terça-feira, 6 de agosto de 2013

Haddad defende mais diálogo

Por Cláudia Motta, no sítio do Sindicato dos Bancários de São Paulo:

“O povo quer conversar, quer entender para onde vamos caminhar.” O prefeito Fernando Haddad, que aos seis meses de gestão enfrentou manifestações gigantescas pela redução nos preços das passagens de ônibus em São Paulo, sai hoje às ruas calmamente: fez o trajeto entre a prefeitura e o Sindicato (cerca de 500 metros, no Centro) caminhando e, segundo sua assessoria de imprensa, sem qualquer percalço, inclusive cumprimentado as pessoas.

Durante cerca de uma hora e meia, Haddad respondeu todas as perguntas dos blogueiros que acompanhavam o programa Contraponto: falou sobre os recentes protestos, o monopólio da mídia, as questões que atormentam os moradores da maior cidade do país, como transporte, moradia, segurança, educação. Falou muito em transparência, mas fugiu de polêmicas.

O programa foi ao ar pela primeira vez nessa segunda-feira com a mediação da presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, e entrevistas de Eduardo Guimarães (blogdacidadania.com.br), Paulo Henrique Amorim (conversaafiada.com.br), Luiz Carlos Azenha (viomundo.com.br) e Altamiro Borges (altamiroborges.blogspot.com.br), além da participação dos internautas. E volta, todas as primeiras segundas-feiras de cada mês. “Nosso objetivo é manter um canal a mais de participação nos poucos espaços de comunicação disponíveis para os trabalhadores”, afirma Juvandia.

Transporte 

Haddad reconheceu a necessidade de aumentar os subsídios públicos para o transporte municipal, mas lembrou que “tem de ver a fonte”. “Defendi, em março, a Cide (aumento do imposto sobre combustíveis) num artigo da Folha de S.Paulo”, ao que PHA rebateu: “ninguém lê a Folha”. O prefeito continuou: “não teve ninguém que se manifestou, para minha surpresa. Nem o Movimento Passe Livre. Meses depois, o MPL na carta aberta à presidenta Dilma defende a Cide como subsídio ao transporte público”, cutuca o prefeito. “Na minha campanha havia dito que sob qualquer hipótese o aumento da tarifa seria menos que a inflação e foi menos da metade.”

“É justo que o subsídio aumente. Em várias cidades do mundo é mais barato que em São Paulo. Mas não considero justo manejar orçamento atual: metade do subsídio hoje vai para o bolso do empregador que paga vale-transporte para o funcionário. No caso da sua categoria, Juvandia, quem ganhou foram os bancos. Não podemos tirar dinheiro do orçamento, da saúde, da educação, para beneficiar alguns”, destacou.

Questionado pela presidenta Juvandia sobre o lucro dos empresários do setor, explicou: “Não vamos dar nenhum passo sem a população conhecer os números e concordar com eles. Vamos debater se a taxa de retorno é justa ou não. Conseguirei fazer o bilhete único mensal que quebra a discussão sobre o transporte. Hoje, aquilo que não é vir e voltar do trabalho sai do bolso do trabalhador. Calendário está mantido, mas conta não é simples de fechar depois do que aconteceu (revogação do reajuste das passagens).”

Manifestações 

Questionado sobre o que aconteceu em junho, o prefeito disse que esse movimento tem muitas superposições e que é assim em muitos outros lugares. “A América Latina viveu momento mais focado no combate à miséria. E isso incomoda. E incomodava no Brasil, sem que setores incomodados tivessem se manifestado. Assim, o povo órfão encontrou caminho pra se manifestar. Tem um pessoal cobrando serviço público de qualidade. E existe um humor, como se a democracia não estivesse dando conta do recado. Por isso estamos aqui. Há uma vontade de aproximação. Dizia pra presidenta Dilma que há uma indisposição inicial que é facilmente quebrável. O povo quer conversar, quer entender pra onde vamos caminhar.”

E contou que também em conversa com a presidenta disse “temos de lançar programas sociais 3.0. Como as carências são enormes, população assimila rapidamente conquistas e quer avançar. Tem de estar dando respostas permanentes. Trabalhadores têm dúvida se projeto tem fôlego. E não tem nenhum com mais fôlego que o nosso, pode ter perdido vigor diante do cenário internacional, mas tem muito vigor.”

O que mudou depois dos protestos? “Do ponto de vista programático, vamos acelerar o processo. Porque os protestos vão ao encontro do que defendemos no nosso programa, durante a campanha eleitoral. Não vejo contradição programática entre o que está nas ruas (educação, transporte, saúde, moradia, transparência) e nos dá mais energia de antecipar, correr atrás, fazer mais e melhor”, ressaltou Haddad, lembrando que “numa cidade como essa, nosso governo começa agora, estamos revendo contratos, revendo obras. Ganhamos eleição contestando o que vinha sendo feito”.

Comunicação

E sobre o papel da mídia, da Globo nas manifestações? Para o prefeito, “muitos agentes confundem a crítica que deve ser feita, mas penso que quando você resvala para a negação do que tem de ser enaltecido quando exercido com honradez, penso que infelizmente aqueles que deveriam promover esse discernimento concorrem para misturar as estações, e o joio e o trigo ficam misturados. Isso não está sendo respeitado no Brasil. Tem gente boa em todo canto. Que pensa diferente e por isso está em partidos diferentes”.

E sobre a lei de meios? “A Globo controla 80% da publicidade, nem país marxista como EUA permite”, ironizou Paulo Henrique Amorim. O prefeito se esquivou. “Pluralismo são valores liberais. Visão de mundo tem de se impor pelo melhor argumento, boa democracia e a que o cidadão mais humilde tem espaço para expor. Mas o espaço está mediado por um setor oligopolizado. Alguma coisa precisa ser feita com certeza. A questão da concentração excessiva tem de mudar. O controle de diversas linguagens em torno de um império só tem de mudar.”

Se considera que a mídia tradicional está avessa à prefeitura? “Não tenho grandes expectativas em relação às tradicionais. Respeito, tenho bom diálogo.”

E qual a relação com as novas mídias? “Sobre as novas, esse debate quer dizer muita coisa. Estarei muito disponível. O que a prefeitura puder fazer para incluir digitalmente, robustecer a pluralidade, faremos.”

Bairros

Haddad respondeu, ainda, sobre os problemas de moradia, reafirmando o Arco do Futuro, no plano diretor que vai para a Câmara no começo de setembro. “Vamos adensar a cidade onde ela pode ser adensada, perto do transporte público. Hoje se adensa bairros que não têm transporte. Vamos estimular a construção para geração de emprego e renda, como zonas leste e sul, levar empresas para essas localidades mediante incentivo fiscal e potencial de ocupação dos terrenos, investir onde a cidade precisa de emprego. Aprovando o plano diretor e aprovando as regras de regulação do território, cidade passa a se desenvolver de acordo com essas rédeas.”

E explica: “empresário que quiser gerar emprego vai poder edificar, sem pagar alguns impostos”.

Trabalhadores

Questionado sobre a relação da prefeitura com o movimento sindical e sobre a terceirização de serviços, Haddad afirmou desconhecer o PL 4330 (leia mais na capa), mas informou que a prefeitura está revertendo o aumento dos contratos terceirizados. “De 2009 a 2012 o aumento do valor dos contratos terceirizados da prefeitura foi 14% acima da inflação. Nos primeiros seis meses foi de 1% abaixo da inflação.”

Com o movimento sindical, lembrou que sempre teve boa relação quando ministro. “Nos mesmos moldes, construímos uma mesa permanente de negociação também em São Paulo.”

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