Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
É claro que não se deve esperar de um candidato de oposição elogios e mesuras com quem está no poder e quer a reeleição. Oposição é oposição, governo é governo, já dizia o velho conselheiro. Seria razoável, no entanto, que um pretendente ao cargo máximo da Nação exponha, com clareza, onde o país está dando certo e o trabalho deve ter continuidade, onde está errando e precisa ser consertado e o que falta ser feito para o povo viver melhor.
Nada disso se encontra no artigo "Para mudar o Brasil", do candidato Aécio Neves, publicado nesta segunda-feira na nobre página 2 da Folha, uma espécie de amostra grátis da "declaração de princípios programáticos" que o tucano pretende anunciar solenemente amanhã em Brasília. Trata-se, na verdade, de um inventário das mazelas nacionais, como se o Brasil fosse uma terra arrasada, onde é preciso começar tudo de novo.
Aécio adverte logo no início que "não se trata de um diagnóstico técnico ou de um programa de governo, mas de reivindicações, cobranças, expectativas e sentimentos vindos dos quatro cantos do país, que constituem pontos de partida para o aprofundamento do diálogo com os brasileiros".
Após contar que ouviu "profissionais e militantes das mais diversas causas" (não diz quais), o senador mineiro afirma: "Constatamos que as urgências de dez anos atrás permanecem as mesmas de hoje. E vimos surgir novos desafios".
Ou seja, o país não fez mais nada desde que os tucanos deixaram o poder. Na visão de Aécio, em suas andanças na pré-campanha eleitoral, o Brasil ficou congelado no tempo, só produzindo desgraças, como podemos ver em alguns exemplos abaixo reproduzidos:
"Testemunhamos a luta diária das famílias nordestinas, vítimas e reféns da seca e os limites do atual projeto de gerenciamento de pobreza extrema, sem horizonte concreto capaz de libertar e habilitar uma nova cidadania". Como se fará isso?
"Fomos impactados pela tragédia de milhares de vidas perdidas impunemente nas grandes cidades, em um país que não tem sequer um arremedo de política nacional de segurança, e pelo desastre cotidiano de um sistema de saúde abandonado em macas pelos corredores de hospitais superlotados, em filas imensas, em demora, desvios e desrespeito". Quais seriam as soluções?
"Foi possível ver de perto, no Centro-Oeste, a contradição entre a alta produtividade brasileira da porteira para dentro e os gargalos da infraestrutura precária que se eternizaram da porteira para fora, travando nosso desenvolvimento". Dez anos atrás, como era?
"É desolador constatar o declínio da indústria de transformação e a extinção dos melhores empregos e como fazem falta ao país o direito básico do cidadão de ter acesso a uma educação de qualidade, os anos perdidos em escolaridade e uma mão de obra mais qualificada". Não custava nada, por exemplo, reconhecer que o país tem hoje os mais baixos índices de desemprego da sua história e os mais altos de renda, mas ainda é pouco.
"Descortina-se um país inteiro ainda a ser construído, que demanda a superação do 'nós e eles', estimulado pelo poder central, e a construção de uma inédita convergência em torno das grandes causas nacionais". Tudo bem, beleza, mas por que os tucanos não fizeram isso nos oito anos em que ficaram no Palácio do Planalto?
Só falta, enfim, combinar tudo isso com Sua Excelência, o eleitor, como lembra hoje nota do site político 247: "Aécio quer ganhar o PIB, antes dos eleitores. O senador mineiro e presidenciável do PSDB deve contemplar reivindicações de empresários no pré-programa do partido para as eleições de 2014(...) Aécio deve focar em uma reforma da política de intervenção estatal na economia, criticada pelo setor privado".
De fato, Aécio, assim como Eduardo Campos, já mantiveram longas reuniões com o empresariado nacional, em São Paulo, Rio e Brasília. Aécio tem mais um jantar hoje marcado pelo ex-ministro Armínio Fraga com o PIB do Rio de Janeiro.
Tanto Aécio como Eduardo investiram muito nos encontros com empresários este ano, o que talvez explique a sofreguidão com que a oposição e sua mídia aliada combatem o projeto contra o financiamento privado de campanhas, que está em votação no Supremo Tribunal Federal. Até agora, o placar está 4 a 0 contra o financiamento privado, que é o que interessa aos candidatos de oposição. Por mais poderosos que sejam, os donos do PIB não têm tantos votos assim.
