Por Heloisa Villela, de Washington, no blog Viomundo:
Na última década, uma única empresa americana se tornou o grande símbolo do que é o capitalismo selvagem. Foram muitos os processos na Justiça por discriminação e maus tratos contra a rede de hipermercados Wal-Mart. Mas isso é café pequeno perto das relações trabalhistas que a empresa impõe aos funcionários. E o trabalho constante, e eficiente, para impedir a sindicalização dos funcionários.
A fama ruim não afetou em nada os negócios. Hoje, os seis herdeiros de Sam Walton, fundador da empresa, têm uma fortuna calculada em US$ 93 bilhões, o que significa toda a riqueza somada dos 30% mais pobres do país. Ou seja, “essa família é o retrato do 1%”, disse Jennifer Stapleton, diretora assistente do grupo “Making Change at Wal-Mart”, que nós podemos traduzir por promover mudanças no Wal-Mart. A referência, clara, é ao slogan mais conhecido do movimento Occupy, que tomou as ruas e praças de várias cidades americanas e sempre fala no crescimento da desigualdade nos Estados Unidos. Os 99% versus 1%.
Esta semana, Jennifer e o grupo de empregados que brigam por melhores condições de trabalho estão comemorando uma vitória importante. Depois dealguns anos de negociações com a empresa, um grande fundo de investimentos da Holanda decidiu vender todas as ações do Wal-Mart que tinha em carteira. Até junho do ano passado, o fundo ABP tinha mais de US$ 120 milhões de dólares investidos no Wal-Mart. Interessante é o processo através do qual a empresa concluiu que não dava mais para apostar no futuro da gigante corporação norte-americana.
Em 2007, o ABP começou a analisar as empresas nas quais investe, de olho em práticas responsáveis de administração. A quantidade de processos e reclamações a respeito de direitos trabalhistas envolvendo o Wal-Mart chamou a atenção da especialista do fundo, Anna Pot. Durante os últimos quatro anos, representantes do fundo de investimento se reuniram com a empresa de Arkansas em busca de esclarecimentos e de uma perspectiva de mudança.
Em outubro passado, o grupo Making Change at Wal-Mart adotou uma estratégia diferente. Decidiu jogar o jogo que os empresários entendem. Convidou analistas financeiros, representantes dos fundos de investimento, para uma reunião na véspera do encontro anual deles com a empresa. E não é que 50 apareceram? Um deles era Anna Pot, do ABP. Informações sobre o encontro, fotos e vídeo estão aqui:
http://makingchangeatwalmart.org/2011/10/11/walmart-associates-former-store-managers-meet-with-analysts-at-annual-investor-conference-in-bentonville/
Empregados do Wal-Mart relataram os erros que a empresa comete, não apenas nas relações trabalhistas, e sugeriram mudanças na administração dos negócios, inclusive dos estoques. Foi uma oportunidade única para os analistas dos fundos de investimento. Pela primeira vez eles tiveram um raio-X do interior do Wal-Mart, com todos os problemas que a empresa nega, ou tenta esconder.
Agora, três meses depois do encontro, o fundo anuncia a venda de todos os papéis do Wal-Mart. Entre triunfante e preocupada, Jennifer conversou com o Viomundo.
Quando foi criado esse grupo que quer promover mudanças no Wal-Mart?
Começamos em janeiro de 2011 para dar apoio à organização United for Respect at Wal-Mart que vem tentando forçar a empresa a mudar. Nós estamos com eles.
E como conseguiram atrair os analistas dos fundos para esse encontro?
Simplesmente convidamos e eles vieram. Uns 50 ao todo. No encontro, os funcionários falaram abertamente sobre retaliações, condições de trabalho, possíveis soluções para melhorar a empresa. Quando ela foi fundada, pelo Sam Walton, no começo dos anos 60, a visão era bem diferente. Bem, a ABP já tinha uma longa história com a empresa. Eles estavam conversando, tentando promover mudanças, mas chegaram à conclusão que não houve mudança alguma. A Anna Pot viu um anúncio de emprego deles procurando alguém de Recursos Humanos que enfatizava a necessidade de continuar impedindo a sindicalização dos funcionários.
Para vocês, a decisão do fundo holandês é uma vitória?
É e não é. A decisão é um reconhecimento global do que os trabalhadores falam há anos. Eles se sentiram ouvidos e mais fortes. Mas, ao mesmo tempo, nós preferimos que fundos como este continuem investidos na empresa, com voz lá dentro, porque eles têm mais poder de barganha. Mas entendemos a posição deles. Não dá para colocar dinheiro em uma empresa assim. E nós achamos que outros fundos vão acabar fazendo a mesma coisa. Esperamos que a decisão do ABP sirva de alerta para a família Walton, que ainda detém mais de 50% das ações da empresa, para que promovam mudanças verdadeiras. Hoje, essa é a família mais rica do país. Um verdadeiro exemplo do crescimento desigual nos Estados Unidos.
Nota do Viomundo: A rede Wal-Mart tem lojas em vários países. Entre eles: Argentina, Brasil, Canadá, Chile, China, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Índia, Japão, México, Nicaragua, Porto Rico, Reino Unido, Paquistão e Estados Unidos. No segundo semestre de 2010, funcionários da empresa, de diferentes países, formaram uma aliança global, para construir solidariedade e objetivos comuns.
Na última década, uma única empresa americana se tornou o grande símbolo do que é o capitalismo selvagem. Foram muitos os processos na Justiça por discriminação e maus tratos contra a rede de hipermercados Wal-Mart. Mas isso é café pequeno perto das relações trabalhistas que a empresa impõe aos funcionários. E o trabalho constante, e eficiente, para impedir a sindicalização dos funcionários.
