Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:
Cara srta. Guevara [vice-diretora do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos],
Depois de ler sua troca de mensagens com o jornalista Amaury Ribeiro Jr., estou confuso.
O ICIJ escolheu apenas um investigador no Brasil, o muito respeitado jornalista Fernando Rodrigues, e apenas uma empresa de mídia, o UOL-Grupo Folha [para apurar e divulgar as contas do HSBC no casoSwissleaks].
Como estamos falando de mais de 8 mil clientes brasileiros do HSBC, qual será o critério para separar os “relevantes” dos “irrelevantes”?
Eles do UOL sabem antecipadamente quais nomes são de “laranjas” - como chamamos em português as pessoas que deixam usar seus nomes para esconder dinheiro sujo?
Quais são os critérios para priorizar este nome e não aquele outro? Fama?
Não faria mais sentido se o ICIJ tivesse escolhido parceiros múltiplos para a apuração no Brasil, de maneira a evitar os riscos sobre os quais Amaury Ribeiro Jr. alertou?
Por favor, siga a lógica: uma vez que o ICIJ nunca publicará a lista completa de clientes brasileiros do HSBC, como estaremos certos de que nomes não mencionados não escondem segredos sobre os quais a sociedade brasileira tem o direito de saber?
Tenha em mente que há muitos motivos para ceticismo em relação às corporações de mídia brasileiras.
Como o Repórteres Sem Fronteiras relatou, o Brasil é a “Terra dos 30 Berlusconis”. As famílias que controlam a mídia brasileira agem como um partido de oposição. Elas tem uma agenda política e a seguem em suas publicações, mesmo que isso implique em esconder informação.
Um exemplo?
Amaury Ribeiro Jr. escreveu um bestseller sobre as privatizações no Brasil chamado A Privataria Tucana.
Mas o livro foi considerado “não notícia” pela maior parte da mídia brasileira durante semanas. Depois que o livro se tornou um best seller, a mídia passou a dar atenção a ele, mas apenas para atacar o conteúdo.
Outro exemplo?
Foram blogueiros que noticiaram que as Organizações Globo, nosso grande conglomerado de mídia, haviam sido multadas em R$ 600 milhões por sonegar impostos na compra dos direitos de transmissão das Copas de 2002 e 2006.
De acordo com documentos oficiais, a operação foi feita com a criação de uma empresa fantasma nas ilhas Virgens Britânicas, notórias pela lavagem de dinheiro sujo.
Notícia, não? Não, de acordo com a maior parte da mídia brasileira. Outra vez, foram semanas até que a notícia saísse aqui ou ali.
Nos dois casos, o comportamento vergonhoso foi adotado pelos seus parceiros do UOL-Folha.
Nós, no Brasil, já não ficamos tão surpresos com tal comportamento.
As grandes empresas de mídia promoveram e se beneficiaram da ditadura militar que torturou, matou e “desapareceu” com brasileiros.
O Grupo Folha, aliás, teve alguns de seus veículos de distribuição usados por gente ligada à ditadura e emprestou um dos títulos, o da Folha da Tarde, para ser porta-voz da repressão.
Francamente, ficamos surpresos com a decisão do ICIJ de escolher um único parceiro para lidar com informação tão relevante para a sociedade brasileira, considerando o que acabamos de relatar.
Saudações,
Luiz Carlos Azenha
*****
Dear Ms. Guevara,
After reading your exchange with Mr. Ribeiro Jr., I’m confused.
ICIJ has chosen as it’s sole investigator in Brazil a very respected journalist, Fernando Rodrigues, and a sole media company, UOL-Grupo Folha.
Since we are talking about more than 8.000 HSBC client’s, how in the world will they find out which ones are “relevant”or “irrelevant”?
Do they know in advance, for example, which names might have been used as “laranjas” — in portuguese is how we call people that let their names be used to hide dirty money?
What are the criteria to prioritize this name here and not that one over there? Fame?