É preciso chegar ao coração do eleitor por outros meios e não será, certamente, o escolhido por Aécio para encerrar este artigo na Folha: "É hora de somar forças para a construção coletiva de um novo projeto para mudar de verdade o Brasil". Isto poderia ser subscrito por qualquer candidato, a qualquer cargo, em qualquer época, em qualquer lugar. Que novo projeto é esse, ainda não sabemos.
Aécio prometeu que vai anunciar amanhã "as primeiras ideias recolhidas em encontros regionais, que, acreditamos, podem representar as bases de uma nova agenda para o Brasil". Aguardemos, pois. A campanha eleitoral, que já começou, está precisando exatamente disso: novas ideias, e não antigas lamúrias.
É claro que não se deve esperar de um candidato de oposição elogios e mesuras com quem está no poder e quer a reeleição. Oposição é oposição, governo é governo, já dizia o velho conselheiro. Seria razoável, no entanto, que um pretendente ao cargo máximo da Nação exponha, com clareza, onde o país está dando certo e o trabalho deve ter continuidade, onde está errando e precisa ser consertado e o que falta ser feito para o povo viver melhor.
Nada disso se encontra no artigo "Para mudar o Brasil", do candidato Aécio Neves, publicado nesta segunda-feira na nobre página 2 da Folha, uma espécie de amostra grátis da "declaração de princípios programáticos" que o tucano pretende anunciar solenemente amanhã em Brasília. Trata-se, na verdade, de um inventário das mazelas nacionais, como se o Brasil fosse uma terra arrasada, onde é preciso começar tudo de novo.
Aécio adverte logo no início que "não se trata de um diagnóstico técnico ou de um programa de governo, mas de reivindicações, cobranças, expectativas e sentimentos vindos dos quatro cantos do país, que constituem pontos de partida para o aprofundamento do diálogo com os brasileiros".
Após contar que ouviu "profissionais e militantes das mais diversas causas" (não diz quais), o senador mineiro afirma: "Constatamos que as urgências de dez anos atrás permanecem as mesmas de hoje. E vimos surgir novos desafios".
Ou seja, o país não fez mais nada desde que os tucanos deixaram o poder. Na visão de Aécio, em suas andanças na pré-campanha eleitoral, o Brasil ficou congelado no tempo, só produzindo desgraças, como podemos ver em alguns exemplos abaixo reproduzidos:
"Testemunhamos a luta diária das famílias nordestinas, vítimas e reféns da seca e os limites do atual projeto de gerenciamento de pobreza extrema, sem horizonte concreto capaz de libertar e habilitar uma nova cidadania". Como se fará isso?
"Fomos impactados pela tragédia de milhares de vidas perdidas impunemente nas grandes cidades, em um país que não tem sequer um arremedo de política nacional de segurança, e pelo desastre cotidiano de um sistema de saúde abandonado em macas pelos corredores de hospitais superlotados, em filas imensas, em demora, desvios e desrespeito". Quais seriam as soluções?
"Foi possível ver de perto, no Centro-Oeste, a contradição entre a alta produtividade brasileira da porteira para dentro e os gargalos da infraestrutura precária que se eternizaram da porteira para fora, travando nosso desenvolvimento". Dez anos atrás, como era?
"É desolador constatar o declínio da indústria de transformação e a extinção dos melhores empregos e como fazem falta ao país o direito básico do cidadão de ter acesso a uma educação de qualidade, os anos perdidos em escolaridade e uma mão de obra mais qualificada". Não custava nada, por exemplo, reconhecer que o país tem hoje os mais baixos índices de desemprego da sua história e os mais altos de renda, mas ainda é pouco.
"Descortina-se um país inteiro ainda a ser construído, que demanda a superação do 'nós e eles', estimulado pelo poder central, e a construção de uma inédita convergência em torno das grandes causas nacionais". Tudo bem, beleza, mas por que os tucanos não fizeram isso nos oito anos em que ficaram no Palácio do Planalto?
