Por Emir Sader, no site Carta Maior:
O efeito inicial foi fulminante: nova política, superando a dicotomia entre PT e PSDB e entre esquerda e direita. Um ar fresco que se aproveitava da saturação das denúncias – de corrupção, de terrorismo econômico, entre outras. No início sua imagem não tinha praticamente nenhum tipo de rejeição, parecia um anjo que vinha dar um novo alento ao país.
O acidente de avião – provocado ou não – parecia coincidir com um timing perfeito, para que uma operação com o forte tom emotivo da morte de Eduardo Campos, pudesse ser revertido. De 13 de agosto até 5 de outubro – menos de dois meses -, para que um adversário atônito pudesse se readaptar às novas condições, extremamente desfavoráveis para quem ficava na defensiva, perdia a iniciativa e tinha que se mover em um cenário novo, despolitizado, que deslocava os temas centrais da campanha da Dilma – as realizações do governo, as políticas sociais.
A transferência maciça e rápida de votos do Aécio para a Marina confirmava o que foi claro desde o começo da campanha: o candidato da oposição era quem tivesse melhores condições de derrotar o PT. Aécio foi um instrumento que se esgotou, Marina o substituía com vantagens eleitorais evidentes.
No final de agosto, Marina assumia a liderança nas pesquisas, como um tsunami, abrindo 10 pontos na frente no segundo turno, com a pretensão de vencer no primeiro turno. Dois meses depois do lançamento da sua candidatura a presidente, ela foi perdendo força, até que a Dilma assume a liderança também no segundo turno.
O diagnóstico da oposição é de que tudo seria fruto da desconstrução da Marina pelas críticas do PT, que o medo teria triunfado. Na realidade, uma análise do tal do medo revela a verdadeira causa da virada da Dilma: a defesa das políticas sociais, colocada em risco pela política do grande ajuste fiscal anunciado, complementado pela independência do Banco Central, que seriam tiros mortais na prioridade das políticas sociais. Não à toa foi no nordeste onde a Marina mais perdeu votos – 9 pontos – e a Dilma mais ganhou – 6 pontos -, ali onde as políticas sociais mais diretamente transformaram a vida das pessoas.
Um medo realmente existente, pelo retrocesso que as promessas e a equipe da Marina representam. A liderança da Dilma em lugar onde não havia triunfado antes – em todos os estados do sul, por exemplo -, se deve ao sucesso das políticas sociais implementadas desde 2003. Por isso a liderança da Dilma – hoje generalizada, incluindo os setores jovens – é mais acentuada entre os pobres, nas regiões que antes foram mais marginalizadas, como o nordeste e o norte do Brasil.
Esse clima ajuda a disputas renhidas nos estados, como no Rio Grande do Sul, na Bahia, no Ceará, alterando o quadro desfavorável, até aqui, nas eleições regionais. Um quadro que deve ajudar também a aumentar a bancada parlamentar da esquerda.
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