Por Altamiro Borges
Faleceu nesta segunda-feira (10) o artista gráfico pernambucano Jayme Leão, um dos mais criativos e combativos ilustradores da história recente do Brasil. Aos 68 anos, ele morreu vítima de insuficiência renal. Autodidata, Jayme Leão começou a trabalhar aos 15 anos para o jornal "Liga", pertencente às Ligas Camponesas. Com o golpe militar, ele abandonou a publicidade - porque não suportava a ideia de "ganhar dinheiro mentindo", segundo sua filha, Lídice Leão - e passou a produzir ilustrações para veículos alternativos de combate à ditadura. Ele contribuiu com os jornais O Pasquim, Opinião e Movimento, entre outros. Foi preso várias vezes e teve que se exilar com a família no Chile.
Após o seu retorno ao Brasil, Jayme Leão trabalhou por 12 anos na Editora Ática, como ilustrador e editor de arte. Dessa período, ficaram famosas suas capas de livros paradidáticos, especialmente as da coleção "Vagalume", da qual era um dos principais ilustradores. São dele, entra outras, todas as capas dos volumes assinados por Marcos Rey na série, como "Mistério do Cinco Estrelas" e "Um Cadáver Ouve Rádio". Fez também capas de livros adultos, como "Malaguetas, Perus e Bacanaço", de João Antônio. Por sua trajetória combativa, a sua morte não teve maior destaque na mídia privada. Coube ao também ilustrador Gilberto Maringoni, em sua página no Facebook, a justa homenagem ao genial artista, que reproduzo abaixo:
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MEUS AMIGOS, QUE TRISTEZA...
Perdemos Jayme Leão.
Jayme Leão, o grande artista gráfico, ilustrador, pintor, quadrinhista, caricaturista, chargista e muitos tecéteras que marcou a imprensa brasileira por décadas.
Jayme deu caras e bocas a inúmeras publicações, a partir do final dos anos 1960. E deu corpo a memoráveis jornais alternativos.
Tinha um traço exato e uma versatilidade espantosa.
Talvez isso venha do batismo.
Jayme é, provavelmente, o nome ocidental com maior número de variantes.
Temos Jayme, Jaime, James, Jacó, Jacob, Diogo, Iago, Tiago, Santiago...
Não bastasse um Jayme ser muitos, ainda era Leão.
Um exército de um pernambucano só, chegado quase menino a São Paulo.
Jayme poderia ter sido publicitário, ou desenhista "do mercado" internacional e feito fortuna.
Mas não.
Achava isso “babaquice”.
Quando o conheci, em 1978 na redação do Movimento, na Virgílio de Carvalho Pinto, em Pinheiros, estranhei.
A sofisticação ficava no trabalho. Pessoalmente era de uma simplicidade atroz.
Reencontrei-o no Hora do Povo, na Retrato do Brasil, na Reportagem e em andanças pela cidade.
Dessas publicações, cobrava quase nada e às vezes nada mesmo.
Há uns dez anos, conversamos em Pinheiros. Ele havia aberto um bar.
Depois não mais o vi...
Jayme foi mais uma vítima da vergonhosa situação de nossa imprensa.
Para alguns editores de arte, ele estaria "superado".
Ouvi de um deles, certa vez, que Jayme "ficou muito marcado com esse negócio de ditadura".
Patifaria grossa.
"Esse negócio de ditadura" era a monstruosidade nacional contra a qual nosso amigo se bateu por boa parte da vida.
Jayme Leão faria 69 anos no próximo 18 de março.
Não acredito em outra vida e coisas afins. Não cola.
Jayme fica em seus trabalhos e nos amigos que aqui seguem.
Mas é uma tristeza imensa, gente...
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