quarta-feira, 26 de maio de 2010
Folha de cara nova e idéias caducas
Reproduzo artigo de Renata Mielli, publicado no blog “Janela sobre a palavra”:
Lançada neste domingo, a reforma gráfica e editorial do jornal Folha de S.Paulo deixa explícita a visão anacrônica de mundo que o diário prega insistentemente em suas páginas: a defesa do mercado a partir da doutrina neoliberal e como o poder deve estar a serviço desse projeto de nação mercantil e subordinada.
A mudança do nome de alguns cadernos é mais do que emblemática da linha editorial da Folha: Brasil passa a ser Poder e Economia passa a ser Mercado. Ancorada no corolário mais opinião menos informação, o jornal tenta dar cara nova para ideias cada vez mais caducas na sociedade.
Para dar voz a essas ideias, vão acolher colunistas como o presidente da Febraban, Fábio Barbosa; enquanto executaram sumariamente talvez uma das únicas vozes dissonantes do jornal, o economista Paulo Nogueira Batista Jr.
A coluna estreante de Gustavo Cerbasi, autor dos livros “Casais Inteligentes Enriquecem Juntos” e “Mais Tempo, Mais Dinheiro” mostra que a auto-ajuda focada no conceito do sucesso é dinheiro, dinheiro é status e status se conquista consumindo dá o tom de tudo o que está na contramão da história.
Diz Cerbasi em sua coluna sobre a consagração da classe média “Quem está com sua carteira assinada pela primeira vez merece comemorar e gastar um pouco mais. Porém, não faz muito sentido gastar a ponto de arruinar o orçamento dos meses seguintes. Gaste menos do que você tem, mas gaste principalmente com o que você gosta. Celebre! Repense o tamanho da sua casa, escolha uma mais econômica, para que caibam mais prestações de coisas interessantes em seu orçamento. E, independentemente do seu estilo de gasto, faça as contas e poupe o mínimo necessário”, aconselha. Sinceramente, é de ficar boquiaberto!
Ou seja, em momento de crise econômica mundial, de discussões acirradas sobre desenvolvimento sustentável e, consequentemente, sobre consumo sustentável, a Folha inicia sua cruzada em nome do consumo desenfreado!!!! É, no mínimo, politicamente incorreto.
Análise X Opinião
A Folha diz que vai dar mais ênfase à análise que, de acordo com o jornal, é “o esforço de esclarecer o leitor sobre a importância, o contexto, a origem, as implicações e o feixe de interesses em torno de informações relevantes publicadas no jornal”. Já, a opinião, que segundo o jornal é quando o “autor se coloca, manifesta preferências e apresenta argumentos que as sustentem” aparecerá apenas pela palavra dos colunistas.
Na página on-line sobre a reforma do jornal, há um link sobre a diferença entre análise e opinião, que infelizmente está quebrado. Portanto, eu não pude me aprofundar nas digressões que a Folha faz para tentar mascarar a análise de texto imparcial. Ora, é claro que toda análise parte de um ponto de vista sobre qualquer assunto, e é, portanto, uma forma de opinião. Neste caso, claro está, a do jornal.
Furo na era da informação em tempo real
Outro elemento que está destacado como central no fazer jornalístico da nova Folha é a prioridade para os furos. Fico imaginando como tais furos serão conseguidos e quais. É mais que sabido que a internet se não acabou, reduziu drasticamente o furo, aquela notícia que só o seu jornal tem e vai divulgar em primeira mão. Mas, se as notícias exclusivas estão escassaz, então o jeito é produzi-las, como no caso da ficha policial da Dilma durante a ditadura militar.
O slogan “Folha – o jornal do Futuro” só me dá uma certeza: esse futuro que a Folha quer para o Brasil eu não quero, e os brasileiros também não.
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2 comentários:
Sim, Miro, a Folha de São Paulo está comprometida com os furos no jornalismo.
Furos na ética, na busca da verdade dos fatos, na utilidade pública, na visão de mundo, na cidadania, no respeito ao leitor.
Tantos furos que certamente representam a coleção de furadas que o jornal dos poderosos Frias fez e continua fazendo.
Duro deve ter sido para a atriz que fez o comercial da nova FSP, afirmar ser a FSP de maior credibilidade no país. Por melhor desempenho da atriz, fica difícil de acreditar.
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