Por Cláudio Gonzalez, no site da Fundação Mauricio Grabois:
A campanha midiática que busca transformar Marina Silva em vítima dos “ataques” do PT pode dar certo se Dilma e seu arco de apoiadores errar a mão, exagerar na dose e partir para ataques pessoais transformando a adversária em vítima real. Mas também pode dar errado se o eleitor perceber que este discurso de vitimização não encontra respaldo na realidade.
A campanha midiática que busca transformar Marina Silva em vítima dos “ataques” do PT pode dar certo se Dilma e seu arco de apoiadores errar a mão, exagerar na dose e partir para ataques pessoais transformando a adversária em vítima real. Mas também pode dar errado se o eleitor perceber que este discurso de vitimização não encontra respaldo na realidade.
Neste caso, ao invés de vítima, Marina pode acabar sendo vista como uma pessoa despreparada e sem forças para enfrentar adversidades.
“Quem bate, perde”. Esta frase já se tornou um clássico no vasto repertório de frases e tiradas famosas que povoam as campanhas eleitorais no Brasil. Ela foi dita pelo publicitário Duda Mendonça em 2002, quando ele conduzia a comunicação da quarta campanha presidencial de Luís Inácio Lula da Silva. Para vacinar a campanha petista contra os ataques dos adversários e suavizar a imagem de “sindicalista raivoso” que a mídia fazia de Lula, Duda cunhou outra expressão famosa: “Lulinha paz e amor”. Vestindo este figurino e apostando em uma campanha propositiva, sem ataques diretos aos adversários, Lula foi eleito.
Agora em 2014, a campanha de Marina Silva aposta todas as fichas no “ensinamento” de Duda Mendonça. Marina e todo seu leque de apoiadores, com a grande mídia à frente, acredita piamente que vitimizando a candidata, mostrando-a como uma indefesa sendo alvejada por “furiosos” ataques da campanha petista, conseguirá colar em Dilma a pecha de agressora e fazê-la perder votos. Assim, o lema “quem bate, perde”, de Duda Mendonça, estaria confirmado.
Pode até dar certo. Mas a campanha marineira também pode dar com os burros n’água. Vejamos:
O brasileiro em geral adora uma vítima e detesta gente truculenta, sobretudo truculência política. Parece que só em São Paulo esta regra não se aplica. Afinal, o governador Alckmin manda descer o cacete em qualquer tipo de manifestante e boa parte dos paulistas continua lhe dando apoio. Mas quando Ciro Gomes ousou ser indelicado com um eleitor durante entrevista a uma rádio em 2002, pagou caro. No fundo, tudo depende da forma como o assunto repercute e a mídia tem um papel destacado nisso.
Na contenda Dilma-Marina já se vê que não haverá um minuto de trégua para a candidata petista, que será acusada em qualquer situação de estar atacando de forma truculenta a adversária. Mesmo que esteja evidente que o debate é programático, sempre haverá uma Cantanhêde, um Noblat ou uma Kramer para berrar em favor de Marina.
Essa “vantagem” midiática da candidata do PSB-Rede não pode ser menosprezada neste tipo de embate pois mais do que a razão, o discurso da vitimização mexe com a emoção do eleitor e a grande mídia tem recursos, técnicas, instrumentos e espaços de sobra para manipular sentimentos. Mas, e sempre tem um mas, mesmo poderosa, a mídia não consegue driblar a realidade quando esta se impõe.
Bolinha de papel
Vale lembrar dois exemplos recentes de vitimização de candidatos. Um deu certo, o outro foi um desastre.
O primeiro exemplo é do ano 2008, da campanha para a prefeitura de São Paulo. Marta Suplicy (PT) e Gilberto Kassab (PFL) disputavam o segundo turno. O publicitário de Marta, João Santana — o mesmo que agora faz a campanha de Dilma — teve a infeliz ideia de fazer uma peça de TV questionando aspectos da vida pessoal de Kassab. A mídia, com destaque para a Folha de S. Paulo, fez desmoronar uma avalanche de críticas sobre a candidata petista. A vitimização de Kassab deu certo. Ele foi eleito, obviamente que não foi por causa deste episódio apenas, mas isso ajudou a enfraquecer a adversária.
Em 2010, na disputa presidencial, a mídia — desta vez pelas mãos da Rede Globo — fez uma nova tentativa de mostrar o PT como agressor de candidatos. Extensa reportagem do Jornal Nacional insinuava que o candidato José Serra havia sido atingido na cabeça por um objeto cortante lançado contra ele em uma atividade de campanha. Serra foi parar até no hospital. Dias depois, reportagem do SBT comprovou que o tal objeto era uma inofensiva bolinha de papel. De “vítima de agressão”, Serra passou a ser tratado como mentiroso e falastrão. O tiro saiu pela culatra e a bolinha de papel está agora definitivamente anexada à biografia do candidato.
Agora em 2014, a desacreditada revista Veja é quem berrou mais alto, com direito a uma capa que já pode ser considerada a mais hipócrita já produzida pelo “jornalismo” brasileiro. Quem conhece o histórico recente da revista dos Civita, repleto de episódios aberrantes de calúnia, difamação e assassinato de reputação, sabe que ela não tem qualquer moral para fazer acusações sobre esse tema.
