Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
A nova tática da polícia paulista para controlar a ação de vândalos durante manifestações de protesto divide aquelas opiniões disfarçadas de notícia que podem ser percebidas nas escolhas dos editores. Apesar dos costumeiros excessos de parte da força policial, que atingiu até mesmo jornalistas, com agressões e intimidação, a tendência dos jornais, no domingo (23/2) e na segunda-feira (24), acaba sendo favorável à decisão das autoridades de acompanhar e isolar grupos onde se observa a presença de pessoas mascaradas.
O noticiário, como sempre, mistura relatos dos repórteres com declarações que acabam definindo a opinião defendida por cada veículo de comunicação. Embora tenham que cumprir a obrigação de denunciar abusos de autoridade, os jornais destacam o fato de que as medidas tomadas pela Polícia Militar surtiram efeito, com a redução dos danos e a contenção da violência. O efeito colateral mais importante foi o grande número de detidos, entre os quais alguns jornalistas.
Quem acompanhou pelo menos uma parte da movimentação na tarde de sábado, em São Paulo, podia observar as curiosas formações de pequenas brigadas com seis a dez policiais circulando pelos locais de concentração de manifestantes. Durante a passeata, quando ativistas mascarados começavam a formar seus núcleos de ataque, os policiais fechavam o círculo, detendo todos os presentes e conduzindo os grupos para fazer as identificações na delegacia mais próxima.
O resultado mais destacado pelos jornais na segunda-feira é o número recorde de detidos – 262 pessoas foram levadas às delegacias, e, embora ninguém tenha ficado preso, a Secretaria de Segurança considera bem sucedida a operação, porque houve menos violência por parte de policiais e manifestantes, menos episódios de depredação e, de quebra, foi possível identificar alguns líderes dos atos de vandalismo, que passarão a ser observados nos próximos eventos.
Entre as novidades está não apenas a diluição das tropas em pequenos grupos de intervenção preventiva, mas principalmente a substituição das bombas de efeito moral e das balas de borracha pela ação de policiais especializados em artes marciais.
Interesse eleitoral
A Folha de S. Paulo publica resultado de pesquisa na qual se revela que caiu o apoio da população à onda de protestos iniciada em junho do ano passado. Em versões anteriores da mesma consulta, quando cerca de 1 milhão de brasileiros saíram às ruas de 25 capitais, o índice de pessoas a favor chegou a 81%. Na última versão, segundo o Datafolha, são 52% os apoiadores, mas esse número cai para 32% quando se pergunta se o consultado aprova atos de protesto durante a Copa do Mundo.
Segundo o jornal paulista, as manifestações são justificadas principalmente por eleitores que pretendem votar no governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ou no senador mineiro Aécio Neves (PSDB). Essa informação acrescenta um elemento complicador nas análises sobre esses eventos, que acabam sendo contaminadas pela questão eleitoral.
Interessante observar como essa nova complexidade apanha na contramão alguns articulistas identificados com os dois candidatos citados – que condenam a tática chamada de Black Bloc mas insistem em que há razões concretas para amplas manifestações de protesto.
Além de evidenciar essa contradição, iluminando o fato de que parte das opiniões sobre as passeatas dissimula o interesse partidário, a pesquisa, associada ao noticiário, dá indicações de uma convergência de interesses entre os vândalos que se apropriaram das manifestações de junho e essas candidaturas cujos apoiadores seguem aprovando as passeatas, mesmo depois que elas descambaram para a violência pura e simples. Ou alguém duvida que as manifestações se tornaram apenas oportunidades para os atos de vandalismo?
Um movimento pelo cancelamento da Copa do Mundo, a quatro meses de sua realização e com as obras quase concluídas, só pode nascer de um raciocínio desprovido de bom senso – ou alimentado pelo interesse de promover uma escaladas de tumultos capaz de afetar a eleição presidencial.
Essa é a constatação que falta para complementar o noticiário e a fartura de declarações publicadas pelos jornais.
