Por Vinicius Wu, no site da CTB:
Belém do Pará, 16 de Setembro de 2015, uma quarta-feira. Dia útil e quente na capital paraense. Quase setecentas pessoas, voluntariamente, se reúnem para debater o futuro da gestão cultural no Brasil e a eleição do novo Conselho Nacional de Política Cultural, CNPC, num evento pouco divulgado, diga-se de passagem. No mesmo dia, a quase dois mil quilômetros dali, outras trezentas pessoas estiveram reunidas, com o mesmo propósito, em Goiânia.
São apenas dois exemplos da silenciosa força de mobilização social da cultura brasileira. Encontros assim, estão ocorrendo em todos os estados brasileiros. Mais de 25 mil pessoas já se mobilizaram em espaços presenciais ou por meio digital nas eleições do CNPC. Uma energia que a política tradicional ainda não foi capaz de compreender. Em tempos de crise, de intolerância e ausência de diálogo, talvez seja oportuno olhar, com um pouco mais de atenção, para esse rico e vigoroso processo.
A capacidade de mobilização social da cultura é algo singular. Uma diversidade caótica reúne as mais diferentes formas de ativismo em torno de agendas que, raramente, se encerram no círculo, ainda precário, das políticas culturais. Os movimentos culturais debatem as cidades, o meio ambiente, a soberania alimentar, a mobilidade urbana, educação, saúde, habitação, dentre inúmeros outros temas. Há consciência organizada, transformadora.
Essa energia foi impulsionada, em especial, a partir do ano de 2003, quando a gestão de Gilberto Gil e Juca Ferreira deu início a uma das políticas públicas mais inovadoras e desafiadoras que o Estado brasileiro produziu nos últimos anos, que foram os pontos de cultura.
No contexto do processo de inclusão social massivo, iniciado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, os pontos de cultura contribuíram para a profunda mudança verificada no tecido social brasileiro na última década. Eles deram voz à diversidade cultural das periferias brasileiras, ao mesmo tempo, em que tocaram, sensivelmente, um Brasil esquecido, profundo, que sobrevive nas manifestações culturais tradicionais, historicamente marginalizadas e ignoradas pelas políticas públicas desenvolvidas pelo Estado brasileiro.
Os pontos deixaram marcas profundas e se associaram a outras formas de manifestação e organização da cultura brasileira. Há um movimento social das culturas vigoroso, persistente, que vai muito além dos pontos e que se renova, cresce e se reinventa, apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas por essa gente insistente, que realiza a incrível e esplendorosa diversidade cultural do povo brasileiro.
O que ocorreu em Belém e Goiânia não é um raio em céu azul. Acontece todos os meses, semanas, dias. Desde o início do ano, Juca Ferreira e sua equipe percorrem o país realizando caravanas, debates, lançamentos de políticas e iniciativas culturais. Dialogam de maneira aberta, sem intermediários, ouvindo críticas, proposições, mas jamais insultos e agressões. Alias, cabe perguntar: quantas áreas de atuação do poder público podem fazer algo semelhante atualmente?
Processos de participação social são bem sucedidos quando os gestores públicos perdem o controle sobre os mesmos. Participação cosmética, ensaiada, pode até render boas fotografias e matérias na imprensa. Mas é o diálogo aberto, franco e direto que pode gerar processos transformadores.
As eleições do CNPC fugiram ao controle do Ministério da Cultura. E é assim que gostaríamos que fosse. Claro, que há inúmeras imperfeições no processo. Mas, esse aprendizado é o que nos permite – e motiva – a seguir adiante. E somente assim é que podemos dar sequência à longa e sinuosa caminhada até a consolidação de uma república verdadeiramente democrática por essas terras.
A política tradicional ainda não descobriu a força mobilizadora da cultura. A esquerda e o campo progressista também não. Seria bom se o fizessem, ainda mais num momento de crise como o atual. Talvez assim, ao invés de se especular a redução do espaço da cultura, pudéssemos, pelo contrário, ampliar sua esfera de atuação e abrangência, compreendendo a afirmação dos direitos culturais enquanto elemento estratégico na afirmação plena da cidadania e da própria democracia.
