sábado, 19 de outubro de 2013

Folha mantém fraude jornalística

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Meio que na surdina durante uma semana de baixa temperatura política, uma das mais impressionantes fraudes jornalísticas dos últimos anos foi praticada e, mesmo após ter sido desmascarada, vem sendo mantida por quem praticou.

Na última quarta-feira, a Folha de São Paulo publica em destaque, no alto de sua primeira página, em tom de denúncia, a informação de que a presidente Dilma aumentou o ritmo de viagens pelo país para entregar até “casas sem água e luz”.


Sob o título “Dilma multiplica viagens e entrega casas sem água e luz”, a “denúncia” ainda relata que a presidente participou, neste ano, de 11 eventos para entregar retroescavadeiras e outras máquinas a prefeitos.

Vale informar que essa “entrega de retroescavadeiras” decorre de programa federal bilionário anunciado recentemente por Dilma no programa do “Ratinho” e que está DANDO um “kit” não só com retroescavadeira, mas com motoniveladoras e caminhões-caçamba a centenas de prefeituras de pequenos municípios.

Recentemente, foram entregues 179 kits. O programa, lançado sob a rubrica PAC 2, tem orçamento de cerca de um bilhão de reais e deve movimentar o setor de máquinas e equipamentos, além de gerar empregos.

Já na matéria da Folha sobre o Minha Casa, Minha vida, foi colocada foto (abaixo) de moradora que estaria “vivendo à luz de vela” em uma das “casas sem água e luz”, e reproduzidos relatos sobre “a situação” em que estariam as famílias por falta de infraestrutura dos imóveis.

As “casas sem água e luz” em questão são unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha vida que foram entregues pela presidente Dilma na última terça-feira, 15, em Vitória da Conquista (BA). A matéria da Folha induz o leitor a pensar que as casas não têm redes de luz, água e esgoto.

A foto abaixo é do conjunto habitacional inaugurado pela presidente e já começa a desmontar a farsa da Folha. O que se vê são casas bem construídas, em ruas com calçadas, pavimentadas, com postes e relógios de luz e, abaixo deles, relógios para medição do consumo de água.

Por que, então, o jornal coloca no alto de sua primeira página, em destaque, essa “denúncia”? Faz sentido a foto de uma casa à luz de velas? As pessoas terão que viver desse jeito? Que inauguração é essa que leva famílias para viverem em condições tão precárias quanto a da foto?

A intenção de causar impacto ao leitor com uma distorção dos fatos fica absolutamente comprovada no “outro lado” publicado pelo jornal. Apesar de não ter recebido destaque, a nota do Ministério das Cidades explica que não é nada disso.

O texto deixa claro que as casas possuem ligações de água e luz, sim, mas que, como em qualquer imóvel até de um “bairro nobre”, quem passa a ocupá-lo tem que se dirigir às empresas distribuidoras para que as ligações sejam ligadas, por assim dizer.

Ou seja: as pessoas que estão vivendo sem água e luz nas unidades habitacionais inauguradas por Dilma simplesmente não quiseram esperar o prazo de cinco dias úteis para ocuparem os novos imóveis e, desse modo, passaram a ocupá-los de qualquer jeito.

O ânimo ou a necessidade de mudar logo provavelmente explica por que essas pessoas fizeram isso.

Por não haver qualquer irregularidade na entrega das unidades habitacionais ou nas ligações de água e luz, no dia seguinte à publicação da “denúncia” da Folha a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba) enviou carta à coluna de leitores do jornal explicando que não havia falta alguma de luz no local.

Abaixo, reprodução da carta da Coelba publicada pela Folha na quinta-feira, 17 de outubro.

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Minha Casa, Minha Vida

Em relação à reportagem “Dilma multiplica viagens e entrega casas sem água e luz” (“Poder”, ontem), a Coelba (Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia) esclarece que vem realizando as ligações das moradias do programa Minha Casa, Minha Vida no prazo da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), de cinco dias úteis.