A nova tática da polícia paulista para controlar a ação de vândalos durante manifestações de protesto divide aquelas opiniões disfarçadas de notícia que podem ser percebidas nas escolhas dos editores. Apesar dos costumeiros excessos de parte da força policial, que atingiu até mesmo jornalistas, com agressões e intimidação, a tendência dos jornais, no domingo (23/2) e na segunda-feira (24), acaba sendo favorável à decisão das autoridades de acompanhar e isolar grupos onde se observa a presença de pessoas mascaradas.
O noticiário, como sempre, mistura relatos dos repórteres com declarações que acabam definindo a opinião defendida por cada veículo de comunicação. Embora tenham que cumprir a obrigação de denunciar abusos de autoridade, os jornais destacam o fato de que as medidas tomadas pela Polícia Militar surtiram efeito, com a redução dos danos e a contenção da violência. O efeito colateral mais importante foi o grande número de detidos, entre os quais alguns jornalistas.
Quem acompanhou pelo menos uma parte da movimentação na tarde de sábado, em São Paulo, podia observar as curiosas formações de pequenas brigadas com seis a dez policiais circulando pelos locais de concentração de manifestantes. Durante a passeata, quando ativistas mascarados começavam a formar seus núcleos de ataque, os policiais fechavam o círculo, detendo todos os presentes e conduzindo os grupos para fazer as identificações na delegacia mais próxima.
O resultado mais destacado pelos jornais na segunda-feira é o número recorde de detidos – 262 pessoas foram levadas às delegacias, e, embora ninguém tenha ficado preso, a Secretaria de Segurança considera bem sucedida a operação, porque houve menos violência por parte de policiais e manifestantes, menos episódios de depredação e, de quebra, foi possível identificar alguns líderes dos atos de vandalismo, que passarão a ser observados nos próximos eventos.
Entre as novidades está não apenas a diluição das tropas em pequenos grupos de intervenção preventiva, mas principalmente a substituição das bombas de efeito moral e das balas de borracha pela ação de policiais especializados em artes marciais.
Interesse eleitoral
A Folha de S. Paulo publica resultado de pesquisa na qual se revela que caiu o apoio da população à onda de protestos iniciada em junho do ano passado. Em versões anteriores da mesma consulta, quando cerca de 1 milhão de brasileiros saíram às ruas de 25 capitais, o índice de pessoas a favor chegou a 81%. Na última versão, segundo o Datafolha, são 52% os apoiadores, mas esse número cai para 32% quando se pergunta se o consultado aprova atos de protesto durante a Copa do Mundo.
Segundo o jornal paulista, as manifestações são justificadas principalmente por eleitores que pretendem votar no governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ou no senador mineiro Aécio Neves (PSDB). Essa informação acrescenta um elemento complicador nas análises sobre esses eventos, que acabam sendo contaminadas pela questão eleitoral.
Interessante observar como essa nova complexidade apanha na contramão alguns articulistas identificados com os dois candidatos citados – que condenam a tática chamada de Black Bloc mas insistem em que há razões concretas para amplas manifestações de protesto.
Além de evidenciar essa contradição, iluminando o fato de que parte das opiniões sobre as passeatas dissimula o interesse partidário, a pesquisa, associada ao noticiário, dá indicações de uma convergência de interesses entre os vândalos que se apropriaram das manifestações de junho e essas candidaturas cujos apoiadores seguem aprovando as passeatas, mesmo depois que elas descambaram para a violência pura e simples. Ou alguém duvida que as manifestações se tornaram apenas oportunidades para os atos de vandalismo?
Um movimento pelo cancelamento da Copa do Mundo, a quatro meses de sua realização e com as obras quase concluídas, só pode nascer de um raciocínio desprovido de bom senso – ou alimentado pelo interesse de promover uma escaladas de tumultos capaz de afetar a eleição presidencial.
Essa é a constatação que falta para complementar o noticiário e a fartura de declarações publicadas pelos jornais.
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