Por Marcos Urupá
O Brasil viveu nas últimas semanas um clima que há muito tempo não vivia. Chegou-se em determinados momentos a compará-lo com o clima das Diretas, já!
Tudo começou com as manifestações do Movimento Passe Livre, em São Paulo, que tinham como foco o questionamento ao aumento das tarifas de ônibus na capital paulista. A forma truculenta, desmedida e despudorada com que a polícia revidou os manifestantes, mostrando em determinados momentos que era proibido se manifestar, criou um clima de insatisfação em todos os cantos do Brasil.
Da noite para o dia, várias pessoas foram ás ruas mostrar que aquele espaço era público. E várias pauta, especialmente voltadas para o aspecto político e até certo ponto genéricas, como “mais recursos para a saúde e educação”, “contra a PEC 37”, “por uma reforma política”, “abaixo a corrupção brotaram como grama no pasto”.
Os veículos de comunicação tentaram, nos primeiros dias, desqualificar e criminalizar, como de praxe, as manifestações. O discurso do Arnaldo Jabor, feito em horário nobre no Jornal Nacional é um dos maiores emblemas desse processo.
Jabor foi para a televisão, no horário nobre concedido a ele pela TV Globo, e fez um discurso chamando os manifestantes de ignorantes políticos. E disse ainda que os manifestantes vivem no passado de uma ilusão e finalizou seu texto afirmando que “os revoltosos de classe média não valem nem R$ 0,20”.
Mas de repente, dois dias depois, ocorre uma virada no discurso e a cobertura da imprensa muda de linha. Dois fatos mostram bem essa guinada: a ida do próprio Jabor ao Jornal Nacional, com outro discurso e pedindo desculpas pelas palavras do dia anterior e a capa da Folha de São Paulo, destacando a reação violenta da polícia aos protestos. No meio disso tudo, a repressão violenta da polícia não atingiu somente os manifestantes. Vários jornalistas foram agredidos, e ai, de uma vez por todas, a imprensa jogou uma pá de cal no velho discurso e saiu em defesa dos manifestantes.
Toda essa postura dos veículos de comunicação chamou a atenção daqueles que estavam nas ruas. E, junto com as pautas que implodiram das manifestações, veio a da comunicação. Vários repórteres, especialmente da Rede Globo que iam cobrir as manifestações começaram a ter sua rotina de trabalho atrapalhada. Sob os gritos de “O povo não é bobo, abaixo a rede Globo”, e “Ih, fora” repórteres como Marcos Losekan, em paris e Caco Barcelos, em São Paulo, não puderam fazer matérias direto das manifestações.
Grosseria? Hostilização? Não!! A reação dos manifestantes é fruto da própria postura que esta empresa e tantos outros veículos de comunicação tiveram durante a cobertura das manifestações e durante a sua trajetória jornalística. Vimos pela primeira vez a pauta da democratização da comunicação surgir de outros atores; de outros agentes que não os acadêmicos ou especialistas.
E a cada dia que passava, a Rede Globo e outras grandes emissoras se tornaram alvo dos manifestantes. A reivindicação pela democratização da comunicação virou mais uma das pautas que contaminou as ruas e dizeres de cartazes do povo saia de suas casas pelo simples fato de sair.
O debate sobre a democratização da comunicação, que sempre girou em torno de especialistas e acadêmicos, tinha como grande desafio, até bem pouco tempo atrás, colocar para a sociedade a necessidade de combater o monopólio da mídia, já que ele é prejudicial para a democracia e para a sociedade como um todo.
Os manifestantes que foram para as ruas no último dia 11 de julho, Dia Nacional de Lutas chamado pelas centrais sindicais e movimentos sociais como o MST e que teve como pauta a Redução do preço das passagens e melhoria na qualidade dos transportes públicos, mais investimentos na saúde e na educação, fim dos leilões das reservas de petróleo, contra o projeto que regulamenta a terceirização (PL 4330) e reforma agrária, colocaram a democratização dos meios de comunicação como uma das reivindicações e a necessidade do Ministério das Comunicações rever urgentemente sua pauta de ações.
Vários cartazes e entidades criticaram e exigiram do governo uma real política de comunicação no Brasil. O projeto de lei de Iniciativa popular, proposto por várias entidades da sociedade civil, ganhou mais musculatura e foi uma das principais bandeiras colocadas pelas entidades no dia 11 de julho.
Soma-se a isso o surgimento de grupos, coletivos e entidades que se apropriaram do processo de construção de comunicar e de difundir a informação, especialmente através da internet.
Em São Paulo, o Dia Nacional de Lutas teve transmissão em sua totalidade por smartphones conectados à 3G e o discurso era um só: “Abaixo da rede Globo”, “Abaixo o monopólio da mídia” e por ai foi.
Isso deve ser visto com bons olhos não só pelos militantes da democratização da comunicação, mas pela sociedade como um todo. É uma real demonstração de que o alvo não é somente o governo, mas as empresas de comunicação, que durante muito tempo criaram o discurso dominante e tendencioso durante décadas na sociedade.
É importante que as empresas de comunicação, especialmente a Rede Globo, entendam que agora elas são os grandes alvos da sociedade brasileira. O gigante acordou para elas.
* Marcos Urupá é jornalista, advogado e foi diretor da TV Cultura do Pará. É associado do Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social - e co-autor do livro "Caminhos para a universalização da Internet banda larga: experiências internacionais e desafios brasileiro" (Intervozes, 2012).
