Por Felipe Bianchi, no sítio do Barão de Itararé:
Aos 80 anos de idade, comemorados no último dia 8, Audálio Dantas é uma das principais referências quando se trata da atuação jornalística e sindical durante os anos de chuva da ditadura militar. O alagoano, nascido na cidade de Tanque D’Arca, passou por redações de grandes veículos, como o jornal Folha de S. Paulo e a revista Realidade, entre as décadas de 1950 e 1970. No auge da repressão fardada, em 1975, Dantas assumiu a presidência do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo.
Em outubro daquele ano, ele recebeu por telefone a notícia da morte de Vladimir Herzog, em Presidente Prudente (SP). Com a missão de reagir ao assassinato de Vlado, voltou para a capital em um banquinho colocado entre as poltronas de um voo que ia do Mato Grosso a São Paulo, com escala no interior.
Em 1983, tornou-se o primeiro presidente eleito por voto direto da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e, em junho de 2005, foi convidado a ser vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Além disso, acumula diversos prêmios jornalísticos aos longo da carreira.
Membro do conselho consultivo e entrevistado pelo Barão de Itararé, Audálio Dantas falou sobre o passado e o presente do jornalismo; a necessidade de democratizar os meios de comunicação e suas experiências como sindicalista durante os anos de chumbo e censura.
Quais são as grandes mudanças do jornalismo praticado pelos grandes veículos quando você ainda atuava nas redações em relação ao jornalismo feito no presente?
As mudanças são muito significativas. Além da questão tecnológica, há muitas transformações no aspecto editorial. A mais notável é a instituição do denuncismo – que é na verdade um “denuncismo pelo denuncismo”. É um meio de projeção dos veículos, às vezes, com fins políticos.
Denunciar é papel da imprensa, mas em um sentido de esclarecer os acontecimentos e atos de interesse público. O problema é que o jornalismo não possui apenas esta forma e nem interessa qual seja o governo e, na maioria das vezes, a imprensa comete abusos nesse sentido.
Comparado ao passado, passei 20 anos, dentre as décadas de 50 e 70, nas grandes redações. Metade da minha atuação foi durante a ditadura militar, então havia um grande silêncio nos veículos de comunicação. Forçado, em algumas. Voluntário, em outras. A grande mudança, na realidade, é esta: a reconquista da liberdade de expressão e da democracia.
A liberdade de expressão no Brasil, em termos de comunicação, é bastante restrita aos grandes meios privados, altamente concentrados nas mãos de poucas famílias. Qual sua opinião em relação ao debate em torno da democratização da comunicação?
Discutir a comunicação é fundamental para a sociedade. As empresas argumentam que democratizar a comunicação é censura e que fere a liberdade de imprensa, o que é um absurdo. A sociedade tem o direito de discutir qual comunicação ela faz.
A Constituição de 1988 trata o tema da comunicação e apresenta diversos pontos importantes. Lutamos muito pelo Conselho Nacional de Comunicação, que seria formado por jornalistas, instituições e empresas e atuaria como um órgão auxiliar do Poder Legislativo. Apesar disso, a questão só foi regulamentada muitos anos depois, evidenciando o descaso em relação à regulação do setor.
O debate é ainda mais urgente com a questão dos meios eletrônicos. São diversos atores e setores da sociedade que querem ter acesso aos meios de comunicação. Queremos e devemos debater o tema.
Quais suas experiências e suas memórias da atuação jornalística e sindical durante os anos de chumbo da ditadura militar?
Todos os jornalistas e comunicadores foram atingidos pela ditadura. Naquela época, a censura estava embutida nas cabeças das pessoas – principalmente nos patrões. Não havia jeito: qualquer tema sensível à censura era evitado pelos donos dos veículos. Era uma época em que tínhamos que falar as coisas nas entrelinhas.
Em 1975, concorri à presidência do Sindicato dos Jornalistas. Quando eleitos, a primeira coisa que fizemos foi afirmar que um dos objetivos do Sindicato era lutar contra a censura imposta pela ditadura. Fomos visados, espionados e ameaçados desde que tomamos posse.
Um dos episódios mais marcantes da nossa luta foi quando protestamos contra o locutor oficial do Palácio dos Bandeirantes, em um evento da Escola Superior de Guerra. Na ocasião, o locutor fez um discurso inflamado com uma falsa denúncia de que as redações jornalísticas estariam “infestadas de comunistas”. Divulgamos uma nota contra o discurso, que era claramente encomendado.
Como represália, fomos convocados pelo Segundo Exército para prestar esclarecimentos. 12 jornalistas foram presos na ocasião. O décimo segundo era Vladimir Herzog, que terminou brutalmente assassinado. Após o acontecimento, nos dedicamos a denunciar o caso do Vlado e à luta pela liberdade de expressão.
