Na recente safra de pesquisas uma única coisa interessa: o que dizem a respeito da sucessão presidencial. O demais é secundário. Ou melhor, só é relevante por seus efeitos sobre essa questão fundamental.
Se não tivéssemos uma eleição daqui a pouco mais de um ano e se a presidenta não fosse candidata, perguntas sobre a avaliação do governo e de políticas seriam de relevância menor.
Todas concordam que Dilma Rousseff caiu do patamar onde estava até o início de junho. Naquelas, obtinha, no voto espontâneo, perto de 25%. Nas novas, minguou para 15%.
No chamado voto estimulado, ficava entre 50% e 58%, a depender dos adversários. Nas de agora, mal chega a 35% nas simulações de primeiro turno e vai, no máximo, a 42% naquelas de segundo.
É preciso lembrar que a predisposição a votar na presidenta estava em queda de março para junho. No voto espontâneo, fora de 35% para 25%, e caíra de 60% para 50% na estimulada. Ou seja, suas chances de vitória tinham se reduzido, apesar de permanecerem elevadas.
Nas atuais, a queda foi bem mais expressiva. O desgaste que se identificava foi intensificado e acelerado pelas manifestações de junho.
O que parece é que Dilma sofreu uma perda considerável de intenção de voto pelo fato de os cidadãos terem ido às ruas se manifestar e não pela preexistência de uma elevada insatisfação com ela ou com seu governo. Em outras palavras, as manifestações foram causa e não consequência do tamanho e do tipo de descontentamento retratados hoje pelas pesquisas (e que se reflete no despencar de suas chances, para usar a palavra que tanto alegra a “grande mídia”).
De um lado, o fato de elas eclodirem e receberem imensa (e favorável) cobertura dos meios de comunicação fez com que tivessem o que a sociologia chama de “efeito demonstração”. Mesmo quem tinha uma insatisfação “aceitável” passou a achar que devia “indignar-se”, ainda que não soubesse exatamente contra o quê.
Mas a razão primordial para as manifestações cumprirem esse papel foi o seu impacto na elevação da sensação de insegurança dos brasileiros comuns. E o que a provocou foi a visualização da violência em estado bruto nas principais cidades do País.
Nenhum governo resiste à repetição diária de cenas de mortes, sangue, tiros, quebra-quebras, depredações, incêndios. Durante três semanas, exatamente entre as pesquisas de junho e julho, foi ao que a sociedade brasileira assistiu na televisão, viu na internet, ouviu no rádio, leu em jornais e revistas.
Em outras palavras, o que de fato atingiu a avaliação do governo (com um consequente impacto na intenção de voto em Dilma) não foi o “lado bom” das manifestações, tão louvado pela mídia, das moças e rapazes a cantar o Hino Nacional enrolados na bandeira, mas seu “lado negro”, dos “baderneiros” e “arruaceiros”. Em relação xifópaga, um usou o outro.
Mas, se é verdade que Dilma desceu, é também verdade que nenhum de seus adversários efetivos subiu. Apenas Marina Silva teve desempenho positivo.
Ao comparar a performance de Aécio Neves e Eduardo Campos nas pesquisas de junho e julho, vemos que no voto espontâneo ambos permaneceram estacionados: o tucano em 4% e o pernambucano em 1%. No estimulado, Aécio tinha 14% e lá ficou. Eduardo obtinha 3% e passou a 4%.
Cresceram Marina (turbinada pela simpatia dos ricos) e o não voto, o agregado daqueles que disseram branco, nulo, nenhum ou não saber. Quando se considera apenas a indecisão, os resultados de julho foram iguais àqueles de junho, com 5%. O que poderia ser considerado voto de rejeição, a soma de brancos e nulos, dobrou, ainda que ficasse em menos de 20%.
Tudo considerado, Dilma mantém-se favorita, até pelo fato de essas pesquisas a flagrarem no que deve ter sido seu pior momento. Permanece à frente, tem a seu favor o tempo, a inércia da reeleição e, como mostram as pesquisas qualitativas recentes, continua a contar com a torcida de muitos que acham cedo para julgá-la.
E a única candidatura que cresceu foi de alguém que a maioria da população vê com simpatia, mas sem condições de se sentar na cadeira de presidente. Muita gente admira Marina, mas poucos ficam confortáveis ao imaginá-la no cargo.
Quanto a fabricar alguém de última hora, a chance é pequena, mas não pode ser descartada. Em 1989, por exemplo, a um mês da eleição, a direita inventou a candidatura de Silvio Santos.
Terá outra na algibeira para 2014?
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