Wouldn’t make more sense to have multiple partners doing the work in Brazil, in order to avoid the risks that Amaury Ribeiro Jr. alerted you about?
Please, follow the logic: since ICIJ will never publish the full list of brazilian clients of HSBC, how will anyone be sure that the unpublished names don’t hide an important secret that Brazilian society has the right to know?
Bear in mind that there are plenty of motives to be sceptical about the brazilian media corporations.
As Reporters Without Borders has reported, Brazil is the land of the 30 Berlusconis. The families that control the Brazilian media act as an opposition party. They have a political agenda and follow that agenda on their publications even if it means hiding information.
Case in point?
Amaury Ribeiro Jr. wrote a best seller about the privatizations in Brazil, called A Privataria Tucana.
But it was considered NON NEWS by the brazilian media for weeks. AFTER it became hugely sucessful, it finally got coverage in the form of heavy criticism against it’s content.
One more example?
Bloggers broke the news that Globo Network, our huge media conglomerate, had been fined in over U$ 150 million for not paying taxes when it bought the rights for World Cup 2002-2006.
According to official documents, the operation was done with the set up of a fake company in the notorious money laundering British Virgin Islands.
Newsworthy? No, according to most of the Brazilian media. Again, it took weeks until it was mentioned here and there.
In both cases, the shameful behavior included your partners from UOL-Grupo Folha.
We, in Brazil, are not surprised by such behavior.
The big media companies are the same that promoted AND benefited from the military dictatorship that tortured, killed and “disappeared” Brazilians.
Grupo Folha, by the way, had some of its distribution vehicles used by people associated with the dictatorship. It gave one of it’s titles, Folha da Tarde, to be used by torturers to disseminate lies about political repression.
Frankly, it’s a surprise that ICIJ has chosen to embrace a sole Brazilian partner considering such History.
Best Regards,
Luiz Carlos Azenha
Cara srta. Guevara [vice-diretora do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos],
Depois de ler sua troca de mensagens com o jornalista Amaury Ribeiro Jr., estou confuso.
O ICIJ escolheu apenas um investigador no Brasil, o muito respeitado jornalista Fernando Rodrigues, e apenas uma empresa de mídia, o UOL-Grupo Folha [para apurar e divulgar as contas do HSBC no casoSwissleaks].
Como estamos falando de mais de 8 mil clientes brasileiros do HSBC, qual será o critério para separar os “relevantes” dos “irrelevantes”?
Eles do UOL sabem antecipadamente quais nomes são de “laranjas” - como chamamos em português as pessoas que deixam usar seus nomes para esconder dinheiro sujo?
Quais são os critérios para priorizar este nome e não aquele outro? Fama?
Não faria mais sentido se o ICIJ tivesse escolhido parceiros múltiplos para a apuração no Brasil, de maneira a evitar os riscos sobre os quais Amaury Ribeiro Jr. alertou?
Por favor, siga a lógica: uma vez que o ICIJ nunca publicará a lista completa de clientes brasileiros do HSBC, como estaremos certos de que nomes não mencionados não escondem segredos sobre os quais a sociedade brasileira tem o direito de saber?
Tenha em mente que há muitos motivos para ceticismo em relação às corporações de mídia brasileiras.
Como o Repórteres Sem Fronteiras relatou, o Brasil é a “Terra dos 30 Berlusconis”. As famílias que controlam a mídia brasileira agem como um partido de oposição. Elas tem uma agenda política e a seguem em suas publicações, mesmo que isso implique em esconder informação.
Um exemplo?
Amaury Ribeiro Jr. escreveu um bestseller sobre as privatizações no Brasil chamado A Privataria Tucana.
Mas o livro foi considerado “não notícia” pela maior parte da mídia brasileira durante semanas. Depois que o livro se tornou um best seller, a mídia passou a dar atenção a ele, mas apenas para atacar o conteúdo.
Outro exemplo?