Leia mais sobre Audálio Dantas:
Biografia publicada no Portal dos Jornalistas
Artigo do jornalista Ricardo Kotscho sobre os 80 anos de Audálio Dantas
Em outubro daquele ano, ele recebeu por telefone a notícia da morte de Vladimir Herzog, em Presidente Prudente (SP). Com a missão de reagir ao assassinato de Vlado, voltou para a capital em um banquinho colocado entre as poltronas de um voo que ia do Mato Grosso a São Paulo, com escala no interior.
Em 1983, tornou-se o primeiro presidente eleito por voto direto da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e, em junho de 2005, foi convidado a ser vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Além disso, acumula diversos prêmios jornalísticos aos longo da carreira.
Membro do conselho consultivo e entrevistado pelo Barão de Itararé, Audálio Dantas falou sobre o passado e o presente do jornalismo; a necessidade de democratizar os meios de comunicação e suas experiências como sindicalista durante os anos de chumbo e censura.
Quais são as grandes mudanças do jornalismo praticado pelos grandes veículos quando você ainda atuava nas redações em relação ao jornalismo feito no presente?
As mudanças são muito significativas. Além da questão tecnológica, há muitas transformações no aspecto editorial. A mais notável é a instituição do denuncismo – que é na verdade um “denuncismo pelo denuncismo”. É um meio de projeção dos veículos, às vezes, com fins políticos.
Denunciar é papel da imprensa, mas em um sentido de esclarecer os acontecimentos e atos de interesse público. O problema é que o jornalismo não possui apenas esta forma e nem interessa qual seja o governo e, na maioria das vezes, a imprensa comete abusos nesse sentido.
Comparado ao passado, passei 20 anos, dentre as décadas de 50 e 70, nas grandes redações. Metade da minha atuação foi durante a ditadura militar, então havia um grande silêncio nos veículos de comunicação. Forçado, em algumas. Voluntário, em outras. A grande mudança, na realidade, é esta: a reconquista da liberdade de expressão e da democracia.
A liberdade de expressão no Brasil, em termos de comunicação, é bastante restrita aos grandes meios privados, altamente concentrados nas mãos de poucas famílias. Qual sua opinião em relação ao debate em torno da democratização da comunicação?
Discutir a comunicação é fundamental para a sociedade. As empresas argumentam que democratizar a comunicação é censura e que fere a liberdade de imprensa, o que é um absurdo. A sociedade tem o direito de discutir qual comunicação ela faz.
A Constituição de 1988 trata o tema da comunicação e apresenta diversos pontos importantes. Lutamos muito pelo Conselho Nacional de Comunicação, que seria formado por jornalistas, instituições e empresas e atuaria como um órgão auxiliar do Poder Legislativo. Apesar disso, a questão só foi regulamentada muitos anos depois, evidenciando o descaso em relação à regulação do setor.
O debate é ainda mais urgente com a questão dos meios eletrônicos. São diversos atores e setores da sociedade que querem ter acesso aos meios de comunicação. Queremos e devemos debater o tema.
Quais suas experiências e suas memórias da atuação jornalística e sindical durante os anos de chumbo da ditadura militar?
Todos os jornalistas e comunicadores foram atingidos pela ditadura. Naquela época, a censura estava embutida nas cabeças das pessoas – principalmente nos patrões. Não havia jeito: qualquer tema sensível à censura era evitado pelos donos dos veículos. Era uma época em que tínhamos que falar as coisas nas entrelinhas.
Em 1975, concorri à presidência do Sindicato dos Jornalistas. Quando eleitos, a primeira coisa que fizemos foi afirmar que um dos objetivos do Sindicato era lutar contra a censura imposta pela ditadura. Fomos visados, espionados e ameaçados desde que tomamos posse.
Um dos episódios mais marcantes da nossa luta foi quando protestamos contra o locutor oficial do Palácio dos Bandeirantes, em um evento da Escola Superior de Guerra. Na ocasião, o locutor fez um discurso inflamado com uma falsa denúncia de que as redações jornalísticas estariam “infestadas de comunistas”. Divulgamos uma nota contra o discurso, que era claramente encomendado.
Como represália, fomos convocados pelo Segundo Exército para prestar esclarecimentos. 12 jornalistas foram presos na ocasião. O décimo segundo era Vladimir Herzog, que terminou brutalmente assassinado. Após o acontecimento, nos dedicamos a denunciar o caso do Vlado e à luta pela liberdade de expressão.
Leia mais sobre Audálio Dantas:
Biografia publicada no Portal dos Jornalistas
Artigo do jornalista Ricardo Kotscho sobre os 80 anos de Audálio Dantas
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