Só falta, enfim, combinar tudo isso com Sua Excelência, o eleitor, como lembra hoje nota do site político 247: "Aécio quer ganhar o PIB, antes dos eleitores. O senador mineiro e presidenciável do PSDB deve contemplar reivindicações de empresários no pré-programa do partido para as eleições de 2014(...) Aécio deve focar em uma reforma da política de intervenção estatal na economia, criticada pelo setor privado".
De fato, Aécio, assim como Eduardo Campos, já mantiveram longas reuniões com o empresariado nacional, em São Paulo, Rio e Brasília. Aécio tem mais um jantar hoje marcado pelo ex-ministro Armínio Fraga com o PIB do Rio de Janeiro.
Tanto Aécio como Eduardo investiram muito nos encontros com empresários este ano, o que talvez explique a sofreguidão com que a oposição e sua mídia aliada combatem o projeto contra o financiamento privado de campanhas, que está em votação no Supremo Tribunal Federal. Até agora, o placar está 4 a 0 contra o financiamento privado, que é o que interessa aos candidatos de oposição. Por mais poderosos que sejam, os donos do PIB não têm tantos votos assim.
É preciso chegar ao coração do eleitor por outros meios e não será, certamente, o escolhido por Aécio para encerrar este artigo na Folha: "É hora de somar forças para a construção coletiva de um novo projeto para mudar de verdade o Brasil". Isto poderia ser subscrito por qualquer candidato, a qualquer cargo, em qualquer época, em qualquer lugar. Que novo projeto é esse, ainda não sabemos.
Aécio prometeu que vai anunciar amanhã "as primeiras ideias recolhidas em encontros regionais, que, acreditamos, podem representar as bases de uma nova agenda para o Brasil". Aguardemos, pois. A campanha eleitoral, que já começou, está precisando exatamente disso: novas ideias, e não antigas lamúrias.
3 comentários:
Caro Miro,
Concordo em boa parte com seu texto. Só discordo da frase "Que novo projeto é esse, ainda não sabemos." Sabemos sim, é só ver as declarações dos economistas ligados ao PSDB ao longo de 2013.
Em 9/1/2013, a Veja publicou a reportagem "Soluções existem. Basta usá-las" onde diversos economistas ligados ao PSDB expunham suas ideias para fazer o país crescer. Entre elas podemos destacar:
- Edmar Bacha propôs reduzir 45% dos benefícios sociais pagos pelo governo, com o fim de qualquer benefício que não seja constitucional, além de sugerir uma tarifa máxima de importação de 10%. Seria uma combinação cruel de deixar ao desamparo a população mais pobre, com destruir a economia brasileira através do déficit de transações correntes.
- Gustavo Franco propôs simplesmente o Fim do FGTS e de qualquer garantia trabalhista para quem ganha acima da isenção de IR. Acabar com benefícios trabalhistas é quase uma obsessão de economistas ligados ao PSDB.
Em março, diversos economistas como Ilan Goldfajn, Alexandre Schwartzmann e José Márcio Camargo sugeriram através de entrevistas e artigos nos jornais que, para combater a inflação o desemprego deveria aumentar (Estadão 05/03 "Combater a inflação, mexer no emprego" e 24/03 "Emprego em alta pressiona inflação, dizem analistas"). Não sei se os empregadores desses economistas seguiram os seus conselhos e os demitiram.
Por fim, em artigo da Folha de 30/06/2013 ("É mais difícil do que parece"), Samuel Pessôa propôs mudança no cálculo do salário mínimo. Pegou tão mal, que o próprio Aécio desautorizou que economistas ligados ao PSDB falassem em seu nome (Brasil 247 "Aécio: não são seus "porta-vozes" de 11/11/2013).
O Projeto do PSDB é muito claro: acabar com benefícios trabalhistas, gerar desemprego, parar o processo de distribuição de renda e gerar grandes déficits comerciais. É só ouvir o que os economistas do partido têm a dizer.
O 'vamos conversar' deu com os burros n'água. Pelo visto ninguém apareceu e quem veio foram os mesmos de sempre, abastecidos pela mídia ressentida. Aécio andou circulando de novo entre o povo do 'cansei'. E se isso é ensaio do programa de governo, imagina o governo do seu Aécio!
Mais do mesmo!
Trocou de marketeiro e vai pongar no governo igual a "cerra"!
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