Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
Em se tratando de processos eleitorais internos de seu partido, Serra tem uma preferência algo bizarra por só entrar na luta após humilhar seus correligionários e incendiar suas bases. Foi assim em 2010, é assim agora. Confesso que desta vez cometi um erro crasso como analista político: acreditei em Serra. Depois de ouvir inúmeras declarações peremptórias, até mesmo raivosas, de que não entraria na campanha, que era a sua palavra final, blá blá, eu acreditei que o ex-governador desta vez estava falando sério. Vivendo e aprendendo.
Mesmo assim, não posso esconder meu espanto ao contemplar a violência da decisão. Os pré-candidatos tucanos vinham realizando centenas de atos e reuniões pela cidade, torrando dinheiro do partido ou de seus próprios bolsos, tentando construir consensos mínimos em torno de seus nomes.
E aí, de repente, Serra muda de ideia, e tudo o que os pré-candidatos fizeram, todos os debates de que participaram, tudo vai para o lixo? No dia 23 de fevereiro, o PSDB divulgou até a cédula que seria usada para as prévias, e o partido autorizara o gasto de até R$ 25 mil por candidato. Até esse valor, a verba seria coberta pelo partido. Até o final da campanha interna, cada candidato poderia gastar R$ 100 mil.
Admito que não sou nenhum simpatizante do PSDB, mas continuo adepto da realização de eleições internas em todos os partidos. Fiz inclusive uma dura crítica a Lula, e justamente no auge da comoção nacional causada pela descoberta de seu câncer, por ter ajudado a enterrar as prévias do PT em São Paulo.
O filme de George Clooney, Ides of March, que mostra os sinistros bastidores das eleições para escolha do candidato do partido democrata, me fez ver que a democracia cobra um custo altíssimo por seus supostos benefícios em prol da liberdade de escolha. A democracia, enquanto sistema de poder, é vulnerável à corrupção e à violência. Mas o processo eleitoral, mesmo com todas as suas conhecidas baixarias, dá visibilidade aos debates e expõe os candidatos às suas próprias contradições. Ruim com prévias, pior sem elas.
O PT deveria ter feito prévias para escolher seu candidato em São Paulo. Lula, com sua força, conseguiria influenciar a militância em prol de Haddad. Por outro lado, pensando bem, o fato de Haddad não pertencer aos principais grupos organizados do PT paulista lhe dificultaria bastante o caminho e decerto foi essa razão para que Lula trabalhasse para a não-realização de prévias. O PSDB não tem sequer essa desculpa, já que todos seus pré-candidatos, incluindo Serra, são figuras profundamente arraigadas na política paulistana.
De maneira geral, contudo, o PT é o partido que mais realiza eleições internas no Brasil. Caberia ao PSDB, principal legenda da oposição, não ficar atrás, e mostrar que o seu zelo pelos valores democráticos, dentre os quais o principal é o poder distribuído aos eleitores, é autêntico, e vale também para o poder partidário. A imagem de partido de caciques pega muito mal para o PSDB, ainda mais porque se harmoniza perfeitamente com a de uma legenda identificada com a elite econômica. O Brasil até hoje lembra com mal estar daquele jantar num restaurante em São Paulo, no ano de 2006, em que quatro ou cinco próceres tucanos decidiram que seu candidato presidencial seria Geraldo Alckmin. Quatro ou cinco pessoas bebendo vinho caro e decidido o destino da república: não é uma imagem exatamente democrática.
O PT também tem algumas manchas neste sentido, já que Dilma foi “ungida” por Lula. Mais uma razão e mais uma oportunidade para o PSDB afirmar sua fé na democracia.
O mínimo que se esperava de Serra seria a delicadeza de se encontrar pessoalmente com cada pré-candidato, pedindo desculpas a cada um deles por sua indecisão, e daí participar das prévias, humildemente, como um bom e disciplinado militante partidário.
Bem, independente dessas críticas, Serra já é – inexoravelmente – o candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo. As prévias serão realizadas apenas para constar. E todos os cálculos políticos deverão ser refeitos. Analistas da mídia já concluíram, com razão, que o grande vencedor deste processo é a racionalidade ideológica e política. Com Serra na disputa, Kassab se alinha a seu criador, e a eleição ganha uma polaridade simples e racional: PSDB X PT, direita X esquerda.
A possibilidade, que vinha se tornando cada vez mais concreta, de Kassab aliar-se ao PT, tornaria a eleição pouco racional. Facilitaria, em tese, a vitória de Fernando Haddad, e azeitaria o caminho para a integração do PSD junto à base do governo, com possível indicação de um ministro, mas provocaria uma imenso ruído na militância.
O alinhamento de Kassab à candidatura Serra obedece a um princípio de lealdade exclusivamente pessoal, quase mafioso, já que o prefeito vinha se afastando cada vez mais do PSDB.
O que é realmente divertido, porém, para um analista político, é a constatação que Kassab e Serra formam, talvez, o casal mais impopular da história recente de São Paulo. Isso não é opinião, é estatística. A rejeição de Serra bateu em 35%, mais de um terço do eleitorado paulistano, e alguns especialistas ouvidos hoje pela grande imprensa já admitiram que este índice pode chegar a 40% com a entrada do tucano no pleito.
Kassab, por sua vez, é rejeitado pela maioria dos paulistanos. Segundo o Datafolha, 40% dos entrevistados acham seu governo ruim ou péssimo.
Será engraçado ver o impopular aliar-se ao rejeitado.
