV Globo, é bom que o governo nos esclareça pq a partir daí, cada um escolhe o que quer fazer.

Alexandre Figueiredo disse...

Altamiro, me lembro bem dos meus tempos de infância, quando via o Hélio Costa fazendo reportagens na Rede Globo. Ele depois "sumiu", seguindo carreira política, e há tempos ele segue trajetória ministerial, sendo um dos muitos direitistas que vestem a capa de "centro-esquerda" no país.

Diogo Costa disse...

Olá Altamiro!!! Gostaria de te pedir para publicar este artigo ou para fazer um post sobre o mesmo. É um tema de crucial importância para a esquerda brasileira e muito pouco debatido. Um abraço e me desculpe por fugir do tema principal deste post!


Breve História da Correlação de Forças na Câmara dos Deputados

A sociedade brasileira é eminentemente conservadora. Pode-se medir com precisão este perfil através do percentual de votos dos Partidos para a Câmara dos Deputados ao longo da história:

- Percentual de votos válidos, para a Câmara dos Deputados, dos sucedâneos da ARENA e MDB (PDS, PFL, PPB, PPR, PP, DEM, PMDB e PSDB), entre 1982 e 2006;

1982 (PDS/PMDB) – 86,2%

1986 (PDS/PFL/PMDB) – 73,4%

1990 (PDS/PFL/PMDB/PSDB) – 49,3%

1994 (PP/PPR/PFL/PMDB/PSDB) – 63,1%

1998 (PPB/PFL/PMDB/PSDB) – 61,3%

2002 (PPB/PFL/PMDB/PSDB) – 48,9%

2006 (PP/PFL/PMDB/PSDB) – 46,2%

Notem também, que o PMDB, em 1982, teve 43,0% dos votos válidos. Em 2006, o PMDB e o PSDB (sucedâneos do MDB), tivéram juntos 28,2% dos votos.

O PDS, em 1982, teve 43,2% dos votos válidos. Em 2006, o PP e o PFL (sucedâneos da ARENA), tivéram juntos 18% dos votos.

O Brasil precisaria ter mais 01 ou 02 Partidos Políticos de esquerda. Partidos competitivos como o PT. A representatividade da esquerda no Brasil ainda é, infelizmente, muito débil…

Vejam bem! Eu não disse que a ARENA e o MDB, ou que o PDS e o PMDB são a mesma coisa. Longe disso… Qualquer um sabe que não eram a mesma coisa.

O que eu fiz foi apenas uma constatação. Mostrei a soma dos votos válidos, para a Câmara dos Deputados, dos remanescentes do bipartidarismo artificial da ditadura.

Quero mostrar com esses dados, de forma cabal, que a representatividade da esquerda no Brasil é frágil e ainda muito pequena. Considero que hoje, os remanescentes da ARENA e do MDB, são uma espécie de “centrão” conservador, que impede o avanço da esquerda progressista…

Em 1982, por exemplo, a esquerda (PT/PDT) fez 09,3% dos votos válidos para a Câmara dos Deputados. Em 2006, a esquerda (PT/PDT/PSB/PC do B/P-SOL/PSTU/PCB/PCO) fez apenas 29,8% dos votos válidos. Desses votos, somente o PT fez 15% (mais da metade).

É por isso que afirmo que o Brasil precisaria de mais 01 ou 02 Partidos de esquerda competitivos, no estilo do PT. Do jeito que é hoje, a esquerda não tem nem 1/3 dos votos para a Câmara dos Deputados! E aí, essa mesma esquerda fica refém do “centrão” conservador…

Espero que consigam compreender o raciocínio que descrevi resumidamente.

E a pergunta que não quer calar é a seguinte... O que fazer para aumentar a representatividade da esquerda no Brasil e não ficar tão refém (como hoje) dos partidos conservadores?