Reproduzo artigo de Duarte Pacheco Pereira, publicado no sítio Opera Mundi:
Os Estados Unidos e a Europa Unida estão de olho no petróleo da Líbia e dos demais países do norte da África e do Oriente Médio, sem nenhuma dúvida, mas querem também livrar-se de Kadafi, um inimigo que os incomodou muito nas últimas décadas.
As potências imperialistas, refeitas do susto que levaram com as insurgências populares na Tunísia e no Egito, estão recuperando o controle do processo democratizador que, de repente, varreu alguns países árabes. Tratam de abortar as insurgências populares valendo-se do nível insuficiente de organização e direção desses movimentos, manipular as aspirações democráticas dos povos árabes e manter as mudanças institucionais na região em limites que não afetem seus interesses.
E, enquanto posam de defensores preocupados dos direitos humanos na Tunísia, no Egito e na Líbia (depois de terem tolerado e apoiado seus regimes ditatoriais por muitos anos), procuram manter em plano secundário e esquecido a situação na Arábia Saudita (monarquia fundamentalista e absoluta), no Bahrein (poço de petróleo transformado em país e, mais recentemente, também em base estadunidense) e na repressora Jordânia (reino inventado, juntamente com Israel, para impedir a formação de um grande Estado Palestino binacional). Se há uma esfera em que a hipocrisia prevalece da maneira mais descarada no mundo contemporâneo, é a das relações internacionais.
Não nos deixemos confundir. Num mundo dividido em Estados, não pode haver democracia real sem autodeterminação popular e, portanto, sem soberania dos Estados. Há uma inter-relação, mas também uma subordinação incontornável entre as questões nacional, democrática e social.
No enfrentamento do sistema capitalista-imperialista mundial, a luta pelo socialismo e pelo internacionalismo passa pelos combates antiimperialistas em defesa da soberania dos Estados periféricos, dependentes e vulneráveis, da democratização efetiva de seus regimes políticos e dos direitos políticos, econômicos e culturais de seus trabalhadores.
Não serão as grandes potências imperialistas que democratizarão os países por elas subjugados e espoliados, nem que promoverão os direitos e a emancipação de seus trabalhadores.
Todas elas, dependentes do petróleo árabe e ansiosas por aliados no norte da África e no Oriente Médio, engoliam Kadafi, como engoliam antes Saddam. Mas, surgindo a possibilidade de se livrarem desses aliados inseguros sem prejudicar seus interesses, tais potências os depõem e executam sem a menor hesitação nem piedade.
A história dos séculos XIX e XX está cheia desses exemplos. Mas as grandes potências não liquidam seus antigos aliados e clientes para implantar uma democracia real nos países encabeçados por eles, nem para promover os direitos e a emancipação dos trabalhadores. Apenas trocam de métodos e de serviçais, como estão tentando fazer no Egito: tiraram Mubarak para deixar no lugar a mesma máquina militar dependente dos Estados Unidos e cúmplice de Israel, da qual Mubarak emergiu e que o sustentou por tanto tempo. Uma máquina distanciada há várias décadas da tradição nacionalista de Nasser, da qual também Kadafi se afastou nos últimos anos.
No enfrentamento das grandes potências capitalistas, não há como não manter relações diplomáticas e econômicas com os demais países da América Latina, Caribe, Ásia e África, independentemente de que muitos desses países tenham regimes e governos antidemocráticos e antipopulares. As revoluções não se exportam. É cada povo que tem de libertar-se, apoiando-se em sua própria luta. O apoio dos demais povos deve ser político e moral. Somente em casos muito excepcionais, diante da intervenção sanguinária de grandes potências capitalistas, é que se poderia justificar, se viável, o apoio também militar.
Seria um contrassenso e uma capitulação fazer o contrário: aliar-se com as grandes potências, também dominadas por democracias restritas e por governos e regimes antipopulares, para combater os governos de países dependentes, vítimas no passado de agressões e colonizações, como a Líbia, a pretexto da defesa seletiva e hipócrita de "direitos humanos", entre os quais nunca se destaca o direito à soberania, à autodeterminação e à não-intervenção nos assuntos internos de cada país.
Já se está falando nos Estados Unidos em levar Mubarak e Kadafi ao Tribunal Penal Internacional, ao qual, porém, o governo de Washington não admite submeter nenhum de seus funcionários. Que bela justiça, discriminatória por definição! Uma inconfundível justiça colonialista!
