Por Dayane Santos, no site Vermelho:
O coletivo Memória, Verdade, Justiça e Reparação apresenta denúncia contra a Volkswagen no Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo, nesta terça-feira (22), por colaboração e apoio à repressão durante a ditadura militar de 1964.
O coletivo Memória, Verdade, Justiça e Reparação apresenta denúncia contra a Volkswagen no Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo, nesta terça-feira (22), por colaboração e apoio à repressão durante a ditadura militar de 1964.
“Será a primeira vez que o Ministério Público vai aceitar representação dos trabalhadores que foram perseguidos contra o ato autoritário da Volks. Não é uma ação contra a empresa, mas contra o ato autoritário”, enfatizou João Batista Lemos, atual presidente estadual do PCdoB do Rio de Janeiro, que foi uma das vítimas dessa política de perseguição.
Lemos, que foi ajudante de produção na Volkswagen e na Mercedez, estará com integrantes de centrais sindicais, movimentos sociais e outras entidades para apresentar documentos e testemunhos que comprovam a participação da montadora em casos de tortura e violação dos direitos dos trabalhadores.
Batista Lemos, que também é secretário de Relações Internacionais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), relatou, em entrevista aoPortal Vermelho, como era o clima de tensão e opressão vivido pelos trabalhadores dentro e fora da fábrica naquele período.
Greve no ABC
Ele lembra que depois de participar de uma grande assembleia da categoria, ao retornar à fábrica foi recebido por dois guardas que o levaram para o departamento de recursos humanos da empresa.
“Entrei no vestiário para colocar meu uniforme. Mas dois guardas me esperavam em frente ao meu armário para comunicar a minha demissão. Fui escoltado até o setor de rescisão onde me disseram que estava demitido”, conta Lemos, que foi escoltado até a saída da empresa.
Ele lembra que depois de participar de uma grande assembleia da categoria, ao retornar à fábrica foi recebido por dois guardas que o levaram para o departamento de recursos humanos da empresa.
“Entrei no vestiário para colocar meu uniforme. Mas dois guardas me esperavam em frente ao meu armário para comunicar a minha demissão. Fui escoltado até o setor de rescisão onde me disseram que estava demitido”, conta Lemos, que foi escoltado até a saída da empresa.
“Fui demitido na sexta, após uma assembleia na Vila Euclides. No sábado, o comando de greve debateu os detalhes da greve que iniciava na segunda e incluímos a minha reintegração na pauta de negociação. Ninguém contava que a greve iria durar 41 dias e que o sindicato ia sofrer intervenção”, resgata.
A demissão foi resultado da forte mobilização dos trabalhadores do ABC, encabeçada pelo então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva. Lemos recorda que a comissão de mobilização, dirigida por Lula, antevendo o endurecimento da repressão, decidiu criar a Associação Beneficente Cultural dos Metalúrgicos do ABC, uma entidade que substituiu o sindicato durante a intervenção da ditadura.
Sindicato sob intervenção
“Fui indicado para participar dessa associação que iria substituir a diretoria caso as lideranças fossem presas”, afirmou Lemos, enfatizando que a medida foi acertada, pois o sindicato ficou sob intervenção, com dezenas de lideranças presas, inclusive o Lula. “Nós, com a prisão do Lula, assumimos o comando da greve, até o retorno.”
“Quando fui pegar o meu processo de anistia verificamos que a Volks mandou uma lista de 30 nomes de ativistas e lideranças da própria empresa para o DOPS. Com endereço e com todos os nossos dados”, declarou Lemos, destacando que uma grande corporação como a Volkswagen precisa reconhecer os erros, pedir desculpas aos trabalhadores e ao povo brasileiro. Lemos recebeu anistia em 2013.
“A Volks estava mancomunada com a ditadura. Fez o trabalho de polícia política da ditadura, além de financiar a ditadura. Isso evidencia ainda que havia um corte de classe na ditadura. Esta lista me deu condições de provar que a minha demissão foi fruto de uma perseguição política. Consegui uma anistia porque o Estado brasileiro, com a Comissão da Verdade, com a democracia conquistada a duras penas, e a eleição de Lula nos deram essa condição de fazer esse processo de reparação”, salientou.
Reparação
"Por isso, não é somente o Estado que deve desculpas. É necessário que todos aqueles que participaram e contribuíram com aquele processo também façam a reparação. Sou testemunha viva de que muitos trabalhadores saíram algemados de dentro da Volks diretamente para os porões do DOPS, como foi o caso do Amauri”, frisa Lemos se referindo ao operário militante do PCB.
E conclui: “Estamos vivendo atualmente uma dura luta de classes que se resume na defesa da legalidade, do Estado Democrático de Direito e do legítimo mandato da presidenta Dilma, contra aqueles que pretendem um golpe. Que querem a volta do neoliberalismo para desregulamentar o trabalho, ampliar os interesses do capital financeiro em detrimento dos interesses do povo brasileiro”.
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