Por Marcelino Rocha, no site da CTB:
Os metalúrgicos e as metalúrgicas do Brasil vivem um cenário delicado neste momento. É preciso colocarmos o dedo em uma ferida importante, que a cada semana se agrava mais: resolver a situação de milhares de trabalhadores e trabalhadoras que vêm sendo demitidos por montadoras de veículos e pela cadeia produtiva envolvida nesse processo, em todo o país.
Temos que ter a seguinte clareza: as empresas estão muito bem articuladas e com o discurso afinado. Falam em profunda crise, economia em recessão, vendas aquém do esperado e estoques gigantes nos pátios, especulam a necessidade de reestruturar suas linhas de produção e exigem que o governo tome medidas para contornar esse cenário. Deixo uma pergunta no ar: quando iremos falar sobre os lucros vultuosos que essas mesmas empresas obtêm no Brasil?
A manutenção da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) foi garantida pelo governo até o final deste ano, após intensa pressão dos empresários. Apesar disso, as montadoras e as empresas envolvidas em toda sua cadeia produtiva não deixaram de colocar milhares de trabalhadores e trabalhadoras em férias coletivas em diversas regiões do país. Cresce também o número de demitidos e de trabalhadores que se veem na incerteza de empregabilidade.
Essa desoneração resultará em uma arrecadação menor para as contas públicas de cerca de R$ 1,6 bilhão até o final deste ano. O que a sociedade ganha com essa perda, se as empresas não se veem obrigadas a se comprometer com quaisquer contrapartidas sociais?
Dados do Banco Central mostram que, somente no ano de 2013, as montadoras multinacionais enviaram para suas matrizes US$ 3,3 bilhões, valor 35% superior ao de 2012. No período entre 2010 e 2013, o montante chegou a US$ 15,4 bilhões.
Esses números não são tão grandes por acaso. É preciso insistir neste ponto: por que nunca se discute o lucro obtido pelas montadoras no país? A comparação com outras regiões do planeta é gritante: no Brasil, a média da margem de lucro da venda de um automóvel é de cerca de 10% do valor pago pelo consumidor final, enquanto que nos Estados Unidos é de cerca de 2% e, na média mundial, 5%.
Em 2012, a presidenta Dilma Rousseff chegou a colocar na mesa de negociações com as montadoras a questão de seus lucros, mas em nenhum momento suas reivindicações foram levadas em conta pelas empresas. Nos últimos anos, estima-se que somente o setor automotivo foi responsável por cerca de 20% de todas as remessas de lucros feitas a partir do Brasil para suas matrizes.
Bandeiras de luta
Diante desse difícil cenário, no qual os empresários ignoram por completo os interesses da classe trabalhadora, cabe ao movimento sindical organizado atuar de maneira firme e com propostas bem articuladas. Neste momento, entendo que quatro bandeiras de luta precisam ser levantadas por todos nós:
- Não podemos deixar de lado a batalha por mudanças na política macroeconômica do governo. Os juros voltaram a subir e foram mantidos em um patamar elevado, que afeta diretamente diversos setores da economia. Os juros altos enchem os cofres do setor financeiro e resultam em menos investimentos na produção e geração de empregos;
Os metalúrgicos e as metalúrgicas do Brasil vivem um cenário delicado neste momento. É preciso colocarmos o dedo em uma ferida importante, que a cada semana se agrava mais: resolver a situação de milhares de trabalhadores e trabalhadoras que vêm sendo demitidos por montadoras de veículos e pela cadeia produtiva envolvida nesse processo, em todo o país.
Temos que ter a seguinte clareza: as empresas estão muito bem articuladas e com o discurso afinado. Falam em profunda crise, economia em recessão, vendas aquém do esperado e estoques gigantes nos pátios, especulam a necessidade de reestruturar suas linhas de produção e exigem que o governo tome medidas para contornar esse cenário. Deixo uma pergunta no ar: quando iremos falar sobre os lucros vultuosos que essas mesmas empresas obtêm no Brasil?
A manutenção da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) foi garantida pelo governo até o final deste ano, após intensa pressão dos empresários. Apesar disso, as montadoras e as empresas envolvidas em toda sua cadeia produtiva não deixaram de colocar milhares de trabalhadores e trabalhadoras em férias coletivas em diversas regiões do país. Cresce também o número de demitidos e de trabalhadores que se veem na incerteza de empregabilidade.
Essa desoneração resultará em uma arrecadação menor para as contas públicas de cerca de R$ 1,6 bilhão até o final deste ano. O que a sociedade ganha com essa perda, se as empresas não se veem obrigadas a se comprometer com quaisquer contrapartidas sociais?
