Por Cibelih Hespanhol, no site Outras Palavras:
O mundo, como se apresentava para as retinas de Joaquín Salvador Tejón, sempre esteve um pouco desfocado. Algo não estava certo naquelas aparências e formas – naquela maneira de se ajeitar do mundo – que espiava em seu olhar estrábico o argentino de Mendonza; a ponto de parecer inevitável àquele homem, de palavras secas e pensamento ateu, que com o passar do tempo e a permanência das coisas sua visão se tornasse, afinal, delicada demais para esta vida estranha.
Esta visão delicada, problema que não se resolvia, só teve uma cura, por fim: foi para o papel. Nos anos 60, Joaquín, o Quino, via nascer de seu ofício de desenhista uma filha que nunca planejara ter – Mafalda, a menina de fita vermelha, língua afiada e ideias anticonformistas, que neste ano de 2014 torna-se una niña de cinquenta anos.
Nunca censurada, Mafalda passou ilesa pelo golpe militar que não podia imaginar “conteúdo subversivo” em uma HQ de personagens infantis. Mas de dentro de sua inocência, com seu vestidinho rodado, na companhia de Felipe ou de Liberdade, ela é a própria enfant terrible – capaz de soltar, sem pudor algum, as piores verdades, e as melhores perguntas, tão embaraçosas para o mundo dos adultos.
Em 1963, Mafalda nasceu pela primeira vez em um anúncio publicitário que, para o posterior deleite de muitos, nunca deu certo. Um ano depois, em 29/9/64, nasceria de novo, e dessa vez pra valer: “Como não tinha que elogiar as virtudes de nenhum aspirador, a fiz reclamar, carrancuda. Foi uma revanche imediata”. A pequena saiu das mãos de um argentino para conquistar todo o mundo. Para o pai, a explicação é fácil. “A temática é comum tanto na China, Finlândia ou América Latina”. Para todos nós, a leitura é deliciosa.
“Mafalda pertence a um país denso, de contrastes sociais, que apesar de tudo queria integrá-la e fazê-la feliz, mas ela se nega e rejeita todas as ofertas”. Herdeira do problema de visão do pai (que é altamente transmissível, e contamina-se pela leitura!), Mafalda estaria, neste mundo de cinquenta anos depois, tão aturdida quanto ácida. Quino se diz surpreso ao ver que suas tiras desenhadas há tanto tempo estão vivas até hoje. Se abrirmos um livro de Mafalda, também podemos nos surpreender com a incômoda constatação de que, se mudam os tempos, as “mesmas” lutas continuam…
O mundo, como se apresentava para as retinas de Joaquín Salvador Tejón, sempre esteve um pouco desfocado. Algo não estava certo naquelas aparências e formas – naquela maneira de se ajeitar do mundo – que espiava em seu olhar estrábico o argentino de Mendonza; a ponto de parecer inevitável àquele homem, de palavras secas e pensamento ateu, que com o passar do tempo e a permanência das coisas sua visão se tornasse, afinal, delicada demais para esta vida estranha.
Esta visão delicada, problema que não se resolvia, só teve uma cura, por fim: foi para o papel. Nos anos 60, Joaquín, o Quino, via nascer de seu ofício de desenhista uma filha que nunca planejara ter – Mafalda, a menina de fita vermelha, língua afiada e ideias anticonformistas, que neste ano de 2014 torna-se una niña de cinquenta anos.
Nunca censurada, Mafalda passou ilesa pelo golpe militar que não podia imaginar “conteúdo subversivo” em uma HQ de personagens infantis. Mas de dentro de sua inocência, com seu vestidinho rodado, na companhia de Felipe ou de Liberdade, ela é a própria enfant terrible – capaz de soltar, sem pudor algum, as piores verdades, e as melhores perguntas, tão embaraçosas para o mundo dos adultos.
Em 1963, Mafalda nasceu pela primeira vez em um anúncio publicitário que, para o posterior deleite de muitos, nunca deu certo. Um ano depois, em 29/9/64, nasceria de novo, e dessa vez pra valer: “Como não tinha que elogiar as virtudes de nenhum aspirador, a fiz reclamar, carrancuda. Foi uma revanche imediata”. A pequena saiu das mãos de um argentino para conquistar todo o mundo. Para o pai, a explicação é fácil. “A temática é comum tanto na China, Finlândia ou América Latina”. Para todos nós, a leitura é deliciosa.
“Mafalda pertence a um país denso, de contrastes sociais, que apesar de tudo queria integrá-la e fazê-la feliz, mas ela se nega e rejeita todas as ofertas”. Herdeira do problema de visão do pai (que é altamente transmissível, e contamina-se pela leitura!), Mafalda estaria, neste mundo de cinquenta anos depois, tão aturdida quanto ácida. Quino se diz surpreso ao ver que suas tiras desenhadas há tanto tempo estão vivas até hoje. Se abrirmos um livro de Mafalda, também podemos nos surpreender com a incômoda constatação de que, se mudam os tempos, as “mesmas” lutas continuam…
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