Os pedidos só podem ser feitos por responsáveis pelos imóveis, e estes receberam as chaves em 9/10. A Coelba registrou 1.070 solicitações de ligação deste empreendimento em Vitória da Conquista (BA). Destas, 562 unidades foram ligadas e as demais o serão até sábado (19). Uma agência móvel está no local para facilitar o atendimento e realizar cadastros na tarifa social de energia.

AMINE DARZÉ, gerente de comunicação da Coelba (Salvador, BA)


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Apesar do esclarecimento, a coluna “Erramos”, do mesmo jornal, não divulgou o “erro” de publicar na primeira página uma manchete que informa que as casas entregues por Dilma “não têm água e luz”.

Na sexta-feira, dia 18, mais uma carta no Painel do Leitor da Folha sobre a “denúncia” em tela. Desta vez, quem escreve é o próprio Ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, que conclui o texto acusando a Folha de ter servido a “interesses eleitorais” ao publicar a falsa denúncia.

Abaixo, reprodução da carta do ministro publicada pela Folha na sexta-feira, 18 de outubro.

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Minha Casa, Minha Vida

As reportagens “Dilma multiplica viagens e entrega casas sem água e luz” (“Poder”, 16/10) e “Para oposição, Dilma viaja mais porque já está em campanha” (“Poder”, ontem) induzem o leitor a conclusões equivocadas.

Todas as moradias do programa Minha Casa, Minha Vida são entregues com infraestrutura de água, esgoto e energia. Cabe aos beneficiários solicitar às companhias a ativação dos serviços.

Ao omitir que os casos de Vitória da Conquista (BA) estão dentro do prazo de instalação e minimizar, por duas edições, explicações do governo federal, os repórteres ignoraram princípios do “Manual da Redação” da Folha: apuração exaustiva, apartidarismo e imparcialidade. Podem se orgulhar de terem servido a interesses eleitorais, mas não aos dos leitores.

AGUINALDO RIBEIRO, ministro das Cidades (Brasília, DF)


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Na coluna “Erramos” da Folha, no mesmo dia, nem um pio sobre o “erro” de acusar a presidente da República do que seria uma farsa caso tivesse ocorrido como o jornal induziu seus leitores a crer.

A fraude, porém, cumpriu seu objetivo. No mesmo dia, na “blogosfera” instalada nos grandes portais, a “denúncia” foi repercutida exatamente sob o viés que a Folha pretendeu dar – acusando a presidente de “inaugurar obra inacabada”.

O colunista e blogueiro da Folha, Josias de Souza, afirmou que Dilma, “Com o prestígio rebaixado pelas ruas de junho, bate o ponto em formaturas de alunos do ensino técnico e distribui casas (…) à luz de velas e com torneiras secas”. Já o colunista e blogueiro da Veja Reinaldo Azevedo, não faz por menos. O título de sua matéria é “A ‘velha política’ de Dilma – Era uma casa muito engraçada, não tinha água, não tinha nada…”.

A pergunta que se deve fazer, objetivamente, é a seguinte: de fato Dilma entregou imóveis sem água e luz? Os beneficiários do Minha Casa, Minha vida vão viver dessa forma?

Vamos lá: eu mesmo, no início da vida de casado, mudei-me para um pequeno apartamento de quarto e sala muito próximo à avenida Paulista e fiquei sem luz por dois dias. Pessoas com as vidas ainda se estruturando podem ter que mudar rapidamente – ou podem querer, porque as casas entregues por Dilma, ao menos na foto, parecem muito boas e seus novos ocupantes devem ter ficado muito felizes, já que deviam estar vivendo em condições precárias.

É por essa e por outras que na quinta-feira o ex-presidente Lula exortou a militância petista e os simpatizantes do projeto político-administrativo em curso no país a “ocuparem a internet” até as eleições do ano que vem.

O tamanho da fraude exposta neste texto revela o nível em que transcorrerá a campanha eleitoral de 2014. Essas “denúncias” falsas se tornarão rotina. E, desta vez, provavelmente de uma forma nunca antes vista na história deste país.

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