Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Os principais diários de circulação nacional trazem nas edições de terça-feira (4/1) notícias preocupantes sobre a economia mundial, instalando um tom sombrio nas perspectivas do cidadão que procura se informar sobre o que se passa à sua volta. O epicentro desses temores seria uma tendência geral do capital financeiro internacional a fugir de riscos, o que significa uma possível concentração de ativos em mercados maduros, onde o retorno pode não ser espetacular, mas onde o dinheiro fica supostamente mais protegido.
Um dos textos observa que não falta dinheiro no mundo – cerca de US$ 150 trilhões estariam disponíveis para investimento. O que falta, segundo essa análise, é projeto atraente para os investidores.
Por outro lado, é coerente pensar que é mais provável que esses projetos surjam exatamente nos países onde há muito a se construir, como é o caso do Brasil, da China e da Índia, principalmente. No entanto, o foco concentrado nos números do cotidiano tende a desviar a atenção para dificuldades circunstanciais e de curto prazo.
Os analistas da mídia citam como causas da turbulência os maus resultados da China, comparados às expectativas criadas pelo próprio mercado, dificuldades de outros países emergentes e a persistência da crise na Europa, além de frustrações com a recuperação da economia americana.
Um dos resultados destacados pela imprensa é a depreciação de moedas, ações e títulos públicos dos emergentes, provocada por uma revoada de investidores, cujas razões são variadas. Mas não há referência à origem desses fatores.
Embora o noticiário da imprensa não seja considerado fonte essencial para as tomadas de decisão de médios e grandes investidores – que se informam por meio de consultorias especializadas –, é certo que esses analistas podem ser influenciados pelo martelar constante da mensagem negativa. Essas consultorias são alimentadas pelas planilhas preparadas na base das organizações, por assessores submetidos a regimes estressantes de trabalho, sobre os quais pesa diretamente o clima de pessimismo criado pela mídia.
Profetas do apocalipse
É da natureza da economia de mercado a obsessão por resultados e certa aversão a riscos. Os riscos são relativizados pela perspectiva do lucro ao nível da absoluta irresponsabilidade, como aconteceu no processo que levou ao estouro da bolha financeira em 2008. De lá para cá, as dificuldades na Europa e nos Estados Unidos estimularam o apetite por mercados emergentes, que mantiveram o capital em circulação. Acontece que, reduzido o ganho e aumentado o temor do risco, ocorre a debandada.
Há bastante controvérsia em torno de medidas tomadas por países que vêm sofrendo com fuga de capitais, e principalmente em torno da reação convencional de seus governos, de aumentar os juros e desvalorizar suas moedas. No entanto, poucos se lembram que essas medidas eram defendidas pela imprensa, de modo geral, como a coisa certa a fazer, mesmo quando não havia sinais de preocupação para os investidores. Se as autoridades econômicas se deixam convencer pela arenga da imprensa, acabam por produzir o efeito anunciado.
Os especialistas que têm espaço na mídia não podem fazer outra coisa a não ser análises de curto prazo, porque é próprio do sistema da imprensa trabalhar com informações de impacto imediato. Esse bombardeio de dados produz o efeito das profecias que se autorrealizam: de tanto insuflar o temor da inflação, por exemplo, a imprensa pode provocar o aumento dos preços, pela criação de um clima defensivo no mercado.
Mas nem sempre a realidade honra os profetas do apocalipse. No noticiário de terça-feira (4), por exemplo, os jornais de circulação nacional destacam o déficit recorde da balança comercial e seu efeito na alta do dólar. No entanto, o mais recente boletim Focus, produzido toda semana pelo Banco Central do Brasil, indica uma provável melhora do saldo comercial do país ao longo deste ano, com uma visão otimista que se repete há três semanas, e projeta uma queda da inflação.
O relatório é feito com a média dos cálculos de uma centena de especialistas que atuam nas principais instituições financeiras. Se o leitor atento comparar os números oficiais (ver aqui) com o noticiário da imprensa, vai pensar que vive simultaneamente em mundos paralelos.
