Por Breno Altman, em seu blog:
Ontem à noite, o comitê central do movimento pelo impeachment da presidente Dilma se reuniu através de teleconferência, com livre acesso ao público. Mais de cinco mil pessoas acompanharam, durante duas horas, o estranho debate.
A mesa era chefiada por um músico encantado em ser líder de massas e abençoada por um astrólogo que se arrisca como filósofo.
Lobão e Olavo de Carvalho encarnavam estes agitadores da fuzarca.
Eu morri de rir. Uma comédia. Caricaturas do volume-morto da política. Mistura de saudosismo da ditadura com fundamentalismo cristão, em uma versão patética.
Mas engana-se quem os achar inexpressivos ou inofensivos.
No dia 15 de novembro, a turma vai testar seus músculos mais uma vez. Convocaram outra jornada de mobilização.
Há um pedaço doente da sociedade brasileira, que progressivamente se deixa arrastar por narrativas como a desta gente.
Vale a pena observar como funciona sua dinâmica.
A oposição de direita se divide, hoje, entre duas alas: os bacharéis e os carniceiros.
Os bacharéis se organizam em partidos institucionais, disputam eleições, atuam prioritariamente através da imprensa e do parlamento.
Da velha tradição udenista, pelejam pelos interesses da oligarquia sempre em nome da democracia.
Tentam preservar modos civilizados, ainda que hipocritamente. São urubus atrás de carniça, mas não matam suas vítimas.
Esta é a tarefa dos carniceiros.
E são os carniceiros que estão tentando ocupar as ruas do país desde o término das eleições presidenciais.
Eles denunciam fraude eleitoral. Clamam pelo impeachment da presidente. Demandam a expulsão do PT da vida pública. Alguns se esgoelam por intervenção militar contra o governo de esquerda.
Nas redes sociais, esta patota chega a algumas centenas de milhares. Apenas uma pequena porção, no entanto, coloca o pé no asfalto para apoiar as sandices bradadas por seus gurus.
Os carniceiros fazem parte do ecossistema conservador. Há mais de dez anos estão integrados ao bloco político liderado pelo PSDB.
São sua banda de música e tropa de choque. Andavam escondidos, agora ganharam coragem para mostrar as garras em sociedade.
Os bacharéis se sentem, de quando em quando, incomodados com sua presença. Fedem a mofo. Mas os alimentam diuturnamente.
Bacharéis e carniceiros, aliás, estão sempre a dançar um minueto.
Os discursos e entrevistas dos tucanos contra o resultado eleitoral ou para desestabilizar o governo são cantigas que animam os carniceiros e os deixam à vontade para desfilar contra a democracia.
A simbiose entre ambos setores atingiu seu auge no segundo turno das eleições presidenciais.
Os bacharéis ficaram contentes por, finalmente, terem algo parecido com uma militância tucana de massa. E os carniceiros festejaram que podiam voltar ao salão de baile da aristocracia política.
Mas não é apenas o PSDB e seus aliados que servem de estufa para esta turma.
Os carniceiros encontram cada vez mais espaço na velha mídia. Sua principal representação político-cultural é um punhado de articulistas que organizam a narrativa e o ideário do reacionarismo.
As correntes de esquerda, particularmente o PT, achavam que o melhor caminho era trata-los como loucos e desprezá-los.
Vamos combinar que não foi uma boa solução.
Jamais os valores do conservadorismo mais retrógrado – racismo, preconceito social, discriminação regional, homofobia, machismo, individualismo – circularam com tanta desenvoltura no Brasil pós-ditadura.
O fato é que os demônios morais e as ideias político-econômicas dos carniceiros ganharam audiência nos últimos anos. Em parte, porque era do interesse dos bacharéis, por ser funcional a emergência de frações reacionárias mais aguerridas, capazes de mobilizar fatias das camadas médias.
Mas isto ocorreu também porque o petismo, para evitar o mau humor institucional e empresarial, preferiu cultura de governo baseada na baixa intensidade de enfrentamento político-ideológico.
Os carniceiros se sentiram livres, beneficiados pelo acolhimento dos bacharéis e a displicência da esquerda.
O pensamento da ultradireita, antes repugnado e inadmissível mesmo em boa parte dos meios conservadores de comunicação, reconquistou tribunas e abriu novas frentes de influência.
Seus defensores parecem ser ridículos, e efetivamente o são. Mas não foram poucos os palhaços que, de riso em riso, ganharam força para quebrar a coluna vertebral de regimes constitucionais.
A propósito, até quando as forças progressistas, a começar pelo PT, deixarão os carniceiros, protegidos pelos bacharéis, com a iniciativa de tomar as ruas que pertencem à democracia?
