Por Fernando Borgonovi, no site Vermelho:
Resisti bravamente à tentação de emprestar do escritor Marcos Rey o título deste artigo e chamá-lo, ironicamente, de “Malditos Paulistas”. Decerto, seria inócuo para reverter o ranço conservador que ora campeia no estado, e injusto com quem não comunga dos ideais obscurantistas, vote ou não na esquerda.
Preferível, pois, tatear maneiras para mobilizar a militância e o pensamento progressista para conter o furor reacionário e avançar casas em locais onde tradicionalmente a esquerda tem apelo. Fazendo esta lição de casa, é possível obter votação razoável para Dilma por estas plagas e deixar que o Brasil real resolva a eleição – refiro-me ao povo em geral, que é trabalhador e civilizado; sente repulsa pelo racismo e o preconceito.
Neste particular, é preciso reconhecer que cometemos um pecado original ao partir da premissa, de certa maneira prepotente, de que existiria um piso de votos inamovível, que seria garantido pelas periferias e os mais pobres. Uma visão futebolística da política, do eleitor-torcedor, que se mostrou insuficiente neste primeiro tempo.
Vejamos, por exemplo, o caso paulistano.
Aécio venceu em 43 zonas eleitorais e Dilma em apenas 15. Pior: Dilma ficou atrás de Marina em 32 delas. Que ele vencesse na maioria, vá lá, mas o escândalo foi perder em regiões como Itaquera e Sapopemba, na zona leste (nem falo de São Miguel que hoje, graças a Lula/Dilma, já é bairro de classe média); ou em Campo Limpo, Capela do Socorro e Cidade Ademar, na zona sul. Quem conhece um pouco São Paulo e sua geografia do voto vai entender o que quero dizer. Além disso, Dilma venceu por pouca margem em redutos tradicionais, como o Itaim Paulista (10 mil votos de diferença para Aécio) e Grajaú (18 mil), entre outros.
É certo que a rejeição ao PT e figuras de proa da esquerda encontra eco na cidade, fruto principalmente da implacável e contínua perseguição imposta pela mídia e seus asseclas, aquilo que nosso Partido convencionou chamar de “consórcio oposicionista”. Mas não há tempo para chorar pitangas e, mesmo contra o inimigo poderoso, nosso campo tem por onde fazer melhor em São Paulo. O mesmo pode ser dito de grandes e populosos municípios da região metropolitana da capital, muitos dos quais administrados pelo nosso campo.
Como parece óbvio, todas as energias devem se voltar para os milhões de eleitores da vasta periferia paulistana. Parcela importante deles optou por Marina e pode voltar para Dilma nesta fase. Muitos, é verdade, foram de Aécio, na esteira da vitória do governador Alckmin – que agora não disputa diretamente -, mas contrapostos ao debate de projetos podem voltar para o lado original.
Esse é o voto a ser disputado, revertendo na parte da periferia em que deixamos a desejar no primeiro turno e “lavando a égua” nos redutos onde vencemos de pouco.
É preciso organizar a tropa, ocupar as periferias, mostrar o que está em jogo e quem é quem no jogo do bicho. Mostrar que Aécio é o candidato flash back anos 90, ao passo que Dilma representa a mudança que é o presente e o futuro do país. Na TV é com o João Santana, nas ruas é responsabilidade intransferível da militância.
Somos todos Nordeste
Nunca me esquecerei de um comício na Praça do Forró, em São Miguel, em que a Erundina perguntava para um povo em êxtase: “tem pescoço curto aí?” – em alusão aos milhões de nordestinos ou descendentes que vivem em SP - e amassa, orgulhosa, respondia: “teeeem”.
Pois é, minha gente, esse povo trabalhador a quem o país e São Paulo tanto devem tem sido alvo do preconceito elitista do sociólogo de Higienópolis e sua “massa cheirosa”. Esqueceram-se, como bem disse o presidente Lula na plenária desta quinta (9/10), que na solidão da urna, o mais sofisticado intelectual ou o mais rico financista tem o mesmo um voto que o agricultor do sertão nordestino ou a dona de casa de família simples. Champanhe francês e cachaça de alambique valem o mesmo, a diferença é que muito mais gente toma caninha.
Talvez FHC tenha nos dado outra eleição de presente.