Os principais diários de circulação nacional trazem nas edições de terça-feira (4/1) notícias preocupantes sobre a economia mundial, instalando um tom sombrio nas perspectivas do cidadão que procura se informar sobre o que se passa à sua volta. O epicentro desses temores seria uma tendência geral do capital financeiro internacional a fugir de riscos, o que significa uma possível concentração de ativos em mercados maduros, onde o retorno pode não ser espetacular, mas onde o dinheiro fica supostamente mais protegido.
Um dos textos observa que não falta dinheiro no mundo – cerca de US$ 150 trilhões estariam disponíveis para investimento. O que falta, segundo essa análise, é projeto atraente para os investidores.
Por outro lado, é coerente pensar que é mais provável que esses projetos surjam exatamente nos países onde há muito a se construir, como é o caso do Brasil, da China e da Índia, principalmente. No entanto, o foco concentrado nos números do cotidiano tende a desviar a atenção para dificuldades circunstanciais e de curto prazo.
Os analistas da mídia citam como causas da turbulência os maus resultados da China, comparados às expectativas criadas pelo próprio mercado, dificuldades de outros países emergentes e a persistência da crise na Europa, além de frustrações com a recuperação da economia americana.
Um dos resultados destacados pela imprensa é a depreciação de moedas, ações e títulos públicos dos emergentes, provocada por uma revoada de investidores, cujas razões são variadas. Mas não há referência à origem desses fatores.
Embora o noticiário da imprensa não seja considerado fonte essencial para as tomadas de decisão de médios e grandes investidores – que se informam por meio de consultorias especializadas –, é certo que esses analistas podem ser influenciados pelo martelar constante da mensagem negativa. Essas consultorias são alimentadas pelas planilhas preparadas na base das organizações, por assessores submetidos a regimes estressantes de trabalho, sobre os quais pesa diretamente o clima de pessimismo criado pela mídia.
Profetas do apocalipse
É da natureza da economia de mercado a obsessão por resultados e certa aversão a riscos. Os riscos são relativizados pela perspectiva do lucro ao nível da absoluta irresponsabilidade, como aconteceu no processo que levou ao estouro da bolha financeira em 2008. De lá para cá, as dificuldades na Europa e nos Estados Unidos estimularam o apetite por mercados emergentes, que mantiveram o capital em circulação. Acontece que, reduzido o ganho e aumentado o temor do risco, ocorre a debandada.
Há bastante controvérsia em torno de medidas tomadas por países que vêm sofrendo com fuga de capitais, e principalmente em torno da reação convencional de seus governos, de aumentar os juros e desvalorizar suas moedas. No entanto, poucos se lembram que essas medidas eram defendidas pela imprensa, de modo geral, como a coisa certa a fazer, mesmo quando não havia sinais de preocupação para os investidores. Se as autoridades econômicas se deixam convencer pela arenga da imprensa, acabam por produzir o efeito anunciado.
Os especialistas que têm espaço na mídia não podem fazer outra coisa a não ser análises de curto prazo, porque é próprio do sistema da imprensa trabalhar com informações de impacto imediato. Esse bombardeio de dados produz o efeito das profecias que se autorrealizam: de tanto insuflar o temor da inflação, por exemplo, a imprensa pode provocar o aumento dos preços, pela criação de um clima defensivo no mercado.
Mas nem sempre a realidade honra os profetas do apocalipse. No noticiário de terça-feira (4), por exemplo, os jornais de circulação nacional destacam o déficit recorde da balança comercial e seu efeito na alta do dólar. No entanto, o mais recente boletim Focus, produzido toda semana pelo Banco Central do Brasil, indica uma provável melhora do saldo comercial do país ao longo deste ano, com uma visão otimista que se repete há três semanas, e projeta uma queda da inflação.
O relatório é feito com a média dos cálculos de uma centena de especialistas que atuam nas principais instituições financeiras. Se o leitor atento comparar os números oficiais (ver aqui) com o noticiário da imprensa, vai pensar que vive simultaneamente em mundos paralelos.
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