Dados do Banco Central mostram que, somente no ano de 2013, as montadoras multinacionais enviaram para suas matrizes US$ 3,3 bilhões, valor 35% superior ao de 2012. No período entre 2010 e 2013, o montante chegou a US$ 15,4 bilhões.
Esses números não são tão grandes por acaso. É preciso insistir neste ponto: por que nunca se discute o lucro obtido pelas montadoras no país? A comparação com outras regiões do planeta é gritante: no Brasil, a média da margem de lucro da venda de um automóvel é de cerca de 10% do valor pago pelo consumidor final, enquanto que nos Estados Unidos é de cerca de 2% e, na média mundial, 5%.
Em 2012, a presidenta Dilma Rousseff chegou a colocar na mesa de negociações com as montadoras a questão de seus lucros, mas em nenhum momento suas reivindicações foram levadas em conta pelas empresas. Nos últimos anos, estima-se que somente o setor automotivo foi responsável por cerca de 20% de todas as remessas de lucros feitas a partir do Brasil para suas matrizes.
Bandeiras de luta
Diante desse difícil cenário, no qual os empresários ignoram por completo os interesses da classe trabalhadora, cabe ao movimento sindical organizado atuar de maneira firme e com propostas bem articuladas. Neste momento, entendo que quatro bandeiras de luta precisam ser levantadas por todos nós:
- Não podemos deixar de lado a batalha por mudanças na política macroeconômica do governo. Os juros voltaram a subir e foram mantidos em um patamar elevado, que afeta diretamente diversos setores da economia. Os juros altos enchem os cofres do setor financeiro e resultam em menos investimentos na produção e geração de empregos;
- O governo precisa encontrar um caminho para taxar as remessas de lucro dessas multinacionais, como instrumento para estimular o reinvestimento produtivo no país e a qualificação profissional;
- É necessário também condicionar quaisquer investimentos públicos somente para empresas que cumpram com critérios de conteúdo mínimo nacional, conforme proposta do Plano Brasil Maior.
- Temos que retomar o debate sobre o contrato coletivo nacional de trabalho. Se o preço dos veículos é o mesmo em todo o país, elementos como a definição dos salários, a jornada de trabalho e a organização no local de trabalho não podem ser distintos entre os trabalhadores de uma mesma montadora que tenha sedes em diferentes cidades e estados do país.
Nossa unidade neste momento é fundamental para evitarmos quaisquer retrocessos e, principalmente, evitar demissões e a desvalorização de milhares de profissionais do setor. Os metalúrgicos e metalúrgicas de todo o Brasil contam conosco para mais esta batalha.
* Marcelino Rocha é presidente da Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal) e presidente da CTB-MG.
Nossa unidade neste momento é fundamental para evitarmos quaisquer retrocessos e, principalmente, evitar demissões e a desvalorização de milhares de profissionais do setor. Os metalúrgicos e metalúrgicas de todo o Brasil contam conosco para mais esta batalha.
* Marcelino Rocha é presidente da Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal) e presidente da CTB-MG.
2 comentários:
É preciso falar, também, como um Corolla no Brasil custa o mesmo que 3 ou 4 nos EUA. Há de se falar na elevada carga tributária que a pessoa pagar para ter um carro. É por isso que continuamos andando em carroças, como Gol, Celta, Uno e essas porcaria que lá fora nem nunca existiu.
A questão axial, para mim, é o valor exorbitante do lucro remetido pelas indústria automobilística às suas matrizes: de 2010 a 2013: 15,8 bilhões de dólares. Em 2012, quando Dilma pretendeu discutir a remessa de lucro, nem tomaram conhecimento. De nada adiantou desonerá-las. Reduziram minimamente o preço do automóvel popular. Seus lucros se mantiveram. E a contrapartida social? Mesmo se considerarmos o imposto pago, os lucros remetidos às matrizes continuaram exorbitantes. Lembro a fala de Jango, na ONU, à imprensa internacional, em abril de 1962, sobre a questão da remessa de lucro: ".. dar ao K estrangeiro uma compensação justa. (...) Ela não pode obter lucros excessivos (...) em detrimento do interesse nacional, ou a custa do empobrecimento do país." A globalização maquiou a rapinagem, ganância capitalista, mas a questão permanece a mesma. Li propostas de solução interessantes, no post de Wladimir Pomar: "A Crise da Indústria no Brasil", em 17/08/2014.
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