Os Estados Unidos e a Europa Unida estão de olho no petróleo da Líbia e dos demais países do norte da África e do Oriente Médio, sem nenhuma dúvida, mas querem também livrar-se de Kadafi, um inimigo que os incomodou muito nas últimas décadas.
As potências imperialistas, refeitas do susto que levaram com as insurgências populares na Tunísia e no Egito, estão recuperando o controle do processo democratizador que, de repente, varreu alguns países árabes. Tratam de abortar as insurgências populares valendo-se do nível insuficiente de organização e direção desses movimentos, manipular as aspirações democráticas dos povos árabes e manter as mudanças institucionais na região em limites que não afetem seus interesses.
E, enquanto posam de defensores preocupados dos direitos humanos na Tunísia, no Egito e na Líbia (depois de terem tolerado e apoiado seus regimes ditatoriais por muitos anos), procuram manter em plano secundário e esquecido a situação na Arábia Saudita (monarquia fundamentalista e absoluta), no Bahrein (poço de petróleo transformado em país e, mais recentemente, também em base estadunidense) e na repressora Jordânia (reino inventado, juntamente com Israel, para impedir a formação de um grande Estado Palestino binacional). Se há uma esfera em que a hipocrisia prevalece da maneira mais descarada no mundo contemporâneo, é a das relações internacionais.
Não nos deixemos confundir. Num mundo dividido em Estados, não pode haver democracia real sem autodeterminação popular e, portanto, sem soberania dos Estados. Há uma inter-relação, mas também uma subordinação incontornável entre as questões nacional, democrática e social.
No enfrentamento do sistema capitalista-imperialista mundial, a luta pelo socialismo e pelo internacionalismo passa pelos combates antiimperialistas em defesa da soberania dos Estados periféricos, dependentes e vulneráveis, da democratização efetiva de seus regimes políticos e dos direitos políticos, econômicos e culturais de seus trabalhadores.
Não serão as grandes potências imperialistas que democratizarão os países por elas subjugados e espoliados, nem que promoverão os direitos e a emancipação de seus trabalhadores.
Todas elas, dependentes do petróleo árabe e ansiosas por aliados no norte da África e no Oriente Médio, engoliam Kadafi, como engoliam antes Saddam. Mas, surgindo a possibilidade de se livrarem desses aliados inseguros sem prejudicar seus interesses, tais potências os depõem e executam sem a menor hesitação nem piedade.
A história dos séculos XIX e XX está cheia desses exemplos. Mas as grandes potências não liquidam seus antigos aliados e clientes para implantar uma democracia real nos países encabeçados por eles, nem para promover os direitos e a emancipação dos trabalhadores. Apenas trocam de métodos e de serviçais, como estão tentando fazer no Egito: tiraram Mubarak para deixar no lugar a mesma máquina militar dependente dos Estados Unidos e cúmplice de Israel, da qual Mubarak emergiu e que o sustentou por tanto tempo. Uma máquina distanciada há várias décadas da tradição nacionalista de Nasser, da qual também Kadafi se afastou nos últimos anos.
No enfrentamento das grandes potências capitalistas, não há como não manter relações diplomáticas e econômicas com os demais países da América Latina, Caribe, Ásia e África, independentemente de que muitos desses países tenham regimes e governos antidemocráticos e antipopulares. As revoluções não se exportam. É cada povo que tem de libertar-se, apoiando-se em sua própria luta. O apoio dos demais povos deve ser político e moral. Somente em casos muito excepcionais, diante da intervenção sanguinária de grandes potências capitalistas, é que se poderia justificar, se viável, o apoio também militar.
Seria um contrassenso e uma capitulação fazer o contrário: aliar-se com as grandes potências, também dominadas por democracias restritas e por governos e regimes antipopulares, para combater os governos de países dependentes, vítimas no passado de agressões e colonizações, como a Líbia, a pretexto da defesa seletiva e hipócrita de "direitos humanos", entre os quais nunca se destaca o direito à soberania, à autodeterminação e à não-intervenção nos assuntos internos de cada país.
Já se está falando nos Estados Unidos em levar Mubarak e Kadafi ao Tribunal Penal Internacional, ao qual, porém, o governo de Washington não admite submeter nenhum de seus funcionários. Que bela justiça, discriminatória por definição! Uma inconfundível justiça colonialista!
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