Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Os habitantes das grandes cidades brasileiras são os maiores usuários de redes sociais como meio de acesso a informações. Esse é um dos achados de um estudo encomendado pelo Instituto Reuters, da Inglaterra, à empresa de pesquisas YouGov, intitulado “Relatório de Notícias Digitais 2015”.
Os brasileiros urbanos de renda alta lideram a crescente tendência mundial de migração para os meios digitais que produzem conteúdo jornalístico, em detrimento da mídia tradicional.
A Folha de S. Paulo traz na edição de terça-feira (23/6) uma reportagem curta sobre o assunto, mas o autor do texto selecionou um aspecto mais otimista, do ponto de vista do jornal, no qual se afirma que os brasileiros são mais afeitos a pagar por notícias online.
“Os consumidores do País lideraram nessa categoria (23%), superando os finlandeses (14%), que ficaram em segundo lugar”, diz o jornal paulista. Segundo essa interpretação, “um em cada quatro brasileiros pagaram (sic) para acessar notícias online no ano passado”.
A versão da Folha induz o leitor a engano, porque a pesquisa não se refere a toda a população brasileira, mas apenas aos mais ricos e conectados entre os habitantes das grandes cidades. Portanto, afirmar que 23% dos brasileiros pagaram para acessar informação nos meios digitais é errado.
A verdade é muito mais dolorosa para a mídia tradicional: uma das principais conclusões do estudo é que se acelerou em todo o mundo a preferência por obtenção de notícias em plataformas sociais e móveis.
O cidadão urbano de alta renda e usuário intenso das tecnologias digitais de informação e comunicação – fração da sociedade observada pela YouGov – adere rapidamente e massivamente a fontes de informações imediatas, que tenham sido de alguma forma avalizadas socialmente, e que possam ser acessadas a qualquer momento.
Mas, de modo geral, três quartos dos entrevistados (74%) ainda leem jornal de papel ou online pelo menos uma vez por semana, e 89% mantêm o hábito de se informar por emissoras tradicionais, no rádio, televisão ou internet.
O cenário global mostra a queda contínua da leitura e venda de jornais de papel na maioria dos países, ao mesmo tempo em que não se observa um aumento da disposição de pagar por notícias nos meios digitais. Na Inglaterra, apenas 6% dos cidadãos mais conectados aceitam pagar por informação jornalística em seus aparelhos de comunicação móvel ou nos cada vez menos usados computadores de mesa.
A influência das redes sociais
Entre os brasileiros, 23% dos entrevistados disseram ter pago por notícias online em algum momento no ano passado e 43% se declaram dispostos a repetir a prática no futuro. Em geral, homens com idade entre 25 e 34 anos são mais simpáticos à ideia de investir em conteúdo jornalístico no Brasil.
Também é considerável o hábito de compartilhar informações nas redes sociais no público consultado (47% do total), sendo mais acentuado entre as mulheres (49%) e pessoas com mais de 55 anos (52%).
As marcas online mais valorizadas pelos brasileiros, segundo a pesquisa, são o portal G1, do grupo Globo, com 38% da audiência, seguido pelo UOL, do grupo Folha, com 34%, e R7, do grupo Record, com 31%. O portal do jornal O Estado de S.Paulo, com 12% da preferência, é a 13ª marca mais apreciada, entre as 16 citadas, ficando acima apenas do iG, CNN e BBC.
Nessa vanguarda de usuários mais intensos de mídias digitais, as mídias tradicionais apresentam um quadro curioso: as mais citadas são a GloboNews (50%), o Jornal do SBT (40%), a Record News e BandNews (ambas com 33%).
Jornais de papel, como a Folha de S. Paulo (24%) e O Estado de S. Paulo (17%) estão entre os menos citados. As marcas da Editora Abril, como a revista Veja, não são lembradas.
Um aspecto da pesquisa que as empresas de comunicação poderiam comemorar é a questão da confiança: nada menos do que 62% dos cidadãos de renda mais alta disseram acreditar na mídia informativa em geral, e 70% declaram confiar nas suas fontes prediletas. Mas o cruzamento dos dados mostra que há uma forte influência das interações sociais nessa confiança, ou seja, o compartilhamento das informações nas redes sociais – formadas por grupos muito homogêneos – funciona como aval para essa credibilidade.
Os brasileiros não apenas aderiram fortemente ao WhatsApp, como são os maiores usuários do Facebook, e gastam nas redes sociais 60% mais de tempo do que a média mundial. Portanto, a confiança no noticiário é fortemente consolidada pelo aval dos grupos de relacionamento.