Mas não é só a Veja. Todo o sistema da grande mídia tem contribuído para criar uma onda de vitimização da candidata do PSB. Lançam, de forma genérica, acusações de que a campanha de Dilma estaria atacando Marina com “agressividade” e “desonestidade”. Nas redes sociais, eleitores de Marina embarcaram na onda com afinco. Eles nem sabem apontar direito onde, quando e como estariam ocorrendo estes ataques. As acusações são genéricas, mas avançam pois encontram eco no antipetismo disseminado nas redes sociais.
Fraqueza e vacilação
Esta generalização é o calcanhar de aquiles da campanha de vitimização em curso. O mais próximo que os aliados de Marina e a mídia conseguiram chegar de um fato concreto de ataque foi a peça de campanha de Dilma que critica a proposta de independência do Banco Central, na qual uma família pobre é retratada à mesa, com os alimentos desaparecendo em consequência da política econômica que seria adotada por um eventual BC independente. Acontece que este tipo de propaganda, que se convencionou chamar de “campanha do medo” é absolutamente comum nas disputas eleitorais. Com ela, o candidato tenta mostrar ao eleitor que algo ruim vai acontecer se o adversário for eleito. No fundo, isso é parte da essência de qualquer disputa. Portanto, é forçar demais a barra enxergar na peça sobre o BC um ataque “desonesto e agressivo” contra Marina. Até porque a própria candidata utiliza o mesmo recurso. A capa do portal UOL de segunda-feira (15) exibia a seguinte manchete: “Dilma subirá preços após eleição, diz Marina”. Ou seja, campanha do medo na sua forma mais nítida.
Percebendo que a candidatura oposicionista tenta surfar na onda da vitimização, a campanha de Dilma tem tomado cuidados redobrados para não promover ataques pessoais à candidata. Obviamente que nas redes sociais o chorume corre solto por todos os lados. Nem Dilma nem Aécio nem Marina tem como controlar as ações dos ativistas e militantes que os apoiam. Mas pelo menos da parte do comando da campanha de Dilma, nada tem sido feito ou dito pela candidata, por Lula ou pelas lideranças dos partidos aliados que possa dar respaldo ao chororô exagerado de Marina e sua trupe.
Portanto, chorar e reclamar de ataques desmedidos quando o que se vê na campanha oficial são apenas divergências políticas e debate de propostas é um feitiço que pode se virar contra a feiticeira. Ao invés de angariar a solidariedade de parte expressiva do eleitorado, a candidata do PSB-Rede corre o risco de ser interpretada como alguém que não aguenta pressão, não tolera a divergência e não tem argumentos para defender as proprias ideias. Esse é, definitivamente, o perfil que os eleitores não querem ver em uma candidata presidencial.
* Cláudio Gonzalez é jornalista e editor-executivo da revista Princípios.
“Quem bate, perde”. Esta frase já se tornou um clássico no vasto repertório de frases e tiradas famosas que povoam as campanhas eleitorais no Brasil. Ela foi dita pelo publicitário Duda Mendonça em 2002, quando ele conduzia a comunicação da quarta campanha presidencial de Luís Inácio Lula da Silva. Para vacinar a campanha petista contra os ataques dos adversários e suavizar a imagem de “sindicalista raivoso” que a mídia fazia de Lula, Duda cunhou outra expressão famosa: “Lulinha paz e amor”. Vestindo este figurino e apostando em uma campanha propositiva, sem ataques diretos aos adversários, Lula foi eleito.
Agora em 2014, a campanha de Marina Silva aposta todas as fichas no “ensinamento” de Duda Mendonça. Marina e todo seu leque de apoiadores, com a grande mídia à frente, acredita piamente que vitimizando a candidata, mostrando-a como uma indefesa sendo alvejada por “furiosos” ataques da campanha petista, conseguirá colar em Dilma a pecha de agressora e fazê-la perder votos. Assim, o lema “quem bate, perde”, de Duda Mendonça, estaria confirmado.
Pode até dar certo. Mas a campanha marineira também pode dar com os burros n’água. Vejamos:
O brasileiro em geral adora uma vítima e detesta gente truculenta, sobretudo truculência política. Parece que só em São Paulo esta regra não se aplica. Afinal, o governador Alckmin manda descer o cacete em qualquer tipo de manifestante e boa parte dos paulistas continua lhe dando apoio. Mas quando Ciro Gomes ousou ser indelicado com um eleitor durante entrevista a uma rádio em 2002, pagou caro. No fundo, tudo depende da forma como o assunto repercute e a mídia tem um papel destacado nisso.
Na contenda Dilma-Marina já se vê que não haverá um minuto de trégua para a candidata petista, que será acusada em qualquer situação de estar atacando de forma truculenta a adversária. Mesmo que esteja evidente que o debate é programático, sempre haverá uma Cantanhêde, um Noblat ou uma Kramer para berrar em favor de Marina.
