Por Otávio Maia, no blog Esporte Fino:
De todos os numerosos sinais de atraso existentes no futebol brasileiro, um deles se mostra especialmente perverso: a capacidade de normalizar práticas e comportamentos absurdos. Só isso explica, por exemplo, que um comentarista de uma das redes de televisão mais populares do País use, sem nenhum constrangimento, apelidos homofóbicos para zombar da torcida rival.
Foi o que fez o ex-goleiro do Corinthians e atual comentarista da Band Ronaldo Giovanelli. Neste domingo, em alusão à derrota do São Paulo para o Ituano, que resultou na eliminação do time do parque São Jorge, ele postou mensagens no Twitter chamando os jogadores do Morumbi de “meninas pipoqueiras” e usando a hashtag #meninascommedo.
Quem acompanha um mínimo de futebol sabe que, em São Paulo, as torcidas rivais tentam caracterizar os são-paulinos como gays – e que a frase do ex-goleiro decorre dessa brincadeira de mau gosto. Trata-se, portanto, de uma brincadeira, mas que se apoia originalmente em uma ofensa.
Fique claro que o ato não é ofensivo por atribuir aos são-paulinos um predicado indesejado, mas por ridicularizar uma minoria na sociedade. Chamar o outro de gay, nesse caso, tem conotação de xingamento. No estranho mundo das arquibancadas, caracterizar o rival como alguém que tem relações afetivas com pessoas do mesmo sexo tem o mesmo peso de chamar o outro de bandido ou de marginal. É assim que uns atacam e outros contra-atacam.
Ressalte-se que não foi a primeira vez e nem será a última. Quem não se lembra das brincadeiras de gosto duvidoso ventiladas por Vampeta, que tornaram-se célebres na década passada? Ou do episódio de apenas duas semanas atrás, no qual as arquibancadas do Pacaembu perseguiram Rogério Ceni com gritos de “bicha”. São incontáveis os casos, uma vez que não se limitam aos episódios mais notáveis, que chegam à imprensa. Justamente por ser “normalizado” no ambiente do futebol, esse comportamento discriminatório se tornou prosaico e na maioria das vezes nem sequer recebe qualquer tipo de crítica.
Sempre haverá o atenuante de que certos comportamentos são toleráveis no futebol porque “é só irreverência das torcidas” ou porque “as eventuais críticas são um exagero dessa onda de politicamente correto”. Esses discursos, no entanto, são bastante perigosos. Mesmo que não sejam mal-intencionados, dão um salvo conduto para comportamentos discriminatórios e ajudam a normalizar aberrações, como a homofobia.
Com a contribuição de algumas figuras públicas, o futebol, pretensamente “moderno” e “profissional”, mostra que de alguma forma ainda está acorrentado a uma cultura do atraso, para não dizer medieval.
De todos os numerosos sinais de atraso existentes no futebol brasileiro, um deles se mostra especialmente perverso: a capacidade de normalizar práticas e comportamentos absurdos. Só isso explica, por exemplo, que um comentarista de uma das redes de televisão mais populares do País use, sem nenhum constrangimento, apelidos homofóbicos para zombar da torcida rival.
Foi o que fez o ex-goleiro do Corinthians e atual comentarista da Band Ronaldo Giovanelli. Neste domingo, em alusão à derrota do São Paulo para o Ituano, que resultou na eliminação do time do parque São Jorge, ele postou mensagens no Twitter chamando os jogadores do Morumbi de “meninas pipoqueiras” e usando a hashtag #meninascommedo.
Quem acompanha um mínimo de futebol sabe que, em São Paulo, as torcidas rivais tentam caracterizar os são-paulinos como gays – e que a frase do ex-goleiro decorre dessa brincadeira de mau gosto. Trata-se, portanto, de uma brincadeira, mas que se apoia originalmente em uma ofensa.
Fique claro que o ato não é ofensivo por atribuir aos são-paulinos um predicado indesejado, mas por ridicularizar uma minoria na sociedade. Chamar o outro de gay, nesse caso, tem conotação de xingamento. No estranho mundo das arquibancadas, caracterizar o rival como alguém que tem relações afetivas com pessoas do mesmo sexo tem o mesmo peso de chamar o outro de bandido ou de marginal. É assim que uns atacam e outros contra-atacam.
Ressalte-se que não foi a primeira vez e nem será a última. Quem não se lembra das brincadeiras de gosto duvidoso ventiladas por Vampeta, que tornaram-se célebres na década passada? Ou do episódio de apenas duas semanas atrás, no qual as arquibancadas do Pacaembu perseguiram Rogério Ceni com gritos de “bicha”. São incontáveis os casos, uma vez que não se limitam aos episódios mais notáveis, que chegam à imprensa. Justamente por ser “normalizado” no ambiente do futebol, esse comportamento discriminatório se tornou prosaico e na maioria das vezes nem sequer recebe qualquer tipo de crítica.
Sempre haverá o atenuante de que certos comportamentos são toleráveis no futebol porque “é só irreverência das torcidas” ou porque “as eventuais críticas são um exagero dessa onda de politicamente correto”. Esses discursos, no entanto, são bastante perigosos. Mesmo que não sejam mal-intencionados, dão um salvo conduto para comportamentos discriminatórios e ajudam a normalizar aberrações, como a homofobia.
Com a contribuição de algumas figuras públicas, o futebol, pretensamente “moderno” e “profissional”, mostra que de alguma forma ainda está acorrentado a uma cultura do atraso, para não dizer medieval.
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