A fama ruim não afetou em nada os negócios. Hoje, os seis herdeiros de Sam Walton, fundador da empresa, têm uma fortuna calculada em US$ 93 bilhões, o que significa toda a riqueza somada dos 30% mais pobres do país. Ou seja, “essa família é o retrato do 1%”, disse Jennifer Stapleton, diretora assistente do grupo “Making Change at Wal-Mart”, que nós podemos traduzir por promover mudanças no Wal-Mart. A referência, clara, é ao slogan mais conhecido do movimento Occupy, que tomou as ruas e praças de várias cidades americanas e sempre fala no crescimento da desigualdade nos Estados Unidos. Os 99% versus 1%.
Esta semana, Jennifer e o grupo de empregados que brigam por melhores condições de trabalho estão comemorando uma vitória importante. Depois dealguns anos de negociações com a empresa, um grande fundo de investimentos da Holanda decidiu vender todas as ações do Wal-Mart que tinha em carteira. Até junho do ano passado, o fundo ABP tinha mais de US$ 120 milhões de dólares investidos no Wal-Mart. Interessante é o processo através do qual a empresa concluiu que não dava mais para apostar no futuro da gigante corporação norte-americana.
Em 2007, o ABP começou a analisar as empresas nas quais investe, de olho em práticas responsáveis de administração. A quantidade de processos e reclamações a respeito de direitos trabalhistas envolvendo o Wal-Mart chamou a atenção da especialista do fundo, Anna Pot. Durante os últimos quatro anos, representantes do fundo de investimento se reuniram com a empresa de Arkansas em busca de esclarecimentos e de uma perspectiva de mudança.
Em outubro passado, o grupo Making Change at Wal-Mart adotou uma estratégia diferente. Decidiu jogar o jogo que os empresários entendem. Convidou analistas financeiros, representantes dos fundos de investimento, para uma reunião na véspera do encontro anual deles com a empresa. E não é que 50 apareceram? Um deles era Anna Pot, do ABP. Informações sobre o encontro, fotos e vídeo estão aqui:
http://makingchangeatwalmart.org/2011/10/11/walmart-associates-former-store-managers-meet-with-analysts-at-annual-investor-conference-in-bentonville/
Empregados do Wal-Mart relataram os erros que a empresa comete, não apenas nas relações trabalhistas, e sugeriram mudanças na administração dos negócios, inclusive dos estoques. Foi uma oportunidade única para os analistas dos fundos de investimento. Pela primeira vez eles tiveram um raio-X do interior do Wal-Mart, com todos os problemas que a empresa nega, ou tenta esconder.
Agora, três meses depois do encontro, o fundo anuncia a venda de todos os papéis do Wal-Mart. Entre triunfante e preocupada, Jennifer conversou com o Viomundo.
Quando foi criado esse grupo que quer promover mudanças no Wal-Mart?
Começamos em janeiro de 2011 para dar apoio à organização United for Respect at Wal-Mart que vem tentando forçar a empresa a mudar. Nós estamos com eles.
E como conseguiram atrair os analistas dos fundos para esse encontro?
Simplesmente convidamos e eles vieram. Uns 50 ao todo. No encontro, os funcionários falaram abertamente sobre retaliações, condições de trabalho, possíveis soluções para melhorar a empresa. Quando ela foi fundada, pelo Sam Walton, no começo dos anos 60, a visão era bem diferente. Bem, a ABP já tinha uma longa história com a empresa. Eles estavam conversando, tentando promover mudanças, mas chegaram à conclusão que não houve mudança alguma. A Anna Pot viu um anúncio de emprego deles procurando alguém de Recursos Humanos que enfatizava a necessidade de continuar impedindo a sindicalização dos funcionários.
Para vocês, a decisão do fundo holandês é uma vitória?
É e não é. A decisão é um reconhecimento global do que os trabalhadores falam há anos. Eles se sentiram ouvidos e mais fortes. Mas, ao mesmo tempo, nós preferimos que fundos como este continuem investidos na empresa, com voz lá dentro, porque eles têm mais poder de barganha. Mas entendemos a posição deles. Não dá para colocar dinheiro em uma empresa assim. E nós achamos que outros fundos vão acabar fazendo a mesma coisa. Esperamos que a decisão do ABP sirva de alerta para a família Walton, que ainda detém mais de 50% das ações da empresa, para que promovam mudanças verdadeiras. Hoje, essa é a família mais rica do país. Um verdadeiro exemplo do crescimento desigual nos Estados Unidos.
Nota do Viomundo: A rede Wal-Mart tem lojas em vários países. Entre eles: Argentina, Brasil, Canadá, Chile, China, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Índia, Japão, México, Nicaragua, Porto Rico, Reino Unido, Paquistão e Estados Unidos. No segundo semestre de 2010, funcionários da empresa, de diferentes países, formaram uma aliança global, para construir solidariedade e objetivos comuns.
3 comentários:
Caríssimo Altamir. É importante referência na defesa dos direitos dos trabalhadores do Wal Mart o seguinte sítio: http://walmartwatch.org. Fiz uma pesquisa sobre as trabalhadoras de checkout (caixas) nessa empresa. Caso seja de interesse, encaminhe contato. Um abraço, Nilo, Curitiba.
E o McDonalds? Os funcionários não se habilitam a criar uma associação tipo a do Wal-Mart? Porque, também, por lá a exploração e o desrespeito são grandes.
Procurei a nota no Viomundo para verificar se o erro era deles ou de transcrição, mas não achei. E não pude deixar de notar: ficou muito ruim o trecho final:
"Nota do Viomundo: A rede Wal-Mart tem lojas em vários países. Entre eles: Argentina, Brazil,..."
BraZil?
Abraço
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