Os dados originais da pesquisa podem ser acessados, em inglês, no site do Instituto Reuters (ver aqui).
Os brasileiros urbanos de renda alta lideram a crescente tendência mundial de migração para os meios digitais que produzem conteúdo jornalístico, em detrimento da mídia tradicional.
A Folha de S. Paulo traz na edição de terça-feira (23/6) uma reportagem curta sobre o assunto, mas o autor do texto selecionou um aspecto mais otimista, do ponto de vista do jornal, no qual se afirma que os brasileiros são mais afeitos a pagar por notícias online.
“Os consumidores do País lideraram nessa categoria (23%), superando os finlandeses (14%), que ficaram em segundo lugar”, diz o jornal paulista. Segundo essa interpretação, “um em cada quatro brasileiros pagaram (sic) para acessar notícias online no ano passado”.
A versão da Folha induz o leitor a engano, porque a pesquisa não se refere a toda a população brasileira, mas apenas aos mais ricos e conectados entre os habitantes das grandes cidades. Portanto, afirmar que 23% dos brasileiros pagaram para acessar informação nos meios digitais é errado.
A verdade é muito mais dolorosa para a mídia tradicional: uma das principais conclusões do estudo é que se acelerou em todo o mundo a preferência por obtenção de notícias em plataformas sociais e móveis.
O cidadão urbano de alta renda e usuário intenso das tecnologias digitais de informação e comunicação – fração da sociedade observada pela YouGov – adere rapidamente e massivamente a fontes de informações imediatas, que tenham sido de alguma forma avalizadas socialmente, e que possam ser acessadas a qualquer momento.
Mas, de modo geral, três quartos dos entrevistados (74%) ainda leem jornal de papel ou online pelo menos uma vez por semana, e 89% mantêm o hábito de se informar por emissoras tradicionais, no rádio, televisão ou internet.
O cenário global mostra a queda contínua da leitura e venda de jornais de papel na maioria dos países, ao mesmo tempo em que não se observa um aumento da disposição de pagar por notícias nos meios digitais. Na Inglaterra, apenas 6% dos cidadãos mais conectados aceitam pagar por informação jornalística em seus aparelhos de comunicação móvel ou nos cada vez menos usados computadores de mesa.
A influência das redes sociais
Entre os brasileiros, 23% dos entrevistados disseram ter pago por notícias online em algum momento no ano passado e 43% se declaram dispostos a repetir a prática no futuro. Em geral, homens com idade entre 25 e 34 anos são mais simpáticos à ideia de investir em conteúdo jornalístico no Brasil.
Também é considerável o hábito de compartilhar informações nas redes sociais no público consultado (47% do total), sendo mais acentuado entre as mulheres (49%) e pessoas com mais de 55 anos (52%).
As marcas online mais valorizadas pelos brasileiros, segundo a pesquisa, são o portal G1, do grupo Globo, com 38% da audiência, seguido pelo UOL, do grupo Folha, com 34%, e R7, do grupo Record, com 31%. O portal do jornal O Estado de S.Paulo, com 12% da preferência, é a 13ª marca mais apreciada, entre as 16 citadas, ficando acima apenas do iG, CNN e BBC.
Nessa vanguarda de usuários mais intensos de mídias digitais, as mídias tradicionais apresentam um quadro curioso: as mais citadas são a GloboNews (50%), o Jornal do SBT (40%), a Record News e BandNews (ambas com 33%).
Jornais de papel, como a Folha de S. Paulo (24%) e O Estado de S. Paulo (17%) estão entre os menos citados. As marcas da Editora Abril, como a revista Veja, não são lembradas.
Um aspecto da pesquisa que as empresas de comunicação poderiam comemorar é a questão da confiança: nada menos do que 62% dos cidadãos de renda mais alta disseram acreditar na mídia informativa em geral, e 70% declaram confiar nas suas fontes prediletas. Mas o cruzamento dos dados mostra que há uma forte influência das interações sociais nessa confiança, ou seja, o compartilhamento das informações nas redes sociais – formadas por grupos muito homogêneos – funciona como aval para essa credibilidade.
Os brasileiros não apenas aderiram fortemente ao WhatsApp, como são os maiores usuários do Facebook, e gastam nas redes sociais 60% mais de tempo do que a média mundial. Portanto, a confiança no noticiário é fortemente consolidada pelo aval dos grupos de relacionamento.
Os dados originais da pesquisa podem ser acessados, em inglês, no site do Instituto Reuters (ver aqui).
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