Por Ivan Longo, no site SPressoSP:
A frase que intitula a matéria, dita por Gilberto Maringoni (PSOL), resume bem o que foi o debate da TV Globo desta terça-feira (30) entre os candidatos ao governo do estado de São Paulo: marcado por constantes ataques ao atual governador em relação à sua responsabilidade sob o problema da água.
“Essa falta da água é uma das demonstrações da perversidade do governo do PSDB em São Paulo. As obras não saem do papel. Quem sofre com isso são os mais pobres”, afirmou o candidato petista, Alexandre Padilha (PT). Com Padilha e Maringoni, Paulo Skaf (PMDB) e Laercio Benko (PHS) travaram uma intensa artilharia contra o tucano pautada pela questão da água.
Gilberto Natalini (PV), passou a maior parte do tempo fazendo dobradinhas com Alckmin e falando sobre suas propostas em relação à sustentabilidade. Walter Ciglioni (PRTB), por sua vez, não se envolveu com intensidade em nenhum assunto a não ser quando saiu em defesa de Levy Fidelix, candidato à presidência pelo seu partido. Ciglioni justificou o discurso homofóbico de Fidelix no último debate da TV Record como sendo um ato de “liberdade de expressão”.
Financiamento suspeito
O debate começou com uma pergunta direta e clara de Maringoni para Alckmin: “Quero saber se as empresas Queiroz Galvão, CRM Almeida e AES financiam sua campanha. É um direito do cidadão saber. A resposta é simples: sim ou não”.
O tucano tergiversou, dizendo que no Brasil não há financiamento público de campanha, dando a oportunidade perfeita para o socialista chegar onde queria, no cartel. “O senhor não respondeu. Só a CRM Almeida colaborou com R$1 milhão para a sua campanha. O detalhe é que essas empresas são rés na Justiça por formação de cartel em obras do Metrô. Quero saber se o senhor acha isso certo”, questionou.
“O que o candidato está falando é mentira. O cartel foi formado por três empresas que o governo está processando˜, respondeu o tucano. O candidato do PSOl, no entanto, aproveitou outra fala sua para desconstruir a resposta de Alckmin. “Não falei mentiras. Os números e os dados estão na segunda parcial do TRE e foram divulgados amplamente pela imprensa”, afirmou.
Sabesp: “Chuva de dólares” e “seca de obras”
“O governador diz que é culpa de São Pedro, mas há 10 anos foi alertado sobre a ‘seca de obras’”, afirmou Padilha, referindo-se ao fato de que já faz uma década que técnicos da Sabesp alertaram o governo do estado sobre a necessidade de mais obras de captação de água. A fala foi a maneira encontrada pelo petista de atacar o atual governador através da dobradinha que fez com Benko, que concordou.
“Faltou investimento. 30% da água que a Sabesp produz é perdida nas tubulações. Só que o governo tucano vendeu a Sabesp na bolsa de Nova Iorque. Acabando com a distribuição de lucros na Sabesp vai sobrar dinheiro para investimentos. Temos que parar de fazer de chover dólares na bolsa de Nova Iorque”, completou.
Na oportunidade que teve, inclusive, Benko dirigiu a questão ao governador, perguntando se ele pretende parar com a distribuição de lucros da Sabesp na bolsa de Nova Iorque até o problema da água ser resolvido.
O tucano novamente tergiversou e disse que não falta água em São Paulo e que, nas poucas cidades em que há cortes, o sistema não é operado pela Sabesp.
“Quero lembrar que na capital falta água e o sistema é operado pela Sabesp. Quero saber da distribuição de lucros”, rebateu o candidato do PHS.
Alckmin, por sua vez, disse que a maior parte dos lucros da empresa vão para o próprio governo e enalteceu o fato da companhia ser uma Sociedade Anônima. “A Sabesp é uma grande empresa”, disse, adicionando depois que “não vai faltar água”e que já está em fase de obras a PPP de São Lourenço para ajudar a resolver o problema.
Paulo Skaf, em um outro momento, no entanto, desmentiu o governador. “Nosso problema não é falta de chuvas, é falta de obras. O governador falou de São Lourenço. O projeto de São Lourenço existe há 10 anos. Ele fala que não tem problema. A cada 3 trilhões de litros de água, 1 trilhão ficam nos buracos das tubulações “.
Corrupção: “Nas empresas isso raramente acontece”
Ex-presidente da Fiesp, Skaf, em uma pergunta para Padilha, mostrou de onde veio ao defender o empresariado gratuitamente. O candidato afirmou que “a corrupção está nos governos” mas que em empresas, mesmo as maiores, “isso raramente acontece”.
O petista aproveitou para contra-atacar e ainda cutucar o atual governador. “Só tem corrupção onde tem corruptor. Acontece na máquina pública porque vários empresários participam. Há 15 anos São Paulo convive com esquema de corrupção do Metrô e trem que diminuiu a velocidade das obras. A única forma de combater a corrupção é não jogar para debaixo do tapete”.
O tucano até tentou um pedido de resposta, que foi recusado pela emissora. Padilha completou: “Além de não punir a corrupção, indicou uma pessoa desse esquema de corrupção do Metrô e do trem pra ser conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Ou seja, colocou a raposa para tomar conta do galinheiro”, disse, se referindo a Robson Marinho.
Alckmin diz que PM tem a melhor corregedoria, mas não conhece nem ouvidor
Maringoni perguntou a Padilha o que ele vai fazer quanto a violência da PM paulista, que é uma das que mais mata no mundo. O petista afirmou que buscará fortalecer mecanismos que acabem com o abuso policial, como câmeras que filmem a atuação do agente, e lembrou ainda a recente morte de um camelô no bairro da Lapa, dando o exemplo de como há abusos na polícia administrada por Alckmin.
“Durante 20 anos o PSDB não puniu todos os abusos policiais. Vamos coibir qualquer tipo de abuso e violência. É inadmissível que no estado mais rico o jovem negro tenha 3 vezes mais chances de morrer do que um braco”, disse.
O tucano, na primeira oportunidade que teve, no entanto, defendeu a PM. Respondendo a uma pergunta de Benko sobre a questão das drogas, o candidato à reeleição enalteceu as prisões realizadas pela polícia e afirmou que os abusos são coibidos. “Aqui se combate, aqui se enfrenta. Nós prendemos no ano passado 168 mil pessoas, aqui a polícia trabalha. Quando foi dito que não há punição para mau policial, a PM tem uma das melhores corregedorias do país”, disse.
Matéria do SPressoSP do começo do mês, no entanto, revela que o ouvidor chefe da Polícia Militar, o órgão que repassa as denúncias para a corregedoria, sequer conhece o governado.
De acordo com a última pesquisa do Ibope, divulgada pouco antes do debate, Alckmin tem 45% das intenções de voto; 4 pontos a menos do que tinha no último estudo. Skaf e Padilha, por sua vez, cresceram e estão, agora, com 19% e 11%, respectivamente. Esses números seriam suficientes para o tucano faturar a corrida ao Palácio dos Bandeirantes no primeiro turno.
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