Em se tratando de processos eleitorais internos de seu partido, Serra tem uma preferência algo bizarra por só entrar na luta após humilhar seus correligionários e incendiar suas bases. Foi assim em 2010, é assim agora. Confesso que desta vez cometi um erro crasso como analista político: acreditei em Serra. Depois de ouvir inúmeras declarações peremptórias, até mesmo raivosas, de que não entraria na campanha, que era a sua palavra final, blá blá, eu acreditei que o ex-governador desta vez estava falando sério. Vivendo e aprendendo.
Mesmo assim, não posso esconder meu espanto ao contemplar a violência da decisão. Os pré-candidatos tucanos vinham realizando centenas de atos e reuniões pela cidade, torrando dinheiro do partido ou de seus próprios bolsos, tentando construir consensos mínimos em torno de seus nomes.
E aí, de repente, Serra muda de ideia, e tudo o que os pré-candidatos fizeram, todos os debates de que participaram, tudo vai para o lixo? No dia 23 de fevereiro, o PSDB divulgou até a cédula que seria usada para as prévias, e o partido autorizara o gasto de até R$ 25 mil por candidato. Até esse valor, a verba seria coberta pelo partido. Até o final da campanha interna, cada candidato poderia gastar R$ 100 mil.
Admito que não sou nenhum simpatizante do PSDB, mas continuo adepto da realização de eleições internas em todos os partidos. Fiz inclusive uma dura crítica a Lula, e justamente no auge da comoção nacional causada pela descoberta de seu câncer, por ter ajudado a enterrar as prévias do PT em São Paulo.
O filme de George Clooney, Ides of March, que mostra os sinistros bastidores das eleições para escolha do candidato do partido democrata, me fez ver que a democracia cobra um custo altíssimo por seus supostos benefícios em prol da liberdade de escolha. A democracia, enquanto sistema de poder, é vulnerável à corrupção e à violência. Mas o processo eleitoral, mesmo com todas as suas conhecidas baixarias, dá visibilidade aos debates e expõe os candidatos às suas próprias contradições. Ruim com prévias, pior sem elas.
O PT deveria ter feito prévias para escolher seu candidato em São Paulo. Lula, com sua força, conseguiria influenciar a militância em prol de Haddad. Por outro lado, pensando bem, o fato de Haddad não pertencer aos principais grupos organizados do PT paulista lhe dificultaria bastante o caminho e decerto foi essa razão para que Lula trabalhasse para a não-realização de prévias. O PSDB não tem sequer essa desculpa, já que todos seus pré-candidatos, incluindo Serra, são figuras profundamente arraigadas na política paulistana.
De maneira geral, contudo, o PT é o partido que mais realiza eleições internas no Brasil. Caberia ao PSDB, principal legenda da oposição, não ficar atrás, e mostrar que o seu zelo pelos valores democráticos, dentre os quais o principal é o poder distribuído aos eleitores, é autêntico, e vale também para o poder partidário. A imagem de partido de caciques pega muito mal para o PSDB, ainda mais porque se harmoniza perfeitamente com a de uma legenda identificada com a elite econômica. O Brasil até hoje lembra com mal estar daquele jantar num restaurante em São Paulo, no ano de 2006, em que quatro ou cinco próceres tucanos decidiram que seu candidato presidencial seria Geraldo Alckmin. Quatro ou cinco pessoas bebendo vinho caro e decidido o destino da república: não é uma imagem exatamente democrática.
O PT também tem algumas manchas neste sentido, já que Dilma foi “ungida” por Lula. Mais uma razão e mais uma oportunidade para o PSDB afirmar sua fé na democracia.
O mínimo que se esperava de Serra seria a delicadeza de se encontrar pessoalmente com cada pré-candidato, pedindo desculpas a cada um deles por sua indecisão, e daí participar das prévias, humildemente, como um bom e disciplinado militante partidário.
Bem, independente dessas críticas, Serra já é – inexoravelmente – o candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo. As prévias serão realizadas apenas para constar. E todos os cálculos políticos deverão ser refeitos. Analistas da mídia já concluíram, com razão, que o grande vencedor deste processo é a racionalidade ideológica e política. Com Serra na disputa, Kassab se alinha a seu criador, e a eleição ganha uma polaridade simples e racional: PSDB X PT, direita X esquerda.
A possibilidade, que vinha se tornando cada vez mais concreta, de Kassab aliar-se ao PT, tornaria a eleição pouco racional. Facilitaria, em tese, a vitória de Fernando Haddad, e azeitaria o caminho para a integração do PSD junto à base do governo, com possível indicação de um ministro, mas provocaria uma imenso ruído na militância.
O alinhamento de Kassab à candidatura Serra obedece a um princípio de lealdade exclusivamente pessoal, quase mafioso, já que o prefeito vinha se afastando cada vez mais do PSDB.
O que é realmente divertido, porém, para um analista político, é a constatação que Kassab e Serra formam, talvez, o casal mais impopular da história recente de São Paulo. Isso não é opinião, é estatística. A rejeição de Serra bateu em 35%, mais de um terço do eleitorado paulistano, e alguns especialistas ouvidos hoje pela grande imprensa já admitiram que este índice pode chegar a 40% com a entrada do tucano no pleito.
Kassab, por sua vez, é rejeitado pela maioria dos paulistanos. Segundo o Datafolha, 40% dos entrevistados acham seu governo ruim ou péssimo.
Será engraçado ver o impopular aliar-se ao rejeitado.
1 comentários:
Tá tu de brincadeira, levar essa gente do psdb a sério, achar que os pré candidatos agiam seriamente? Ora, bem feito e me poupe. No mais, agir agora como se tudo isso fosse normal, putz, esse cara tinha que ir pra CPI da Privataria e indiciado junto com a canalha da sua família, né mesmo, deputado Marco Maia ou somos todos covardes nessas latitudes?
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