Foram blogueiros que noticiaram que as Organizações Globo, nosso grande conglomerado de mídia, haviam sido multadas em R$ 600 milhões por sonegar impostos na compra dos direitos de transmissão das Copas de 2002 e 2006.
De acordo com documentos oficiais, a operação foi feita com a criação de uma empresa fantasma nas ilhas Virgens Britânicas, notórias pela lavagem de dinheiro sujo.
Notícia, não? Não, de acordo com a maior parte da mídia brasileira. Outra vez, foram semanas até que a notícia saísse aqui ou ali.
Nos dois casos, o comportamento vergonhoso foi adotado pelos seus parceiros do UOL-Folha.
Nós, no Brasil, já não ficamos tão surpresos com tal comportamento.
As grandes empresas de mídia promoveram e se beneficiaram da ditadura militar que torturou, matou e “desapareceu” com brasileiros.
O Grupo Folha, aliás, teve alguns de seus veículos de distribuição usados por gente ligada à ditadura e emprestou um dos títulos, o da Folha da Tarde, para ser porta-voz da repressão.
Francamente, ficamos surpresos com a decisão do ICIJ de escolher um único parceiro para lidar com informação tão relevante para a sociedade brasileira, considerando o que acabamos de relatar.
Saudações,
Luiz Carlos Azenha
*****
Dear Ms. Guevara,
After reading your exchange with Mr. Ribeiro Jr., I’m confused.
ICIJ has chosen as it’s sole investigator in Brazil a very respected journalist, Fernando Rodrigues, and a sole media company, UOL-Grupo Folha.
Since we are talking about more than 8.000 HSBC client’s, how in the world will they find out which ones are “relevant”or “irrelevant”?
Do they know in advance, for example, which names might have been used as “laranjas” — in portuguese is how we call people that let their names be used to hide dirty money?
What are the criteria to prioritize this name here and not that one over there? Fame?
Wouldn’t make more sense to have multiple partners doing the work in Brazil, in order to avoid the risks that Amaury Ribeiro Jr. alerted you about?
Please, follow the logic: since ICIJ will never publish the full list of brazilian clients of HSBC, how will anyone be sure that the unpublished names don’t hide an important secret that Brazilian society has the right to know?
Bear in mind that there are plenty of motives to be sceptical about the brazilian media corporations.
As Reporters Without Borders has reported, Brazil is the land of the 30 Berlusconis. The families that control the Brazilian media act as an opposition party. They have a political agenda and follow that agenda on their publications even if it means hiding information.
Case in point?
Amaury Ribeiro Jr. wrote a best seller about the privatizations in Brazil, called A Privataria Tucana.
But it was considered NON NEWS by the brazilian media for weeks. AFTER it became hugely sucessful, it finally got coverage in the form of heavy criticism against it’s content.
One more example?
Bloggers broke the news that Globo Network, our huge media conglomerate, had been fined in over U$ 150 million for not paying taxes when it bought the rights for World Cup 2002-2006.
According to official documents, the operation was done with the set up of a fake company in the notorious money laundering British Virgin Islands.
Newsworthy? No, according to most of the Brazilian media. Again, it took weeks until it was mentioned here and there.
In both cases, the shameful behavior included your partners from UOL-Grupo Folha.
We, in Brazil, are not surprised by such behavior.
The big media companies are the same that promoted AND benefited from the military dictatorship that tortured, killed and “disappeared” Brazilians.
Grupo Folha, by the way, had some of its distribution vehicles used by people associated with the dictatorship. It gave one of it’s titles, Folha da Tarde, to be used by torturers to disseminate lies about political repression.
Frankly, it’s a surprise that ICIJ has chosen to embrace a sole Brazilian partner considering such History.
Best Regards,
Luiz Carlos Azenha
1 comentários:
Vamos ver se os outros blogueiros sujos tomam essa iniciativa. Sabemos que não há coincidências e elas se desfarão somente com pressão.
Que tal um abaixo assinado para essa entidade?
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