Os jornais de terça-feira (18/11) abrem uma perspectiva mais ampla para o caso de desvio de recursos da Petrobras, mas ainda se prendem aos fatos mais recentes. Alguns jornalistas começam timidamente a questionar as escolhas dos editores, fazendo chegar ao observador sinais de algum mal-estar nas redações por conta do direcionamento do noticiário, e percebe-se que o controle do viés informativo começa a ficar difícil.
Além da ampliação das denúncias, que agora alcançam os altos escalões de quase todas as grandes empreiteiras nacionais, a imprensa precisa lidar também com a suspeita de que a Petrobras não tem sido a única vítima do esquema e que a prática de preços combinados em troca de propina pode ter contaminado outros setores.
A postura oficial do governo federal, destacando responsabilidades individuais, cria uma situação inusitada, na qual os acusados são isolados em papéis específicos, embora se saiba que os recursos desviados têm relação com o financiamento de campanhas eleitorais.
O problema remanescente é o mesmo de outros escândalos: a insistência da mídia tradicional em manipular os dados vazados das investigações, o que faz com que o público seja informado apenas de parte da história. O protagonismo da mídia faz com que o jornalismo hegemônico se desloque da função mediadora para a de proponente de abordagens restritas e de ancoragem dos fatos que surgem fora da agenda institucional.
Assim, tudo acontece num ambiente fechado, onde a imprensa tenta controlar a temperatura dos debates.
Com uma perspectiva mais ampla, torna-se claro que todos os negócios do Estado, nas instâncias federal, estadual e municipal, são vulneráveis ao conluio com interesses privados. Desde a contratação de placas de trânsito, setor dominado por menos de meia dúzia de fornecedores, às grandes obras de infraestrutura e a projetos gigantescos do setor petroquímico, tudo parece sujeito ao jogo marcado em que os negociadores ganham e o Tesouro paga a conta.
Bombardeio de saturação
Segundo os jornais, tudo conflui para o sistema de financiamento de partidos políticos, e, com base nessa assertiva, nove entre dez analistas concluem que bastaria proibir doações de empresas para agremiações e candidatos que tudo se resolveria.
Acontece que, como no noticiário econômico, a imprensa fornece ao público fragmentos de informação que condicionam opiniões massivas sobre todos os assuntos e, como já se demonstrou, agentes públicos encarregados da investigação têm contribuído com vazamentos seletivos para compor o viés predominante. Mas quando ocorre uma saturação de informações sobre determinado tema, como no caso da Petrobras, nem mesmo o sistema fechado da mídia consegue direcionar a interpretação dos fatos.
Assim é que o bombardeio de notícias negativas sobre o envolvimento de partidos políticos com o esquema de propinas oferece ao poder Executivo a oportunidade de se apresentar como parte interessada em ver punidos todos os envolvidos. Para não dar recibo de seu partidarismo, os delegados federais apanhados em ativismo político são obrigados a ampliar o leque das acusações e aprofundar o período de apuração, o que permite vislumbrar a amplitude do escândalo ao longo dos anos.
O caso, aqui citado, de uma denúncia feita pelo falecido jornalista Paulo Francis, em 1997 (ver “Paulo Francis não morreu”), fica no ar como uma referência temporal: se a apuração não procurar os indícios apontados por Francis, fica-se com a impressão de que o ânimo investigatório tem cartas marcadas. Se o inquérito recuar no tempo para verificar se o polêmico comentarista tinha razão, o cenário muda completamente.
A presidente Dilma Rousseff parece ter apanhado essa oportunidade para condicionar a composição de seu futuro governo a nomes que ofereçam garantias de sair limpos de uma devassa dessa envergadura. Um resultado possível desse novo contexto é a imprensa perder o controle da agenda da corrupção.
Se o governo federal sair da posição defensiva e se apresentar à frente do processo, pode se posicionar como patrocinador de uma operação como a que reduziu a influência das máfias sobre os poderes públicos na Itália, a partir dos anos 1980. De quebra, pode ganhar apoio para uma reforma política que o Congresso aparentemente não quer fazer.
Além da ampliação das denúncias, que agora alcançam os altos escalões de quase todas as grandes empreiteiras nacionais, a imprensa precisa lidar também com a suspeita de que a Petrobras não tem sido a única vítima do esquema e que a prática de preços combinados em troca de propina pode ter contaminado outros setores.
A postura oficial do governo federal, destacando responsabilidades individuais, cria uma situação inusitada, na qual os acusados são isolados em papéis específicos, embora se saiba que os recursos desviados têm relação com o financiamento de campanhas eleitorais.
O problema remanescente é o mesmo de outros escândalos: a insistência da mídia tradicional em manipular os dados vazados das investigações, o que faz com que o público seja informado apenas de parte da história. O protagonismo da mídia faz com que o jornalismo hegemônico se desloque da função mediadora para a de proponente de abordagens restritas e de ancoragem dos fatos que surgem fora da agenda institucional.
Assim, tudo acontece num ambiente fechado, onde a imprensa tenta controlar a temperatura dos debates.
Com uma perspectiva mais ampla, torna-se claro que todos os negócios do Estado, nas instâncias federal, estadual e municipal, são vulneráveis ao conluio com interesses privados. Desde a contratação de placas de trânsito, setor dominado por menos de meia dúzia de fornecedores, às grandes obras de infraestrutura e a projetos gigantescos do setor petroquímico, tudo parece sujeito ao jogo marcado em que os negociadores ganham e o Tesouro paga a conta.
Bombardeio de saturação
Segundo os jornais, tudo conflui para o sistema de financiamento de partidos políticos, e, com base nessa assertiva, nove entre dez analistas concluem que bastaria proibir doações de empresas para agremiações e candidatos que tudo se resolveria.
Acontece que, como no noticiário econômico, a imprensa fornece ao público fragmentos de informação que condicionam opiniões massivas sobre todos os assuntos e, como já se demonstrou, agentes públicos encarregados da investigação têm contribuído com vazamentos seletivos para compor o viés predominante. Mas quando ocorre uma saturação de informações sobre determinado tema, como no caso da Petrobras, nem mesmo o sistema fechado da mídia consegue direcionar a interpretação dos fatos.
Assim é que o bombardeio de notícias negativas sobre o envolvimento de partidos políticos com o esquema de propinas oferece ao poder Executivo a oportunidade de se apresentar como parte interessada em ver punidos todos os envolvidos. Para não dar recibo de seu partidarismo, os delegados federais apanhados em ativismo político são obrigados a ampliar o leque das acusações e aprofundar o período de apuração, o que permite vislumbrar a amplitude do escândalo ao longo dos anos.
O caso, aqui citado, de uma denúncia feita pelo falecido jornalista Paulo Francis, em 1997 (ver “Paulo Francis não morreu”), fica no ar como uma referência temporal: se a apuração não procurar os indícios apontados por Francis, fica-se com a impressão de que o ânimo investigatório tem cartas marcadas. Se o inquérito recuar no tempo para verificar se o polêmico comentarista tinha razão, o cenário muda completamente.
A presidente Dilma Rousseff parece ter apanhado essa oportunidade para condicionar a composição de seu futuro governo a nomes que ofereçam garantias de sair limpos de uma devassa dessa envergadura. Um resultado possível desse novo contexto é a imprensa perder o controle da agenda da corrupção.
Se o governo federal sair da posição defensiva e se apresentar à frente do processo, pode se posicionar como patrocinador de uma operação como a que reduziu a influência das máfias sobre os poderes públicos na Itália, a partir dos anos 1980. De quebra, pode ganhar apoio para uma reforma política que o Congresso aparentemente não quer fazer.
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