Marcello Casal Jr/ABr |
Alguns aspectos do desempenho da economia brasileira em 2012 parecem apanhar desprevenida a imprensa na sexta-feira (1/02). Diferentemente do especializado Valor Econômico, que deu o assunto com menos destaque, os três principais jornais de circulação nacional trazem em suas primeiras páginas reportagens sobre a queda do desemprego em 2012 – tratando a informação como um fato surpreendente.
O tema foi manchete na Folha de S. Paulo, com o enunciado: “Desemprego é o menor em 10 anos; renda sobe”. Aparentemente, a linha fina sob a manchete da Folha explica a perplexidade dos jornais: “Mercado de trabalho tem bom ano apesar do tímido desempenho da economia”.
A mesma surpresa apareceu na primeira página do Brasil Econômico: “Desemprego tem a menor taxa dos últimos dez anos – mesmo com PIB mais fraco, setor de serviços ampliou contratações e empresas adiaram demissões”.
“Desemprego é o menor desde março de 2002”, diz o Estado de S. Paulo na primeira página, complementando, na capa do caderno “Economia &Negócios”: “Desemprego cai a 4,6% em dezembro e atinge o mais baixo nível histórico”.
Paralelamente, os jornais também destacam o aumento da renda familiar, embora tenha se reduzido o número de jovens que procuram trabalho.
Trata-se de um conjunto de dados que exigem alguma reflexão sobre o noticiário econômico. A aparente contradição entre o baixo desempenho do Produto Interno Bruto, que mobilizou reportagens, artigos e editoriais de tom negativo nos últimos meses, e a melhoria da renda do trabalho, não combina com os dogmas econômicos genericamente professados pela imprensa brasileira.
O aumento de 4,1% na renda contrasta principalmente com o fraco desempenho do PIB, que cresceu apenas cerca de 1% no ano passado. Um apêndice na reportagem do Estadão sobre o assunto resume a surpresa da imprensa. “Enigma: um PIB que cresce 1% em geral não produz alta no emprego, nem no rendimento, como no ano passado. Os economistas não têm explicação segura sobre o resultado”, afirmou o jornal.
A mesma curiosidade tem sido manifestada pela imprensa internacional de economia, como mostra artigo publicado no blog do jornal britânico Financial Times especializado em países emergentes, e citado peloEstadão. O especialista confessa não entender alguns aspectos da política econômica do Brasil.
Uma nova economia
De fato, essa parece ser a questão central: a imprensa, de modo geral, trabalha com padrões que podem estar superados, após a crise financeira de 2008, seguida da sucessão de intervenções de governos na economia e culminando com as dificuldades presentes na zona do euro e nos Estados Unidos.
Além disso, o advento da chamada “economia verde”, expressão que populariza as novas condicionantes para a atividade produtiva e a aplicação do capital, criadas pela questão ambiental, obriga a repensar o próprio conceito de desenvolvimento.
O Produto Interno Bruto, por exemplo, que segue sendo uma obsessão para economistas com grande reputação na imprensa, já não é considerado um indicador satisfatório para mensurar o estado das economias nacionais.
Em seu livro intitulado Muito além da economia verde, lançado em meados do ano passado, o filósofo e economista Ricardo Abramovay, professor titular na Universidade de São Paulo, levanta questões como essa, apontando a necessidade de reconsiderar os fundamentos do pensamento econômico, ainda dominado por dogmas do século passado. Segundo Abramovay e outros estudiosos, uma nova realidade do mundo desautoriza o pensamento conservador.
A aceleração do processo de globalização dos mercados e das relações sociais, o desenvolvimento sem precedentes das tecnologias de informação e comunicação, além da constatação de que as economias não podem crescer indefinidamente no padrão de exploração das reservas naturais, são condicionantes de um novo olhar sobre o sistema de produção e comércio.
A questão central, segundo essa visão, se resume nas perguntas que em geral os economistas apreciados pela imprensa não costumam fazer: crescer para que, produzindo o que, e com que resultados para a sociedade?
Quando o PIB permanece encolhido, e mesmo assim a renda familiar cresce e o desemprego diminui, contribuindo para reduzir as desigualdades, o resultado é o sentimento de perplexidade que se observou nas edições de sexta-feira nos jornais.