Essa “vantagem” midiática da candidata do PSB-Rede não pode ser menosprezada neste tipo de embate pois mais do que a razão, o discurso da vitimização mexe com a emoção do eleitor e a grande mídia tem recursos, técnicas, instrumentos e espaços de sobra para manipular sentimentos. Mas, e sempre tem um mas, mesmo poderosa, a mídia não consegue driblar a realidade quando esta se impõe.
Bolinha de papel
Vale lembrar dois exemplos recentes de vitimização de candidatos. Um deu certo, o outro foi um desastre.
O primeiro exemplo é do ano 2008, da campanha para a prefeitura de São Paulo. Marta Suplicy (PT) e Gilberto Kassab (PFL) disputavam o segundo turno. O publicitário de Marta, João Santana — o mesmo que agora faz a campanha de Dilma — teve a infeliz ideia de fazer uma peça de TV questionando aspectos da vida pessoal de Kassab. A mídia, com destaque para a Folha de S. Paulo, fez desmoronar uma avalanche de críticas sobre a candidata petista. A vitimização de Kassab deu certo. Ele foi eleito, obviamente que não foi por causa deste episódio apenas, mas isso ajudou a enfraquecer a adversária.
Em 2010, na disputa presidencial, a mídia — desta vez pelas mãos da Rede Globo — fez uma nova tentativa de mostrar o PT como agressor de candidatos. Extensa reportagem do Jornal Nacional insinuava que o candidato José Serra havia sido atingido na cabeça por um objeto cortante lançado contra ele em uma atividade de campanha. Serra foi parar até no hospital. Dias depois, reportagem do SBT comprovou que o tal objeto era uma inofensiva bolinha de papel. De “vítima de agressão”, Serra passou a ser tratado como mentiroso e falastrão. O tiro saiu pela culatra e a bolinha de papel está agora definitivamente anexada à biografia do candidato.
Agora em 2014, a desacreditada revista Veja é quem berrou mais alto, com direito a uma capa que já pode ser considerada a mais hipócrita já produzida pelo “jornalismo” brasileiro. Quem conhece o histórico recente da revista dos Civita, repleto de episódios aberrantes de calúnia, difamação e assassinato de reputação, sabe que ela não tem qualquer moral para fazer acusações sobre esse tema.
Mas não é só a Veja. Todo o sistema da grande mídia tem contribuído para criar uma onda de vitimização da candidata do PSB. Lançam, de forma genérica, acusações de que a campanha de Dilma estaria atacando Marina com “agressividade” e “desonestidade”. Nas redes sociais, eleitores de Marina embarcaram na onda com afinco. Eles nem sabem apontar direito onde, quando e como estariam ocorrendo estes ataques. As acusações são genéricas, mas avançam pois encontram eco no antipetismo disseminado nas redes sociais.
Fraqueza e vacilação
Esta generalização é o calcanhar de aquiles da campanha de vitimização em curso. O mais próximo que os aliados de Marina e a mídia conseguiram chegar de um fato concreto de ataque foi a peça de campanha de Dilma que critica a proposta de independência do Banco Central, na qual uma família pobre é retratada à mesa, com os alimentos desaparecendo em consequência da política econômica que seria adotada por um eventual BC independente. Acontece que este tipo de propaganda, que se convencionou chamar de “campanha do medo” é absolutamente comum nas disputas eleitorais. Com ela, o candidato tenta mostrar ao eleitor que algo ruim vai acontecer se o adversário for eleito. No fundo, isso é parte da essência de qualquer disputa. Portanto, é forçar demais a barra enxergar na peça sobre o BC um ataque “desonesto e agressivo” contra Marina. Até porque a própria candidata utiliza o mesmo recurso. A capa do portal UOL de segunda-feira (15) exibia a seguinte manchete: “Dilma subirá preços após eleição, diz Marina”. Ou seja, campanha do medo na sua forma mais nítida.
Percebendo que a candidatura oposicionista tenta surfar na onda da vitimização, a campanha de Dilma tem tomado cuidados redobrados para não promover ataques pessoais à candidata. Obviamente que nas redes sociais o chorume corre solto por todos os lados. Nem Dilma nem Aécio nem Marina tem como controlar as ações dos ativistas e militantes que os apoiam. Mas pelo menos da parte do comando da campanha de Dilma, nada tem sido feito ou dito pela candidata, por Lula ou pelas lideranças dos partidos aliados que possa dar respaldo ao chororô exagerado de Marina e sua trupe.
Portanto, chorar e reclamar de ataques desmedidos quando o que se vê na campanha oficial são apenas divergências políticas e debate de propostas é um feitiço que pode se virar contra a feiticeira. Ao invés de angariar a solidariedade de parte expressiva do eleitorado, a candidata do PSB-Rede corre o risco de ser interpretada como alguém que não aguenta pressão, não tolera a divergência e não tem argumentos para defender as proprias ideias. Esse é, definitivamente, o perfil que os eleitores não querem ver em uma candidata presidencial.
* Cláudio Gonzalez é jornalista e editor-executivo da revista Princípios.
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