Ontem à noite, o comitê central do movimento pelo impeachment da presidente Dilma se reuniu através de teleconferência, com livre acesso ao público. Mais de cinco mil pessoas acompanharam, durante duas horas, o estranho debate.
A mesa era chefiada por um músico encantado em ser líder de massas e abençoada por um astrólogo que se arrisca como filósofo.
Lobão e Olavo de Carvalho encarnavam estes agitadores da fuzarca.
Eu morri de rir. Uma comédia. Caricaturas do volume-morto da política. Mistura de saudosismo da ditadura com fundamentalismo cristão, em uma versão patética.
Mas engana-se quem os achar inexpressivos ou inofensivos.
No dia 15 de novembro, a turma vai testar seus músculos mais uma vez. Convocaram outra jornada de mobilização.
Há um pedaço doente da sociedade brasileira, que progressivamente se deixa arrastar por narrativas como a desta gente.
Vale a pena observar como funciona sua dinâmica.
A oposição de direita se divide, hoje, entre duas alas: os bacharéis e os carniceiros.
Os bacharéis se organizam em partidos institucionais, disputam eleições, atuam prioritariamente através da imprensa e do parlamento.
Da velha tradição udenista, pelejam pelos interesses da oligarquia sempre em nome da democracia.
Tentam preservar modos civilizados, ainda que hipocritamente. São urubus atrás de carniça, mas não matam suas vítimas.
Esta é a tarefa dos carniceiros.
E são os carniceiros que estão tentando ocupar as ruas do país desde o término das eleições presidenciais.
Eles denunciam fraude eleitoral. Clamam pelo impeachment da presidente. Demandam a expulsão do PT da vida pública. Alguns se esgoelam por intervenção militar contra o governo de esquerda.
Nas redes sociais, esta patota chega a algumas centenas de milhares. Apenas uma pequena porção, no entanto, coloca o pé no asfalto para apoiar as sandices bradadas por seus gurus.
Os carniceiros fazem parte do ecossistema conservador. Há mais de dez anos estão integrados ao bloco político liderado pelo PSDB.
São sua banda de música e tropa de choque. Andavam escondidos, agora ganharam coragem para mostrar as garras em sociedade.
Os bacharéis se sentem, de quando em quando, incomodados com sua presença. Fedem a mofo. Mas os alimentam diuturnamente.
Bacharéis e carniceiros, aliás, estão sempre a dançar um minueto.
Os discursos e entrevistas dos tucanos contra o resultado eleitoral ou para desestabilizar o governo são cantigas que animam os carniceiros e os deixam à vontade para desfilar contra a democracia.
A simbiose entre ambos setores atingiu seu auge no segundo turno das eleições presidenciais.
Os bacharéis ficaram contentes por, finalmente, terem algo parecido com uma militância tucana de massa. E os carniceiros festejaram que podiam voltar ao salão de baile da aristocracia política.
Mas não é apenas o PSDB e seus aliados que servem de estufa para esta turma.
Os carniceiros encontram cada vez mais espaço na velha mídia. Sua principal representação político-cultural é um punhado de articulistas que organizam a narrativa e o ideário do reacionarismo.
As correntes de esquerda, particularmente o PT, achavam que o melhor caminho era trata-los como loucos e desprezá-los.
Vamos combinar que não foi uma boa solução.
Jamais os valores do conservadorismo mais retrógrado – racismo, preconceito social, discriminação regional, homofobia, machismo, individualismo – circularam com tanta desenvoltura no Brasil pós-ditadura.
O fato é que os demônios morais e as ideias político-econômicas dos carniceiros ganharam audiência nos últimos anos. Em parte, porque era do interesse dos bacharéis, por ser funcional a emergência de frações reacionárias mais aguerridas, capazes de mobilizar fatias das camadas médias.
Mas isto ocorreu também porque o petismo, para evitar o mau humor institucional e empresarial, preferiu cultura de governo baseada na baixa intensidade de enfrentamento político-ideológico.
Os carniceiros se sentiram livres, beneficiados pelo acolhimento dos bacharéis e a displicência da esquerda.
O pensamento da ultradireita, antes repugnado e inadmissível mesmo em boa parte dos meios conservadores de comunicação, reconquistou tribunas e abriu novas frentes de influência.
Seus defensores parecem ser ridículos, e efetivamente o são. Mas não foram poucos os palhaços que, de riso em riso, ganharam força para quebrar a coluna vertebral de regimes constitucionais.
A propósito, até quando as forças progressistas, a começar pelo PT, deixarão os carniceiros, protegidos pelos bacharéis, com a iniciativa de tomar as ruas que pertencem à democracia?
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