O tema foi manchete na Folha de S. Paulo, com o enunciado: “Desemprego é o menor em 10 anos; renda sobe”. Aparentemente, a linha fina sob a manchete da Folha explica a perplexidade dos jornais: “Mercado de trabalho tem bom ano apesar do tímido desempenho da economia”.
A mesma surpresa apareceu na primeira página do Brasil Econômico: “Desemprego tem a menor taxa dos últimos dez anos – mesmo com PIB mais fraco, setor de serviços ampliou contratações e empresas adiaram demissões”.
“Desemprego é o menor desde março de 2002”, diz o Estado de S. Paulo na primeira página, complementando, na capa do caderno “Economia &Negócios”: “Desemprego cai a 4,6% em dezembro e atinge o mais baixo nível histórico”.
Paralelamente, os jornais também destacam o aumento da renda familiar, embora tenha se reduzido o número de jovens que procuram trabalho.
Trata-se de um conjunto de dados que exigem alguma reflexão sobre o noticiário econômico. A aparente contradição entre o baixo desempenho do Produto Interno Bruto, que mobilizou reportagens, artigos e editoriais de tom negativo nos últimos meses, e a melhoria da renda do trabalho, não combina com os dogmas econômicos genericamente professados pela imprensa brasileira.
O aumento de 4,1% na renda contrasta principalmente com o fraco desempenho do PIB, que cresceu apenas cerca de 1% no ano passado. Um apêndice na reportagem do Estadão sobre o assunto resume a surpresa da imprensa. “Enigma: um PIB que cresce 1% em geral não produz alta no emprego, nem no rendimento, como no ano passado. Os economistas não têm explicação segura sobre o resultado”, afirmou o jornal.
A mesma curiosidade tem sido manifestada pela imprensa internacional de economia, como mostra artigo publicado no blog do jornal britânico Financial Times especializado em países emergentes, e citado peloEstadão. O especialista confessa não entender alguns aspectos da política econômica do Brasil.
Uma nova economia
De fato, essa parece ser a questão central: a imprensa, de modo geral, trabalha com padrões que podem estar superados, após a crise financeira de 2008, seguida da sucessão de intervenções de governos na economia e culminando com as dificuldades presentes na zona do euro e nos Estados Unidos.
Além disso, o advento da chamada “economia verde”, expressão que populariza as novas condicionantes para a atividade produtiva e a aplicação do capital, criadas pela questão ambiental, obriga a repensar o próprio conceito de desenvolvimento.
O Produto Interno Bruto, por exemplo, que segue sendo uma obsessão para economistas com grande reputação na imprensa, já não é considerado um indicador satisfatório para mensurar o estado das economias nacionais.
Em seu livro intitulado Muito além da economia verde, lançado em meados do ano passado, o filósofo e economista Ricardo Abramovay, professor titular na Universidade de São Paulo, levanta questões como essa, apontando a necessidade de reconsiderar os fundamentos do pensamento econômico, ainda dominado por dogmas do século passado. Segundo Abramovay e outros estudiosos, uma nova realidade do mundo desautoriza o pensamento conservador.
A aceleração do processo de globalização dos mercados e das relações sociais, o desenvolvimento sem precedentes das tecnologias de informação e comunicação, além da constatação de que as economias não podem crescer indefinidamente no padrão de exploração das reservas naturais, são condicionantes de um novo olhar sobre o sistema de produção e comércio.
A questão central, segundo essa visão, se resume nas perguntas que em geral os economistas apreciados pela imprensa não costumam fazer: crescer para que, produzindo o que, e com que resultados para a sociedade?
Quando o PIB permanece encolhido, e mesmo assim a renda familiar cresce e o desemprego diminui, contribuindo para reduzir as desigualdades, o resultado é o sentimento de perplexidade que se observou nas edições de sexta-feira nos jornais.
1 comentários:
Concordo e, se realmente acabarmos com a praga degradadora do Agronegócio, aí sim vamos ter aumento renda e emprego equalizados e saúde para todo mundo, o PIB é uma farça.
Postar um comentário