Resisti bravamente à tentação de emprestar do escritor Marcos Rey o título deste artigo e chamá-lo, ironicamente, de “Malditos Paulistas”. Decerto, seria inócuo para reverter o ranço conservador que ora campeia no estado, e injusto com quem não comunga dos ideais obscurantistas, vote ou não na esquerda.
Preferível, pois, tatear maneiras para mobilizar a militância e o pensamento progressista para conter o furor reacionário e avançar casas em locais onde tradicionalmente a esquerda tem apelo. Fazendo esta lição de casa, é possível obter votação razoável para Dilma por estas plagas e deixar que o Brasil real resolva a eleição – refiro-me ao povo em geral, que é trabalhador e civilizado; sente repulsa pelo racismo e o preconceito.
Neste particular, é preciso reconhecer que cometemos um pecado original ao partir da premissa, de certa maneira prepotente, de que existiria um piso de votos inamovível, que seria garantido pelas periferias e os mais pobres. Uma visão futebolística da política, do eleitor-torcedor, que se mostrou insuficiente neste primeiro tempo.
Vejamos, por exemplo, o caso paulistano.
Aécio venceu em 43 zonas eleitorais e Dilma em apenas 15. Pior: Dilma ficou atrás de Marina em 32 delas. Que ele vencesse na maioria, vá lá, mas o escândalo foi perder em regiões como Itaquera e Sapopemba, na zona leste (nem falo de São Miguel que hoje, graças a Lula/Dilma, já é bairro de classe média); ou em Campo Limpo, Capela do Socorro e Cidade Ademar, na zona sul. Quem conhece um pouco São Paulo e sua geografia do voto vai entender o que quero dizer. Além disso, Dilma venceu por pouca margem em redutos tradicionais, como o Itaim Paulista (10 mil votos de diferença para Aécio) e Grajaú (18 mil), entre outros.
É certo que a rejeição ao PT e figuras de proa da esquerda encontra eco na cidade, fruto principalmente da implacável e contínua perseguição imposta pela mídia e seus asseclas, aquilo que nosso Partido convencionou chamar de “consórcio oposicionista”. Mas não há tempo para chorar pitangas e, mesmo contra o inimigo poderoso, nosso campo tem por onde fazer melhor em São Paulo. O mesmo pode ser dito de grandes e populosos municípios da região metropolitana da capital, muitos dos quais administrados pelo nosso campo.
Como parece óbvio, todas as energias devem se voltar para os milhões de eleitores da vasta periferia paulistana. Parcela importante deles optou por Marina e pode voltar para Dilma nesta fase. Muitos, é verdade, foram de Aécio, na esteira da vitória do governador Alckmin – que agora não disputa diretamente -, mas contrapostos ao debate de projetos podem voltar para o lado original.
Esse é o voto a ser disputado, revertendo na parte da periferia em que deixamos a desejar no primeiro turno e “lavando a égua” nos redutos onde vencemos de pouco.
É preciso organizar a tropa, ocupar as periferias, mostrar o que está em jogo e quem é quem no jogo do bicho. Mostrar que Aécio é o candidato flash back anos 90, ao passo que Dilma representa a mudança que é o presente e o futuro do país. Na TV é com o João Santana, nas ruas é responsabilidade intransferível da militância.
Somos todos Nordeste
Nunca me esquecerei de um comício na Praça do Forró, em São Miguel, em que a Erundina perguntava para um povo em êxtase: “tem pescoço curto aí?” – em alusão aos milhões de nordestinos ou descendentes que vivem em SP - e amassa, orgulhosa, respondia: “teeeem”.
Pois é, minha gente, esse povo trabalhador a quem o país e São Paulo tanto devem tem sido alvo do preconceito elitista do sociólogo de Higienópolis e sua “massa cheirosa”. Esqueceram-se, como bem disse o presidente Lula na plenária desta quinta (9/10), que na solidão da urna, o mais sofisticado intelectual ou o mais rico financista tem o mesmo um voto que o agricultor do sertão nordestino ou a dona de casa de família simples. Champanhe francês e cachaça de alambique valem o mesmo, a diferença é que muito mais gente toma caninha.
Talvez FHC tenha nos dado outra eleição de presente.
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