O Brasil viveu nas últimas semanas um clima que há muito tempo não vivia. Chegou-se em determinados momentos a compará-lo com o clima das Diretas, já!
Tudo começou com as manifestações do Movimento Passe Livre, em São Paulo, que tinham como foco o questionamento ao aumento das tarifas de ônibus na capital paulista. A forma truculenta, desmedida e despudorada com que a polícia revidou os manifestantes, mostrando em determinados momentos que era proibido se manifestar, criou um clima de insatisfação em todos os cantos do Brasil.
Da noite para o dia, várias pessoas foram ás ruas mostrar que aquele espaço era público. E várias pauta, especialmente voltadas para o aspecto político e até certo ponto genéricas, como “mais recursos para a saúde e educação”, “contra a PEC 37”, “por uma reforma política”, “abaixo a corrupção brotaram como grama no pasto”.
Os veículos de comunicação tentaram, nos primeiros dias, desqualificar e criminalizar, como de praxe, as manifestações. O discurso do Arnaldo Jabor, feito em horário nobre no Jornal Nacional é um dos maiores emblemas desse processo.
Jabor foi para a televisão, no horário nobre concedido a ele pela TV Globo, e fez um discurso chamando os manifestantes de ignorantes políticos. E disse ainda que os manifestantes vivem no passado de uma ilusão e finalizou seu texto afirmando que “os revoltosos de classe média não valem nem R$ 0,20”.
Mas de repente, dois dias depois, ocorre uma virada no discurso e a cobertura da imprensa muda de linha. Dois fatos mostram bem essa guinada: a ida do próprio Jabor ao Jornal Nacional, com outro discurso e pedindo desculpas pelas palavras do dia anterior e a capa da Folha de São Paulo, destacando a reação violenta da polícia aos protestos. No meio disso tudo, a repressão violenta da polícia não atingiu somente os manifestantes. Vários jornalistas foram agredidos, e ai, de uma vez por todas, a imprensa jogou uma pá de cal no velho discurso e saiu em defesa dos manifestantes.
Toda essa postura dos veículos de comunicação chamou a atenção daqueles que estavam nas ruas. E, junto com as pautas que implodiram das manifestações, veio a da comunicação. Vários repórteres, especialmente da Rede Globo que iam cobrir as manifestações começaram a ter sua rotina de trabalho atrapalhada. Sob os gritos de “O povo não é bobo, abaixo a rede Globo”, e “Ih, fora” repórteres como Marcos Losekan, em paris e Caco Barcelos, em São Paulo, não puderam fazer matérias direto das manifestações.
Grosseria? Hostilização? Não!! A reação dos manifestantes é fruto da própria postura que esta empresa e tantos outros veículos de comunicação tiveram durante a cobertura das manifestações e durante a sua trajetória jornalística. Vimos pela primeira vez a pauta da democratização da comunicação surgir de outros atores; de outros agentes que não os acadêmicos ou especialistas.
E a cada dia que passava, a Rede Globo e outras grandes emissoras se tornaram alvo dos manifestantes. A reivindicação pela democratização da comunicação virou mais uma das pautas que contaminou as ruas e dizeres de cartazes do povo saia de suas casas pelo simples fato de sair.
O debate sobre a democratização da comunicação, que sempre girou em torno de especialistas e acadêmicos, tinha como grande desafio, até bem pouco tempo atrás, colocar para a sociedade a necessidade de combater o monopólio da mídia, já que ele é prejudicial para a democracia e para a sociedade como um todo.
Os manifestantes que foram para as ruas no último dia 11 de julho, Dia Nacional de Lutas chamado pelas centrais sindicais e movimentos sociais como o MST e que teve como pauta a Redução do preço das passagens e melhoria na qualidade dos transportes públicos, mais investimentos na saúde e na educação, fim dos leilões das reservas de petróleo, contra o projeto que regulamenta a terceirização (PL 4330) e reforma agrária, colocaram a democratização dos meios de comunicação como uma das reivindicações e a necessidade do Ministério das Comunicações rever urgentemente sua pauta de ações.
Vários cartazes e entidades criticaram e exigiram do governo uma real política de comunicação no Brasil. O projeto de lei de Iniciativa popular, proposto por várias entidades da sociedade civil, ganhou mais musculatura e foi uma das principais bandeiras colocadas pelas entidades no dia 11 de julho.
Soma-se a isso o surgimento de grupos, coletivos e entidades que se apropriaram do processo de construção de comunicar e de difundir a informação, especialmente através da internet.
Em São Paulo, o Dia Nacional de Lutas teve transmissão em sua totalidade por smartphones conectados à 3G e o discurso era um só: “Abaixo da rede Globo”, “Abaixo o monopólio da mídia” e por ai foi.
Isso deve ser visto com bons olhos não só pelos militantes da democratização da comunicação, mas pela sociedade como um todo. É uma real demonstração de que o alvo não é somente o governo, mas as empresas de comunicação, que durante muito tempo criaram o discurso dominante e tendencioso durante décadas na sociedade.
É importante que as empresas de comunicação, especialmente a Rede Globo, entendam que agora elas são os grandes alvos da sociedade brasileira. O gigante acordou para elas.
* Marcos Urupá é jornalista, advogado e foi diretor da TV Cultura do Pará. É associado do Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social - e co-autor do livro "Caminhos para a universalização da Internet banda larga: experiências internacionais e desafios brasileiro" (Intervozes, 2012).
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