Por Helena Sthephanowitz, na Rede Brasil Atual:
Recentemente, a revista Piauí antecipou trechos dos livros de memórias de Fernando Henrique Cardoso em seus anos na presidência, chamados "Diários da Presidência", onde o ex-presidente praticamente fez uma "delação" atingindo o atual vice-governador do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles (PP), primo do senador Aécio Neves (PSBD-MG).
Os "Diários da Presidência" são quatro volumes da transcrição de 44 fitas cassetes gravadas entre 1995 e 2002 por FHC registrando o dia a dia dos bastidores do poder, como em um diário.
FHC conta que no dia 23 de março de 1996 recusou uma indicação feita pelo então deputado Francisco Dornelles em nome da bancada do Rio de Janeiro. Tratava-se de nomear o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), diretor comercial da Petrobras. “Na verdade, o que eles (deputados do Rio) querem é nomear o Eduardo Cunha diretor comercial da Petrobras! Imagina! O Eduardo Cunha foi presidente da Telerj, nós o tiramos de lá no tempo de Itamar (Franco, ex-presidente da República) porque ele tinha trapalhadas, ele veio da época do Collor. Eu fiz sentir que conhecia a pessoa e que sabia que havia resistência, que eles estavam atribuindo ao Eduardo Jorge; eu disse que não era ele e que há, sim, problemas com esse nome. Enfim, não cedemos à nomeação", escreveu o ex-presidente.
Apesar da precisão da data citada por FHC, os envolvidos negam. Cunha disse que se houve a indicação foi sem seu conhecimento. Ele também já negou ter contas na Suíça. Dornelles também negou: “Tenho certeza que nunca fiz essa indicação. Não por Eduardo Cunha, gosto muito dele e o considero muito competente. Mas nunca fiz qualquer indicação para a Petrobras. Minha relação com a Petrobras era a mesma relação entre a Inglaterra e a Argentina na época da guerra das Malvinas. Eu não tinha nenhuma relação com a Petrobras, nem nesta época, nem antes, nem depois, nem nunca. Eu poderia até fazer indicação para Furnas, por exemplo, mas, para a Petrobras, nunca”.
A citação a Furnas parece até recado cifrado para FHC não arranjar-lhe complicações no caso da Operação Lava Jato.
Dornelles, já octogenário, é testemunha de diversos episódios políticos nos últimos anos.
Na ditadura foi secretário da Receita Federal. No governo Sarney foi ministro da Fazenda e nomeou o jovem primo de 25 anos, Aécio Neves, diretor de loterias da Caixa Econômica Federal. Elegeu-se deputado em 1986 pelo PFL, mas desde 1993 migrou para o PDS de Paulo Maluf onde permanece até hoje, acompanhando as sucessivas mudanças de nome da sigla até chegar ao atual PP.
Não emplacou Eduardo Cunha na diretoria da Petrobras durante o governo FHC, mas tornou-se ministro no governo tucano. Primeiro da Indústria, Comércio e Turismo (1996-1998) e depois, do Trabalho (1999-2002).
Em 2003, integrava a bancada de deputados do PPB (antigo nome do atual PP) na Câmara dos Deputados, ao lado de Eduardo Cunha – que logo depois mudou-se para o PMDB – e José Janene. Em 2004, integrou a bancada do PP que impôs a nomeação de Paulo Roberto Costa para a diretoria da Petrobras.
Em 2005, foi dos poucos parlamentares que não abandonaram Severino Cavalcanti, seu correligionário que chegou à presidência da Câmara, mas caiu em desgraça por denúncia de receber propinas para alugar um restaurante da Casa. Antes desse episódio, Severino tentou indicar Djalma Rodrigues para a "diretoria que fura poço" da Petrobras, sem sucesso. Paulo Roberto Costa e Rodrigues trabalharam juntos até o ano de 2000 na extinta Gaspetro, subsidiária que cuidava da área de gás no governo FHC, e na TBG, empresa que administra o gasoduto Brasil-Bolívia. A intimidade dos dois com políticos do PP é indicativo da necessidade de investigar melhor os primórdios deste relacionamento, antes de 2003.
Em 2006, Dornelles foi eleito senador pelo Rio de Janeiro e a partir de 2007 presidiu o PP até 2013, época em que o doleiro Alberto Youssef diz ter sido o "tesoureiro" informal do partido.
Nas eleições de 2014 foi um dos articuladores da chapa "Aezão" no Rio de Janeiro, pregando o voto em Aécio para a presidência e em Pezão (PMDB) para governador, do qual ele é vice.
Com todo esse currículo, tendo visto e convivido com tantos escândalos, é no mínimo estranho que não tenha sido chamado como testemunha pela força-tarefa da investigação da Lava Jato. Pelo menos para esclarecer como funcionava o PP quando Dornelles era presidente e Youssef dizia ser uma espécie de tesoureiro informal. E também para esclarecer os critérios da bancada de deputados para escolha tanto Paulo Roberto Costa como Djalma Rodrigues como indicados a cargos de confiança.