* Vinicius Wu é secretário de Articulação Institucional do Ministério da Cultura.
São apenas dois exemplos da silenciosa força de mobilização social da cultura brasileira. Encontros assim, estão ocorrendo em todos os estados brasileiros. Mais de 25 mil pessoas já se mobilizaram em espaços presenciais ou por meio digital nas eleições do CNPC. Uma energia que a política tradicional ainda não foi capaz de compreender. Em tempos de crise, de intolerância e ausência de diálogo, talvez seja oportuno olhar, com um pouco mais de atenção, para esse rico e vigoroso processo.
A capacidade de mobilização social da cultura é algo singular. Uma diversidade caótica reúne as mais diferentes formas de ativismo em torno de agendas que, raramente, se encerram no círculo, ainda precário, das políticas culturais. Os movimentos culturais debatem as cidades, o meio ambiente, a soberania alimentar, a mobilidade urbana, educação, saúde, habitação, dentre inúmeros outros temas. Há consciência organizada, transformadora.
Essa energia foi impulsionada, em especial, a partir do ano de 2003, quando a gestão de Gilberto Gil e Juca Ferreira deu início a uma das políticas públicas mais inovadoras e desafiadoras que o Estado brasileiro produziu nos últimos anos, que foram os pontos de cultura.
No contexto do processo de inclusão social massivo, iniciado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, os pontos de cultura contribuíram para a profunda mudança verificada no tecido social brasileiro na última década. Eles deram voz à diversidade cultural das periferias brasileiras, ao mesmo tempo, em que tocaram, sensivelmente, um Brasil esquecido, profundo, que sobrevive nas manifestações culturais tradicionais, historicamente marginalizadas e ignoradas pelas políticas públicas desenvolvidas pelo Estado brasileiro.
Os pontos deixaram marcas profundas e se associaram a outras formas de manifestação e organização da cultura brasileira. Há um movimento social das culturas vigoroso, persistente, que vai muito além dos pontos e que se renova, cresce e se reinventa, apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas por essa gente insistente, que realiza a incrível e esplendorosa diversidade cultural do povo brasileiro.
O que ocorreu em Belém e Goiânia não é um raio em céu azul. Acontece todos os meses, semanas, dias. Desde o início do ano, Juca Ferreira e sua equipe percorrem o país realizando caravanas, debates, lançamentos de políticas e iniciativas culturais. Dialogam de maneira aberta, sem intermediários, ouvindo críticas, proposições, mas jamais insultos e agressões. Alias, cabe perguntar: quantas áreas de atuação do poder público podem fazer algo semelhante atualmente?
Processos de participação social são bem sucedidos quando os gestores públicos perdem o controle sobre os mesmos. Participação cosmética, ensaiada, pode até render boas fotografias e matérias na imprensa. Mas é o diálogo aberto, franco e direto que pode gerar processos transformadores.
As eleições do CNPC fugiram ao controle do Ministério da Cultura. E é assim que gostaríamos que fosse. Claro, que há inúmeras imperfeições no processo. Mas, esse aprendizado é o que nos permite – e motiva – a seguir adiante. E somente assim é que podemos dar sequência à longa e sinuosa caminhada até a consolidação de uma república verdadeiramente democrática por essas terras.
A política tradicional ainda não descobriu a força mobilizadora da cultura. A esquerda e o campo progressista também não. Seria bom se o fizessem, ainda mais num momento de crise como o atual. Talvez assim, ao invés de se especular a redução do espaço da cultura, pudéssemos, pelo contrário, ampliar sua esfera de atuação e abrangência, compreendendo a afirmação dos direitos culturais enquanto elemento estratégico na afirmação plena da cidadania e da própria democracia.
* Vinicius Wu é secretário de Articulação Institucional do Ministério da Cultura.
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