Ou será que, por não ser petista, e por ser primo de Aécio, "não vem ao caso" ouvi-lo?
Os "Diários da Presidência" são quatro volumes da transcrição de 44 fitas cassetes gravadas entre 1995 e 2002 por FHC registrando o dia a dia dos bastidores do poder, como em um diário.
FHC conta que no dia 23 de março de 1996 recusou uma indicação feita pelo então deputado Francisco Dornelles em nome da bancada do Rio de Janeiro. Tratava-se de nomear o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), diretor comercial da Petrobras. “Na verdade, o que eles (deputados do Rio) querem é nomear o Eduardo Cunha diretor comercial da Petrobras! Imagina! O Eduardo Cunha foi presidente da Telerj, nós o tiramos de lá no tempo de Itamar (Franco, ex-presidente da República) porque ele tinha trapalhadas, ele veio da época do Collor. Eu fiz sentir que conhecia a pessoa e que sabia que havia resistência, que eles estavam atribuindo ao Eduardo Jorge; eu disse que não era ele e que há, sim, problemas com esse nome. Enfim, não cedemos à nomeação", escreveu o ex-presidente.
Apesar da precisão da data citada por FHC, os envolvidos negam. Cunha disse que se houve a indicação foi sem seu conhecimento. Ele também já negou ter contas na Suíça. Dornelles também negou: “Tenho certeza que nunca fiz essa indicação. Não por Eduardo Cunha, gosto muito dele e o considero muito competente. Mas nunca fiz qualquer indicação para a Petrobras. Minha relação com a Petrobras era a mesma relação entre a Inglaterra e a Argentina na época da guerra das Malvinas. Eu não tinha nenhuma relação com a Petrobras, nem nesta época, nem antes, nem depois, nem nunca. Eu poderia até fazer indicação para Furnas, por exemplo, mas, para a Petrobras, nunca”.
A citação a Furnas parece até recado cifrado para FHC não arranjar-lhe complicações no caso da Operação Lava Jato.
Dornelles, já octogenário, é testemunha de diversos episódios políticos nos últimos anos.
Na ditadura foi secretário da Receita Federal. No governo Sarney foi ministro da Fazenda e nomeou o jovem primo de 25 anos, Aécio Neves, diretor de loterias da Caixa Econômica Federal. Elegeu-se deputado em 1986 pelo PFL, mas desde 1993 migrou para o PDS de Paulo Maluf onde permanece até hoje, acompanhando as sucessivas mudanças de nome da sigla até chegar ao atual PP.
Não emplacou Eduardo Cunha na diretoria da Petrobras durante o governo FHC, mas tornou-se ministro no governo tucano. Primeiro da Indústria, Comércio e Turismo (1996-1998) e depois, do Trabalho (1999-2002).
Em 2003, integrava a bancada de deputados do PPB (antigo nome do atual PP) na Câmara dos Deputados, ao lado de Eduardo Cunha – que logo depois mudou-se para o PMDB – e José Janene. Em 2004, integrou a bancada do PP que impôs a nomeação de Paulo Roberto Costa para a diretoria da Petrobras.
Em 2005, foi dos poucos parlamentares que não abandonaram Severino Cavalcanti, seu correligionário que chegou à presidência da Câmara, mas caiu em desgraça por denúncia de receber propinas para alugar um restaurante da Casa. Antes desse episódio, Severino tentou indicar Djalma Rodrigues para a "diretoria que fura poço" da Petrobras, sem sucesso. Paulo Roberto Costa e Rodrigues trabalharam juntos até o ano de 2000 na extinta Gaspetro, subsidiária que cuidava da área de gás no governo FHC, e na TBG, empresa que administra o gasoduto Brasil-Bolívia. A intimidade dos dois com políticos do PP é indicativo da necessidade de investigar melhor os primórdios deste relacionamento, antes de 2003.
Em 2006, Dornelles foi eleito senador pelo Rio de Janeiro e a partir de 2007 presidiu o PP até 2013, época em que o doleiro Alberto Youssef diz ter sido o "tesoureiro" informal do partido.
Nas eleições de 2014 foi um dos articuladores da chapa "Aezão" no Rio de Janeiro, pregando o voto em Aécio para a presidência e em Pezão (PMDB) para governador, do qual ele é vice.
Com todo esse currículo, tendo visto e convivido com tantos escândalos, é no mínimo estranho que não tenha sido chamado como testemunha pela força-tarefa da investigação da Lava Jato. Pelo menos para esclarecer como funcionava o PP quando Dornelles era presidente e Youssef dizia ser uma espécie de tesoureiro informal. E também para esclarecer os critérios da bancada de deputados para escolha tanto Paulo Roberto Costa como Djalma Rodrigues como indicados a cargos de confiança.
Ou será que, por não ser petista, e por ser primo de Aécio, "não vem ao caso" ouvi-lo?
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